Toda Campo Grande sabe que nas funções de advogado, vereador e deputado estadual Marcos Marcelo Trad – ou Marquinhos, como adora ser chamado – sempre se saiu muito bem. Bom de discurso, retórica fluente, esgrimista da palavra, habilidoso no manejo do verbo para desincumbir-se na tribuna de um Parlamento ou de um Tribunal do Júri.
E toda Campo Grande agora está sabendo que no mandato de prefeito o mesmo Sr Marcos Marcelo Trad é um ótimo palanqueiro. Continua bom de retórica. Governar que é bom… Basta percorrer a cidade. Gente que anda e mora no centro e nos bairros reclama por um gestor. Não um promesseiro, porque entre o discurso e a prática a distância é cada dia maior.
O conjunto da obra depõe contra o prefeito. Obra mesmo, de investimento em progresso e bem-estar, só têm aquelas que foram garantidas por recursos federais em Brasília, via emendas de deputados e senadores, ou pelo governo do Estado. Sem estes socorristas a cidade estaria vivendo dias de Bernal e Olarte.
De presepada na cobrança de impostos ao retorno da dengue hemorrágica, passando por compromissos firmados e esquecidos, o cenário de desserviços expõe uma dura e implacável verdade: o prefeito não sabe o que é “prefeitar”, o orador de elite não aprendeu com os 20 anos que, segundo disse em campanha, foi o tempo que levou como aprendiz de governante para administrar Campo Grande.
O curioso, porém louvável, é que o próprio Marcos Marcelo Trad, em entrevista à Rádio CBN na segunda-feira, deu a mão à palmatória. Do seu jeito, evidentemente. Reconheceu ter sido responsabilidade sua – não cumprida ou mal cumprida – todas as barbeiragens da administração. Admitiu, por exemplo, que errou na saúde ao não ter potencializado os investimentos, especialmente em prevenção, e que a epidemia de dengue está aí porque ele falhou.
Foi um gesto magnânimo de grandeza e humildade. Mas um gesto de quem afiançava ter-se preparado 20 anos para gerir a capital e em dois anos de teste demonstrou que pouco ou nada aprendeu sobre a matéria. Seu desabafo, então, deve ter servido para tão-somente aliviar um pouco da pressão crescente da comunidade. É para ela que os dotes de tribuno precisam caprichar para acalmá-la, mesmo que o discurso contraste com a prática.
A cidade fala por si. Não é preciso reportagem. As pessoas vão e vêm, andando a pé, de carro, de bicicleta. E se deparam com a triste fotografia de uma realidade sem retoques. Uma realidade que se expressa na insatisfação de contribuintes e populares, como os moradores do Campo Nobre, que foram à Câmara Municipal protestar contra a propaganda enganosa do candidato e depois prefeito, que jurou construir na região 470 moradias.
Jurou. E daí? Está gravado, a comunidade levou vídeo e áudio com essa promessa. E daí? O que importava era prometer. Cumprir são outros quinhentos… Ou outros 20 anos de aprendizado como repetente na escola de gestores.
Uma coisa não se pode negar: o advogado-prefeito está bem calçado pelos colegas de profissão. Pode faltar remédio na farmácia do posto ou plantonista na escala de atendimento, mas advogado não falta na Prefeitura. Paço Municipal, point de causídicos.
Poderiam ser contratados mais médicos, engenheiros, administrativos, profissionais de várias áreas para acudir a demanda. Todavia, o que não falta mesmo é um Dr da OAB no quadro: de assessores do alcaide. Parece que a gestão está pronta e treinada para uma batalha nos tribunais e não para dar à cidade a gestão que ela merece e com a qual tanto vinha sonhando.
Tudo indica, infelizmente, que este sonho ainda está muito longe de ser realizado. Os campo-grandenses têm um prefeito. Mas não têm um gestor. Aquele que foi eleito deveria ter esperado mais 20 anos para aprender de fato, e de direito, o que é “prefeitar”. É governar. Não é isso aí que se vê. Governar é outra coisa.
GERALDO SILVA