A eleição de Javier Milei pode colocar a Argentina em um abismo pior do que o atual, mergulhada numa inflação de 140% e sem soluções a curto prazo. Não por acaso, o governo peronista de Alberto Ángel Fernández foi rechaçado nas urnas, quando seu candidato, o ministro da Economia Sérgio Massa, foi derrotado pelo economista de ultra-direita Javier Milei, chamado também por seguidores de anarcolibertário ou anarcocapitalista.
Durante toda a campanha presidencial – encerrada no último final de semana -, Milei tomou conta da mídia local e internacional. Contribuíram com isto as exposições de sua imagem, a postura assemelhada à de um destrambelhado, as pesadíssimas críticas a quem julgava e julga inimigos, as ideias extravagantes e a brutal sinceridade de expor fatos familiares íntimos e constrangedores.
Milei, no entanto, surgiu como se fosse aquela esperança despertada pelos salvadores da pátria, levando a disputa presidencial ao segundo turno e derrotando o oponente governista.
No dia seguinte à eleição, estava no ar a inevitável e provocadora pergunta: o que será da Argentina agora? O que é que Milei fará com o País, após fazer campanha prometendo dolarizar a economia, rejeitar o acordo com a União Europeia e até negar-se a diálogos com países como o Brasil, dirigidos pela esquerda.
Louco ou não, Milei usou de grosseira sinceridade e chamou atenção ao contar, por exemplo, que fez sexo tântrico, que passou anos sem ejacular, que segue conselhos de uma bruxa e conversa com seu cão de estimação morto há anos e que sofreu abusos domésticos quando criança.
Não é difícil dizer que os argentinos podem estar às vésperas de ver o país cair no isolamento com Milei. Juan Luis González, seu biógrafo, alertou para os riscos que corre o país. Um dos principais analistas políticos da América Latina, José Pablo Criales, está total e absolutamente convicto: “O país deu uma guinada inédita no ano que comemora 40 anos de democracia e agora enfrenta o desconhecido”.
Pois é. Deus salve a América. A maioria dos argentinos já fez a sua parte. Ao contrário.