O escândalo criado com a Operação Cartão Vermelho só trouxe uma pequena surpresa: a prisão de Francisco Cezário, presidente da Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul há mais de 27 anos. No estado, todas as pessoas ligadas ao futebol sabiam que o ambiente de poder deste senhor exalava o cheiro pútrido da velhacaria.
Não por acaso, já foi dada como certa ou inevitável uma intervenção da CBF. É, a também desmoralizada Confederação Brasileira de Futebol está necessitando como nunca de um bote salvador para escapar de águas cada vez mais hostis ao comando de seus habituais timoneiros.
O mal que atacou o futebol local é semelhante ao que contaminou a entidade manter do esporte: gestões viciadas, corrompidas, politiqueiras, sem compromisso com probidade e responsabilidade, sem competência gerencial. Não há provas maiores disto que os fracassos das seleções do Brasil em campeonatos internacionais e dos clubes sul-mato-grossenses nas competições nacionais.
No território guaicuru, é muito triste conviver com a decadência de um futebol de belas e vitoriosas histórias, como a conquista da Taça de Prata e o 3º lugar do Brasileiro de 1977. É doloroso sofrer ao entrar ou ver pela TV os jogos num estádio vazio, como os majestosos Morenão e o Douradão.
Não há outro remédio, nem outro imunizante, a não ser a decisão de intervir para exorcizar os maus espíritos. Quem sabe, foram eles que tomaram conta da FFMS e a fizeram refém de um grupo de aventureiros mal-intencionados, mas muito ligeiros na manipulação indecorosa dos recursos que escorrem pelos drenos de financiamento do futebol.
Se alguém, por pura ironia, indagasse com quantos Cezários se faz uma decadência esportiva, qualquer morador deste Estado saberia dar a resposta. E diria que não seriam necessários muitos Cezários. Nem poucos. Um, apenas. Bastaria um. Aí está ele – e se não fossem Ministério Público e Gaeco continuaria por aí, livre e solto, disseminando no esporte-rei deste País o vírus peçonhento da malandragem em elevado grau de corrupção.
Reza a lenda que o ex-dirigente da FFMS vestiu a camisa alvinegra do Operário e era lateral. Podia até jogar bem dentro de campo. Contudo, era fora das quatro linhas e das leis, depois de pendurar as chuteiras, que ele esmerou-se em fazer as suas maiores jogadas, sujas e pestilentas para o esporte.
Além de envergonhar torcedores de um dos clubes mais queridos e tradicionais do Estado, atravessou impunemente mais de um quarto de século lesando a Federação e abrindo covas fundas de má e criminosa gestão, dentro das quais vinha empurrando ano a ano o futebol de Mato Grosso do Sul.
Agora, rei posto, tomara que, dentro ou fora da cadeia, assista ao renascimento do futebol de Mato Grosso do Sul, num ambiente arejado, dotado de blindagem segura contra a gatunagem e a politicagem. Este é o saneamento na Federação que os bons aplaudirão, para contrariar aqueles cuja má índole faziam com Cezário as malditas tabelinhas da podridão que infelicitou nosso futebol e esvaziou nossos estádios.