Gravada em 1974, a famosa e sugestiva canção “É Preciso Saber Viver”, de Roberto e Erasmo Carlos, recomenda e ensina: “Se o bem e o mal existem/Você pode escolher”. Nada mais objetivo e esclarecedor.
Não é necessário enxergar a vida com um olhar maniqueísta, aquele que divide tudo entre bem e mal. Basta entender que a escolha só se tornou possível por causa de um atributo combinado entre princípios, consciência e sabedoria, algo superior à inteligência. Há quem acrescente outro recorte a esta receita: o dom.
Então, faz-se a escolha de acordo com a própria vocação e o próprio caráter. Na política feita com ativismo e mandatos, os indivíduos dividem opiniões, ideias e ambições sujeitas à diversidade de meios e objetivos. A busca pelo mandato ou pelo poder é das mais legítimas, assim como são legítimos os confrontos e as diferenças, desde que exercidas na civilidade da educação, das leis e do compromisso democrático.
Infelizmente, tudo que aqui se escreve parece um clamor que não chega aos ouvidos que só escutam a própria voz, o próprio desejo. É isto que muitas vezes impede a conjugação do verbo conviver. É isto que põe uns contra os outros muitas vezes num teatro de guerra sem quartel e sem lei, sem respeito e sem sensatez, deixando abertas as porteiras da emoção exacerbada.
A política é descrita como arte e ciência da convivência e do diálogo, embora seja também um instrumento necessário para alimentar resistências sadias e promover transformações reclamadas para o bem comum. Esta é ou deveria ser a política que queríamos. Mas a realidade nos tira o ideal quando as divergências saem do campo da legitimidade e desabam pelas ribanceiras do descontrole, da explosão de desequilíbrio ou desespero.
Mato Grosso do Sul amargou durante a semana dois lamentáveis episódios que explodiram dentro da pior variante que há nos meandros da vida pública. Em Anastácio e em Água Clara, duas festas que deveriam ser de celebração e transcorrer fraterna e civilizadamente, tornaram-se matérias das páginas policiais. Um ex-vereador morreu e uma servidora pública foi agredida a socos por um vereador, nas confusões das duas cidades.
Não é isto que a sociedade quer. Não é para isto que a política existe e não é isto que nossas famílias desejam ter de exemplo. Que façamos na prática, todos, o canto de sabedoria neste refrão do “rei” e do Erasmo: é preciso saber conviver!