Por um custo unitário de R$ 2.631,00, a Prefeitura de Campo Grande pagou R$ 23,6 mil na compra de nove bebedouros industriais de aço e inox para preencher uma das muitas lacunas no sistema de transporte coletivo: o fornecimento de águas aos passageiros que usam os terminais.
Não houve sequer licitação – segundo a Agetran (Agência Municipal de Trânsito), além da urgência do negócio por causa das altas temperaturas, a lei define que nas compras com processo de pregão o valor do produto a ser adquirido deve estar acima dos R$ 57,2 mil.
Então, tudo bem. Só que não. Nada bem. Já lá se passaram quase dois meses e os bebedouros novos não foram instalados. O pior é que os danos à saúde atingem todos os passageiros, tanto nos terminais que não dispõem do equipamento como naqueles que estão com bebedouros danificados ou servíveis apenas para lavar as mãos.
É cruel, e é grotesco, um absurdo: uma cidade que está para chegar ao seu primeiro milhão de habitantes, sob temperaturas altíssimas, não tem água gelada disponível às centenas de milhares de trabalhadores que dependem do ônibus e pagam por este transporte. Água para beber, não tomar banho ou lavar a calçada. Água para defender o organismo, preservar a saúde; água para beber e para viver.
Torço para que, quando este editorial for publicado, as autoridades tenham acelerado o passo e os usuários do sistema já estejam usufruindo de um direito que retardou além do tolerável.
Não se trata de crucificar quem quer que seja, mas de elevar um clamor popular para que tais aflições não se repitam – até porque as empresas concessionárias andam se repetindo num círculo vicioso de maus tratos