As vidas humanas brasileiras parece que estão nas caixas de despejo das feiras-livres, sacolejando na carroceria de um velho caminhão ou espremidas no estreito e abafado espaço interior de um ônibus na hora do rush. Este é o retrato brasileiro da pandemia, neste meado de um março que encaixou o Brasil no topo dos países com a maior letalidade ou número de mortes causadas pela Covid-19.
As advertências se repetem durante quase todos esses 12 meses calamitosos que desafiam as responsabilidades, a inteligência, a sensatez, o espírito público e a capacidade de uma convivência humana solidária, na qual todos deveriam cuidar de todos sem prejudicar o ato de cada um cuidar de si. À expansão de um contágio que avança com incomum voracidade, as populações respondem sem unicidade, sem um procedimento uniforme e regulador de prevenção e proteção.
Festinhas e festões; eventos caseiros e celebrações públicas, de competições a inaugurações; circulação ou aglomeração incomum de pessoas nos mais diversos ambientes – tudo isso é a fonte da tragédia diária que atravessou 2020 e caminha para entrar em 2021: colapso dos sistemas públicos e privados de atendimento, capacidade hospitalar exaurida, profissionais de saúde esgotados fisicamente, com suas reservas emocionais extrapoladas.
Os números chutam a canela, os brios e a consciência dos irresponsáveis que contribuem diretamente com essa caótica realidade. Mato Grosso do Sul já passou dos 190.392 casos confirmados. Só na última quarta-feira (10), as autoridades davam o número de casos naquelas 24 horas: nada menos que 1.237 notificações, com 25 mortes. A média móvel de casos/dia no Estado chegou a 896,4, entre 04 e 10 de fevereiro.
O panorama local é reflexo de uma situação nacional. Na terça-feira (9), o País registrou 1.954 mortes em 24 horas, o maior número desde o início da pandemia – e isto sem contar os óbitos de Goiás, não informados naquela data. A média móvel dessa terça também foi recorde, com 1.572 mortos nos últimos sete dias, 39% acima em relação aos 14 dias anteriores.
Assim, o Brasil chegou ao final da semana passada com mais de 11,1 milhões de casos confirmados e passou dos 270 mil óbitos. E reparem: notificações positivas e mortes apresentando tendências de alta. Faz 50 dias seguidos que a média móvel de óbitos no País está acima de um mil. Nos últimos cinco dias, mais de 1,2 mil. O número de mortes vem subindo desde 27 de fevereiro.
Esses números são como fotografias das cruzes amontoadas nos cemitérios, dos velórios sem presença de parentes, das famílias angustiadas sem notícia de um ente querido internado ou à procura de vagas não disponíveis nas UTI’s. E enquanto esta triste e enlutada galeria segue a rotina fúnebre de contabilizar óbitos e dores, as baladas da estupidez continuam desafiando a sensatez e semeando motivos para uma intervenção restritiva mais rigorosa e radical das autoridades sanitárias e, sobretudo, de segurança pública. Já é também um caso de Polícia. Demorou!