Não é preciso muito esforço para identificar as razões da ausência de um grande número de eleitores brasileiros que preferem não comparecer aos locais de votação e querem distância das urnas. Errados estão, sim, porque é um protesto bumerangue, depois de lançado volta perigosamente contra quem o lançou e geralmente fere.
Infelizmente, esta tem sido uma das maneiras de protesto que mais o brasileiro vem utilizando nas eleições para expressar seu descontentamento com a política e os políticos. Ou também uma reação bem virulenta contra a impunidade, esta peste que continua contaminando considerável parcela de agentes públicos de todas as instituições.
Os números são eloquentes. Neste segundo turno das eleições em 51 cidades brasileiras, o índice de abstenção foi de 29,26%. Altíssimo, porque as urnas ficaram sem receber o voto de quase um terço dos eleitores. E esta média nacional foi refletida, com pouca diferença, em Campo Grande, com uma abstenção de 28,60%. Isto significa que 184.812 eleitores deixaram de dar seu voto, tão importante para a afirmação da democracia.
Entretanto, não há como recriminar os eleitores, além de lamentar o impacto negativo que sua ausência das urnas causa ao regime democrático. O eleitor está desestimulado. Ou desanimado. Ou revoltado. Às vésperas de escolher seus candidatos ele acorda em sua casa com a TV mostrando cenas que poderiam ser de filme, mas são reais: centenas de policiais, agentes da Receita Federal e do Ministério Público cercando os tribunais de Justiça e de Contas em uma operação contra a venda de sentenças.
Urge renovar não só os tribunais, mas aprimorar os mecanismos de apuração de mazelas e de punição de responsáveis para que se restabeleça a confiança dos eleitores ou que sejam convencidos a acreditar na existência de gente que merece o seu voto, de instituição que merece o seu crédito. Sem estas providências, a abstenção continuará crescendo.
E Deus queira que nunca falte quórum para a democracia nos locais de votação.