Quando se pensa que está esgotado o estoque de babosices e da falta de noção atribuída aos chamados “caras-de-pau”, eis a Cidade Morena, a Campo Grande de José Antônio Pereira, servindo novamente de berço à esta espécie oportunista. Aproveitadores e figuras metidas a espertinhas existem aos montes, mas algumas categorias se sobressaem.
Quem quiser aferir esta realidade basta percorrer os abandonados e maltratados bairros da Capital, para constatar a presença festeira das tropas de paraquedistas de ocasião. São aquelas figuras de presença constante na periferia, promovendo festinhas, torneios e comes-e-bebes. Mas, na “Hora H” de usar seu mandato e seu voto na Câmara Municipal para defender os periféricos, livram-se do paraquedas e vestem o uniforme de serviçais do Poder Executivo.
São pagos – e muito bem pagos – para fazer toda esta meleca em que transformaram seus mandatos. Trocaram sua autonomia pelas benesses – sabe-se lá quais – ou pelos belos olhos do poder, assinando tudo aquilo que interessa ao Executivo e condenando o Legislativo à medíocre condição de “passador de pano” na relação entre os poderes.
Se fosse outro o enredo, se a independência do Legislativo estivesse preservada, se a legitimidade de escolher a quem apoiar não fosse uma camisa-de-força, a Câmara, por sua maioria, não estaria hoje como mera e passiva refém da gestora de Campo Grande.
A história seria outra, sim. Não haveria a enrolação grosseira que vem dando sobrevida à tal folha secreta, criada para drenar verba pública e engordar privilegiados holerites. Não haveria soluções fantasiosas como aluguel de ambulância, construção mentirosa de hospital municipal, decreto de emergência na saúde que tem R$ 2 bilhões anuais de orçamento. E os bairros, com suas populações cada vez mais periféricas, não estariam hoje sufocados pela poeira ou afundados nos lamaçais.
O povo quer circo, sim. E pão. Principalmente pão. Não apenas o pão de passar manteiga e comer com ovo, mas o pão da saúde funcionando, da educação educando bem, dos servidores valorizados, do ônibus confortável e pontual e, sobretudo, da gestão responsável e efetivamente democrática e transparente.
Enquanto esse dia não chega, resta aos passageiros deste melancólico voo torcer para que os aventureiros de plantão tenham deixado paraquedas sobressalentes, orar e apertar os cintos porque o piloto sumiu.