Os mandatos dos executivos (presidente, governador, prefeito) e dos legislativos (senadores, deputados federais e estaduais) foram instituídos para garantir dois contextos essenciais à saúde de toda sociedade: a democracia e a representação política e popular para sustentá-la. Se tais contextos fossem devidamente cuidados, certamente o custo financeiro natural para manter as instituições não pesaria tanto no bolso ou no ânimo das pessoas.
Infelizmente, com tantos desvios que vêm acontecendo, a democracia representativa do País precisa de um tratamento novo e eficaz, que ao menos justifique o custo para sustentá-la. E que fique muito bem explicado: não é a democracia representativa que está corroída, capenga, ineficiente. São alguns de seus nobres indivíduos eleitos para representá-la, fortalecê-la, enfim, antes de qualquer coisa, dignificá-la.
A mudança deste quadro pode começar a acontecer em 2024. Daqui a um ano serão eleitos prefeitos e vereadores. Hora de conservar o que de fato está cumprindo as expectativas e hora também de cortar o mal pelas raízes, negando o voto àqueles e àquelas que não honraram a confiança depositada pelos eleitores no pleito anterior. Estes são os responsáveis pelo sentimento de prejuízo social, político e financeiro vivido por quem paga para sustentar quem não merece.
No caso de Campo Grande, esta FOLHA vem noticiando, a pedido e com maciço aval dos leitores, a irresponsabilidade da Câmara Municipal de Campo Grande. É um poder que, puxado ou empurrado pela maioria de seus membros, arrasta-se há anos como mero serviçal do Executivo, varrendo desmandos para baixo do tapete, poupando agentes políticos por mero interesse pessoal e omitindo-se de decisões prosaicas no cumprimento das obrigações constitucionais.
E não é uma transgressão gratuita, porque a vereança local é muito bem remunerada. Em junho deste ano foi divulgado o ganho de um vereador: juntando o salário de R$ 18,9 mil e os penduricalhos, a remuneração chega a quase R$ 40 mil/mês. É cerca de 23 vezes o que ganha um trabalhador comum, assalariado, o mesmo que votou nesses representantes e que tira do próprio bolso o dinheiro usado pela Câmara para pagar.
Esta folga, tomara, tem dias contados. A dos deputados federais e senadores ainda vai durar um pouco mais. Com a obstrução das sessões, não precisam ir ao local de trabalho e ganham, cada um, R$ 41,6 mil/mês até janeiro do ano que vem. A partir de fevereiro serão R$ mais de R$ 44 mil. E em 2025, um ano antes do pleito, mais uma engordada superior a R$ 2 mil.
Que vivam a democracia e os mandatos. Só custam caro porque ainda não têm sido suficientemente honrados por boa parte dos que ostentam esta delegação popular. Porém, como já foi frisado aqui, a hora de mudar está pertinho – 2024 vem vindo aí. Os satisfeitos que se incomodem.