Uma antiga e irônica reflexão para definir algumas contradições do Homem sentencia que “na teoria, a prática é outra”. A frase é verdadeira, mas somente quando cabe em situações específicas. Nas políticas públicas, infelizmente, raros são os casos em que a teoria e a prática conversam na mesma língua.
É ano de eleições. Na caça aos votos, vale tudo, mentira e verdade, realidade e ficção. E um dos itens prediletos nos discursos de gestores e gestoras mentirosos é o desempenho espetaculoso que fazem na divulgação de suas obras e programas de inclusão social. Apresentam resultados que não resistem a um primeiro, insuspeito e leigo olhar na realidade.
Há quem trabalhe programática e conceitualmente pela valorização e pelo reconhecimento das pessoas e de seus direitos fundamentais. Deveria ser este o primeiro e soberano mandamento das políticas sociais de todos os governos: federal, estadual e municipal. O que ocorre é o contrário: a regra tem sido fazer da assistência uma prática meramente assistencialista, e de fins eleitoreiros.
A inclusão, na sua plenitude conceitual, quando inscrita no discurso e nos programas e compromissos de qualquer gestão, deve tirar de cena todo e qualquer tipo de mercantilismo eleitoral, de compadrio, de privilégio ou de favor. Um programa de inclusão sério e responsável precisa, acima de tudo, ser emancipista, atendendo necessidades inadiáveis de sobrevivência e, ao mesmo tempo, criando condições para os beneficiários se libertarem da dependência do poder público.
Nos últimos anos Mato Grosso do Sul vem dando a todas as gestões uma preciosa contribuição nesta área, oferecendo aos beneficiários dos programas o auxílio emergencial, mas evitando transformar a assistência social em assistencialismo barato, aquele que encurrala eleitores das classes de renda e situações mais vulneráveis com criminosa chantagem eleitoral. Para isso, deixou nas mãos de profissionais qualificados, e não de políticos, a definição de critérios para cada programa.
Segundo a credenciada Yolanda Aparecida Demétrio Guerra, mestra com doutorado na área, a “formação profissional do assistente social está marcada transversalmente pelos dilemas da contemporaneidade. Neste âmbito, os assistentes sociais devem se transformar em profissionais competentes para compreender a crise, os movimentos da economia, da cultura e da política, os movimentos sociais, as instituições jurídico-políticas e as organizações sociais, a dinâmica dos grupos e dos indivíduos”.
Não é nada complicado. Basta não fingir que governa, respeitar as leis, garantir os direitos trabalhistas e humanos e canalizar para as ações inclusivas e emancipistas os orçamentos que, em certas administrações, são desviados com outras inconfessáveis finalidades.