A execução de diversas obras na área central de Campo Grande nas últimas semanas tem provocado transtornos de praticamente todo tipo. As ruas interditadas, homens e máquinas ocupando espaços habituais de circulação, fluxo embaraçado e às vezes confuso de veículos e algum desconforto na movimentação de pedestres causam queixas de todo mundo, dos comerciantes aos transeuntes, passando por motoristas, trabalhadores do comércio e milhares de pessoas que habitam casas, condomínios e edifícios da região.
No entanto, esta dor de cabeça se justifica, não só nas justas reclamações sobre contratempos de pessoas impactadas momentaneamente, inclusive sofrendo algum prejuízo – como o de lojistas com a comercialização de seus produtos -, mas também na renovada expectativa econômica e social que se abre a partir da renovação e da modernização urbanas que estão sendo construídas.
As obras do Reviva Centro vieram para garantir à cidade um encontro maduro, humanista e definitivo entre a população e seu futuro, a partir da sua afirmação urbana de modernidade no usufruto das possibilidades que a capital oferece. A cidade que faz da vocação progressista o dia-a-dia da sua história, eleva, nesse compasso, o grau de exigências espraiadas nas necessidades humanas, ambientais e culturais, com demandas conjunturais e específicas em suas variadas composições sociais e econômicas.
Campo Grande está fazendo 119 anos. Mas desde os primórdios de seu povoamento, já era projetada com a consciência futurista de quem pensa grande, quem pensa com justa ambição. Nasceu e cresceu ambiciosa, fazendo de cada intervenção um demarcador da história, apressando-se a fazer a sintonia com os pensamentos contemporâneos. Não por acaso, a abertura de ruas largas e a preservação de espécies em suas orlas e canteiros já tinham, antes que tais conceitos se tornassem moda, a concepção que hoje amparam os chamados da sustentabilidade, da acessibilidade, da mobilidade e da habitabilidade.
Enquanto a cidade cresce desordenada, o avanço imobiliário acelera ostensiva e extensivamente a incontrolável expansão urbana, multiplicam-se os pontos de estrangulamento. A urbe está sendo sufocada por problemas urbanos arraigados, que vão desde a ocupação inadequada ou irregular do solo à carência de serviços e equipamentos básicos de mobilidade. O trânsito padece com o fluxo irregular e a falta de um desenho viário compatível com os cenários de locomoção da Capital que está entre as de maior índice de veículo por habitante e uma das que registram mais casos de acidente automobilístico em área urbana.
O prefeito Marquinhos Trad não está fazendo uma obra paliativa, de remendos. Se quisesse apenas governar de olho na torcida e nos fogueteiros de palanques, de olho nas expectativas imediatistas, simplesmente passaria ao largo das necessidades urbanas e humanas de seu tempo e deixaria tudo como está para que seus sucessores vissem amanhã como é que ficou.
Hoje, no entanto, encara as críticas e o nariz torcido de quem, com razão, se incomoda ao ter que alongar seu trajeto no centro, enfrentar s quilométricas filas de carros ou amargar a poeira despejada pelas máquinas. Amanhã, com certeza, a voz que bate provavelmente será a voz do reconhecimento a um bem duradouro que precisou ser construído à custa de sacrifícios coletivos. Sacrifícios passageiros.
A cidade se reconhece na sua vocação de ser o que é: grande. E só uma gestão vocacionada nesse compasso tem a coragem e a decisão de compreendê-la e respeitá-la, atendendo suas mais desafiadoras exigências de futuro.
GERALDO SILVA