Antes de tudo, eis a pergunta, inevitável e talvez irrespondível: até quando o transgressor de colarinho branco continuará sendo condecorado?
Que cada um ou cada uma faça suas previsões. Com toda a certeza, quase impossível alguém responder que o dia de ranger de dentes do tal do colarinho branco será hoje, amanhã, depois. E isto é por demais triste, é desalentador não acreditar que exista um jeito de acabar com a corrupção neste Brasil de quase 525 anos.
As pessoas verdadeiramente honestas, dignas, cumpridoras da lei, acordam e dormem (ou tem pesadelos) desgostosas por saberem que de quase nada adianta dizer-se honestas sem ter de provar. E o pior é que se proclamar honesto qualquer um faz.
Afinal, livre, leve e solto, e se tiver nas mãos uma caneta poderosa ou ser amigo ou parente do fulano de alta patente política ou financeira, o sujeito pode fazer propaganda da própria honestidade. Se é ou não, o que importa?
Mato Grosso do Sul ainda não se refez dos baques violentos que as operações da Polícia Federal causaram na sociedade, desde a deflagração da primeira investida de combate aos malfeitos nesta série iniciada com a Operação Lama Asfáltica. A mais recente, batizada pela PF de “Ultima Ratio”, uma expressão latina que significa “Derradeiro Recurso”, abriu uma toca malcheirosa em uma instituição insuspeita, o Tribunal de Justiça.
Que se preserve o Tribunal. Que se preserve seus honrados titulares e sua gloriosa história. Estes, felizmente, fazem parte da regra. Porém, não há como silenciar diante de uma exceção minoritária, mas operante, gulosa e sem limites. Para potencializar o alcance de suas ambições, o grupo-alvo da Polícia enredou filhos, amigos, advogados e quetais numa trama em que as sentenças judiciais, segundo a investigação, eram condicionadas a alguns ajustes subterrâneos.
A teia destas aranhas armadeiras estendeu-se além de um tribunal e alcançou, prosperamente, outro, o de Contas, não em ações institucionais, mas individuais, conforme a PF, conduzidas por servidores públicos que se serviam – e se fartavam, nababescamente – da função, da caneta e do poder que detinham.
Há que se cobrar, e duramente, quais as providências serão tomadas e quanto tempo vai durar até que se tenha a concreta certeza de que, enfim, algumas máximas populares serão confirmadas, entre as quais a de que a lei “é para todos” ou “o crime não compensa”.
Chega de acreditar num sistema em que a impunidade faz prevalecer o tal do “devagar se vai ao longe”. É preciso pressa, é preciso decisão, é preciso renovação com depuração desses ambientes. Ou a corda continuará arrebentando sempre no lado do mais fraco.