Em disputas políticas e esportivas não se deve e não se pode colocar nos créditos de Deus os resultados. A invocação pode ser para agradecer, propagar ou fazer outras legítimas exaltações que não sejam para atribuir a Ele o placar de uma partida ou a contagem das urnas.
Porque Deus é Deus de todos, de quem ganha e quem perde, de quem pede e de quem não pede. Se assim não fosse, todas as partidas de futebol e todas as disputas políticas acabariam empatadas. Para quem ainda não sabe, não há respaldo bíblico para o antigo e recorrente ditado popular “a voz do povo é a voz de Deus”.
Faço estas observações não só pela convicção cristã que me sustenta a fé ou por conhecimentos que venho adquirindo ao longo da existência. Mas sinto também a necessidade de reagir ao incômodo que sinto, quando vejo e ouço as definições mais absurdas sobre a intercessão divina. Não há como conceber a ideia de que Deus interferiu no andamento de um jogo ou de uma eleição para fazer a felicidade de ganhadores e a tristeza de perdedores.
A consciência cristã e a inteligência humana são objetivas e mostram que o placar dos desafios da vida é consequência da ação ou da inação das pessoas. Quando o voto das pessoas fez Jair Bolsonaro presidente, muita gente creditou sua vitória à vontade de Deus. Será então que nas eleições seguintes Deus o abandonou? Que Deus é este que escolhe errado?
Ouve-se, atualmente, que Deus protege o planeta e defende o seu meio ambiente. Ora, planeta e meio ambiente Deus faz e desfaz a qualquer hora. Se tivesse vontade, já teria feito o caos total e definitivo. Felizmente, esta vontade Ele não tem. Sua vontade é outra, é oposta. É construir, é edificar, é criar oportunidades de redenção, de renovação, de vida.
Mas o mundo pode ser destruído, sim. Aliás, pode destruir-se. Basta que seus habitantes irresponsáveis continuem poluindo os rios, queimando as florestas, despejando gás carbônico no espaço, envenenando alimentos, matando, mentindo, roubando e violentando o próximo. As mãos que fazem tudo isso são livres, autônomas, independem de crença, agem movidas por suas fraquezas, entre elas a ambição sem limite, o ódio, o preconceito e a vaidade.
Desse jeito, não haverá mundo que resista. Sua sobrevivência é como uma disputa polarizada entre sensatez versus insensatez. E se este dia chegar, não teremos vencedores. Todos perderão. E não adiantará clamar por Deus. Ele não é zagueiro, nem atacante e muito menos cabo eleitoral.