Quando se afirma que o uso do cachimbo deixa a boca torta, custa nada acreditar. A embocadura se ajusta lentamente, de mansinho, e aos poucos lábios humanos e materiais sólidos se encaixam. Com o tempo e o uso constante, o ato de cachimbar torna-se algo prazeroso. E rentável. Ou irresponsável. E até danoso.
Na vida humana, percebe-se às vezes que algumas pessoas têm sua boca torta. Não de nascença, acidente ou alguma ocorrência patológica. Mas pelo vício de pitar – e é muito bom, diria Scherlock Holmes. Porém, na política, os gestores públicos também adoram dar sua pitadinha. Não uma apenas. Mas duas, três, quatro ou mais vezes.
Campo Grande abriga uma população inteligente, perspicaz, muito bem informada sobre determinadas embocaduras que nada tem a ver com fumo, tabaco, tragadas. A embocadura aqui é em outro tipo de boca, para o encaixe de outro tipo de cachimbo. Basta conferir a quantidade de fumadas infelizes que vêm sufocando a sociedade a cada desmando administrativo ou político da sua gestora e de seus ajudantes-de-ordens, chamados também de vereadores.
Folha secreta é assunto batido. Mas está aí. Continua sem solução no colo da maioria governista da Câmara Municipal. Os super-salários estão aí, impulsionados para o alto por malandragens legalistas. A recorrente e perversa teimosia de uma prefeita que não respeita o direito das pessoas e não as respeita também, continua privando os servidores públicos de seus direitos trabalhistas legalmente estabelecidos.
Mais tragadas? Nada mudou na conjuntura caótica dos serviços de saúde. E nas obras a mesmice da mediocridade é outra embocadura, como no caso dos pavimentos roídos, embora construídos recentemente. E das tragadas mais recentes destaca-se a pitada de mau gosto que a prefeita Adriane Lopes e sua claque andam despejando na mídia amiga com a “bateria de inaugurações de obras” em vários bairros.
Até parece que a gestora da cidade desconhece que a cidade já a conhece. E muito bem. Sabe que em seis meses, reta final de mandato, sua gestão não conseguirá fazer aquilo que não fez em mais de dois anos. Pode aqui e ali consertar o telhado de uma escola, pintar um muro, distribuir as placas. Mas de estrutural, de inovador, de verdadeiro – só baforadas.
A construção do Hospital Municipal virou piada. O que é uma pena. O município precisa. É a única capital que não tem. Mas por aqui o que vigora é a boca torta em ambiente onde o cachimbo é de ouro.