É impressionante como determinados sentimentos de rancor e ódio se enraízam nos corações, na “inteligência” e nos comportamentos do Homem. Na política, excetuada a parcela que consegue desviar-se de tais fraquezas – uma parcela que todos esperam seja a maioria -, muitas cabeças fixam-se na desforra, na vingança, no atropelar dos direitos alheios para construir as suas vantagens e compensações. Ou simplesmente para satisfazer seus apetites.
Se somos humanos e por isto sujeitos a erros, da mesma forma somos capazes de aprender com eles, de não os repetir, de acertar, perdoar e de ser perdoado. Para alcançar este degrau, que nem é tão elevado para quem dispõe de caráter, basta um pequeno esforço de boa-vontade para fazer o contrário do que fazem os políticos contaminados pelos ressentimentos e frustrações do percurso.
O Brasil e, particularmente, Mato Grosso do Sul estão vivendo tempos de afirmação na política. Nos dois ambientes de representação legislativa e executiva, os mandatos servem a uma sociedade dividida por diferenças que, se não fossem as bactérias do rancor e da intolerância, seriam coisas comuns e naturais da democracia e da convivência humana. Porém, esta convivência torna-se mais difícil que o aceitável por causa de radicalismos estúpidos e até absurdos que erguem elevadas e resistentes barreiras entre a sensatez e a insensatez.
É sensato e necessário que em cada eleição ideias e pessoas se batam, umas contra as outras, no campo respeitoso da democracia. A eleição um dia acaba e depois dela todos seguirão sob o mesmo céu, uns precisando de outros. Infelizmente, já lá se vão oito meses que a eleição acabou e ainda tem gente na política querendo ou tentando fazer o jogo da vendeta, isto é, vingar-se dos desafetos, persegui-los ou prejudicá-los a qualquer preço.
Ora, fechadas as urnas com homologação dos resultados, o ideal seria que ganhadores e perdedores da disputa aclamassem a democracia como a única e grande vencedora final. As pendengas que no pleito justificam ações de natureza institucional pelo Judiciário, que seguissem normalmente o seu curso. A necessidade do diálogo e da convivência não significa anistiar os malfeitos. O perdão é para se dar e receber, não para servir de instrumento temporal das conveniências.
O Brasil precisa ser legislado e governado pela letra da Constituição e das leis que definem e contextualizam direitos e deveres. Assim, quem deve à Justiça, que pague pelo que fez de errado. Mas que isso não sirva para dar tempero e oxigênio aos “vingadores” e rancorosos de plantão.