Houve um tempo, e não muito distante, em que vários bambambans da política de Mato Grosso do Sul conseguiam manter sob rígida blindagem algumas sinecuras bancadas pelo dinheiro do contribuinte. O patrimonialismo era praticado sem qualquer hesitação, de maneira recorrente e desavergonhada, sem temor da vigilância institucional ou do controle social.
Os benefícios mais comuns eram o nepotismo (o direto e o cruzado) e as investiduras em cargos públicos por meio não da capacidade técnica dos beneficiários, mas de sua aptidão para servir aos poderosos e deles receber agrados quase sempre financiados pelas generosas tetas do tesouro. Com isso, o empreguismo sustentou vários mandatos e abasteceu todo tipo de relação política e eleitoral.
Agora, o Brasil resolve abrir mais os olhos e levanta-se contra as diversas formas de corrupção. Abre-se um importante cenário para que as pessoas de bem e as autoridades leais às suas funções e à ética possam combater e erradicar drenos criminosos que tiram dinheiro da saúde, da educação e da infraestrutura para vitaminar conluios e favores à margem do interesse legítimo da sociedade.
Por isso é fundamental que os poderes neste Estado se empenhem e atendam ao forte clamor da população contra o empreguismo, uma prática que há décadas e décadas mancha e desqualifica a política, os políticos e a vida pública. E com função diferenciada neste processo está a Assembleia Legislativa.
Em seus 38 anos de existência, o poder não só estimulou, mas conviveu e capacitou a prática do compadrio, instalada por clãs interessadas em perpetuar sua influência por meio da oferta indiscriminada de cargos e salários a apaniguados que, em grande parte, não teriam compromisso algum em bater ponto, nem comparecer ao local de trabalho, Bastava ser um (a) protegido (a) do poderoso de plantão para ganhar um holerite, mesmo que morasse em outro estado ou até em outro país.
Houve quem usufruiu de todos os benefícios e adicionais decorrentes desse vínculo ilegal, política e moralmente deteriorado. Se for levada a sério pela Mesa Diretora da AL, e se o repto do deputado e prefeito eleito Marquinhos Trad (PSD) não passar de bravata, a CPI Caça-Fantasma trará histórica contribuição para limpar um dos nichos mais sujos da política no Estado. O nome com que a CPI foi popularizada remete à simbologia de humor macabro que se reporta à ausência dos trabalhadores no local onde deveriam estar trabalhando, de preferência por concurso público.
A Mesa Diretora tem obrigação e dever de responder à sociedade e, entre outras coisas, provar que não patrocina arranjos como o que está revelado no recente episódio envolvendo os deputados Paulo Corrêa (PR) e Felipe Orro (PSDB). O primeiro dá instruções de como maquiar ou “legitimar” o vínculo trabalhista de servidores nomeados no gabinete que não cumprem expediente.
Além desse contingente de faltosos remunerados, é bom que se dê também a devida atenção a outro penduricalho que sangra os cofres públicos e rebaixa ainda mais o conceito da política e dos políticos. São as aposentadorias miraculosas de servidores que não têm mais de 40 ou 50 anos de idade e outros sem o tempo de trabalho legalmente exigido. Apurar e limpar essa pauta é o grande interesse público em questão. Que a AL e Marquinhos Trad, proponente da CPI Caça-Fantasma, tenham a palavra. É a atitude que o povo espera.
GERALDO SILVA