Um ditado de ancestralidade sugere, a título de conforto, incentivo ou esperança, não existir mal que sempre dure. Um outro ditado sentencia: há males que vêm para bem. Por fim, um terceiro ditado deste bloco: água mole em pedra dura, tanto bate até que fura.
Estas seriam três sentenças incontestáveis da sabedoria popular, mas no entanto carecem de exatidão. Diluem-se nos contextos em que ausentam-se do ser humano coisas como a sensatez, a responsabilidade, o respeito a si e a outrem. Como acreditar não existir mal que sempre dure, em males que vêm para o bem e em água que fura pedra de tanto bater quando temos por aí males de todo tipo desafiando os calendários e as paciências?
Há situações em que os provérbios ou ditados populares precisam de certas correções, para que sirvam de comparação fiel e exata à realidade. E não é necessário ir muito longe para conhecer exemplos de impunidade e de malandragem povoando alguns ambientes da política. Um exemplo gritante é a sucessão, em quantidade, de abusos com o dinheiro publico praticado na gestão de Campo Grande.
Os malfeitos que vêm ocorrendo desfilam ante de uma assistência das mais ilustres, nas quais se incluem órgãos fiscalizadores, de controle e até de combate à corrupção, como o Judiciário e o Tribunal de Contas. Entre tantas ações corrosivas que vêm dia a dia dinamitando finanças e serviços públicos da cidade, a prefeitura criou uma “folha secreta” para servir de escoadouro da verba do erário e ainda inventou artimanhas para acoplar em lei mais privilégios a apaniguados da gestora, presenteados com generosos super salários.
E não foi por falta de aviso: após denúncias que pipocam desde o ano passado, uma ação popular foi ajuizada em dezembro e acatada em janeiro pelo Ministério Publico Estadual. O objetivo: extinguir o chamado “bônus da vergonha”, mecanismo enxertado em lei de adicionais para fiscais da prefeitura com a intenção de incluir no benefício servidores públicos de outras categorias. Um ato irresponsável, e criminoso, segundo o MPE
Com a manobra, a secretária municipal de Saúde, nomeada na conta pessoal e política da prefeita, que é pré-candidata à reeleição, terá seu ganho mensal aumentado para até R$ 70 mil – isto depois de começar ganhando menos da metade deste valor.
Não é um bônus. É uma confissão, sem pudor, de menosprezo à lei e à ética. Por enquanto, um pecado confessado que talvez nem necessite de um ato de penitência. Tem gente que não se arrepende e peca porque gosta.