Há no mundo uma onda disseminada de Ter, de Possuir, de Poder, de Consumir. E há uma onda, resistente, porém infelizmente menor, de Ser.
O Homem prefere o Ter ao Ser. Sua desmedida ambição se impõe sobre as razões do humanismo e da sensatez, acoplada nas vaidades e no egocentrismo, inflamada ora por crenças religiosas, ora por obediências fanáticas a lideranças corrosivas.
E é assim que as guerras, os feminicídios, os preconceitos, o ódio e as armas tomam os lugares que deveriam pertencer à paz, à convivência respeitosa, à tolerância, à fé, à sensatez e, acima de tudo, ao amor.
O que se vê hoje, no Oriente Médio, é erroneamente considerado um episódio de origem religiosa. Poderia ser um defeito civilizatório, mas é´pior que isso: é, antes de qualquer coisa, um vergonhoso descarrego de ilimitadas ambições humanas.
Não há, para o mundo civilizado e as pessoas que o compõem, qualquer motivo ou fator capaz de justificar o criminoso expansionismo que – por causa de petróleo, ouro, geoestratégia ou ambição dominial – faz uma nação levantar-se tão furiosamente contra outra. E quando isto ocorre, no ataque e no contra-ataque as razões se diluem e os pecados fazem todos iguais.
Não por outro motivo torna-se imperativo hoje, agora, uma tomada decisiva de consciência, de compromisso e de vergonha dos dirigentes de países que podem intervir, que têm peso diplomático, para fazer a grande cruzada pela paz.
Não significa negociar com o terror, mas também não significa ser condescendente com o invasor. Cada lado precisa ceder. Caso contrário, a paz será apenas uma bandeira. Mais nada. E o Homem continuará sendo sua própria vítima.