O Legislativo deve por seu peso para fazer a balança pender para o lado do progresso
Se o velho ditado ensina que em casa de ferreiro o espeto pode ser de pau, a política muitas vezes mostra que o espeto pode ser mesmo de ferro. É mais doído, mais letal, fere com maior profundidade, sobretudo quando sai de mãos amigas.
A prefeita Adriane Lopes não tem culpa de estar comandando o poder Executivo em Campo Grande. E não é culpada também pelo grave ambiente de caos em que encontrou a prefeitura. A desastrosa obra de desgoverno implantada por seu predecessor fez a cidade andar na marcha-a-ré, vivendo de glórias na propaganda de sonhos e sofrendo com a verdade de um abismo de ingovernabilidade cada vez mais fundo.
É crível que a prefeita se sairá bem dessa, apesar de tudo. Ela tem a vocação, já demonstrada, para gerir a coisa pública. Vai precisar de muito mais que isso, contudo. Só a vocação, a coragem e o talento não resolvem. O que resolve é ter sólidos alicerces para firmar a administração e um eficaz processo construtivo de alianças.
Sem sacrificar os preceitos republicanos e preservando os interesses legítimos de toda a sociedade, nada custa à prefeita estender a mão a todo e qualquer agente político disposto a fazer sua parte. É pelo município, não por sua gestora. E a recíproca precisa ser verdadeira. Os agentes públicos e partidários que atuam em frentes opostas à prefeita também estão obrigados a descer das torres de má vontade e até de rancor pessoal ou ideológico, e imitar o gesto, estender suas mãos e cumprimentar não a gestora, mas a sua cidade, a vontade de seu povo.
A Câmara Municipal deveria clamar por este entendimento. Liderá-lo. Ser interlocutora de um ambiente que, sem prejuízo de demandas e direções ideológicas de cada um, cumpra o papel constitucional e o imperativo ético e moral de servir à sociedade. O Legislativo deve por seu peso para fazer a balança pender para o lado da utilidade republicana e do progresso.
O que não pode é seguir armazenando suas amarguras e ambições, nem sempre oportunas, para criar um ambiente artificial de hostilidade na expectativa de acuar o Executivo e torná-lo refém de interesses menores. Ou se faz do mandato um servidor da sociedade ou deixe esta cena para quem pensa no todo, e não na parte. Um mandato não pode ser minúsculo.