No dia em que a Câmara Municipal submetia-se ao trabalho técnico de dedetização do prédio, os vereadores decidiram também votar e aprovar o projeto que prevê um saque de R$ 19 milhões dos cofres públicos, a título de subsídio, para socorrer o Consórcio Guaicurus, responsável pelo serviço de transporte coletivo em Campo Grande.
A população mais humilde não foi informada até agora se os técnicos em desratização conseguiram livrar a Casa dos roedores e quetais. Porém, já está ciente o que um outro e antigo tipo de roedura vai fazer com seus bolsos assalariados a cada quilômetro rodado pelos veteranos ônibus deste sortudo consórcio empresarial.
Assim fica muito fácil tocar negócios na iniciativa privada. É como garimpar ouro no asfalto ou à sombra de uma árvore. Monta-se a empresa e faça sol ou faça chuva o carro-forte (ou cofre-forte) da prefeitura está aí, à mão. Basta um assovio que ele vem, solícito e generoso, socorrer os pobres endinheirados que ganham dinheiro fácil quase 24 horas por dia, sem a necessidade de prestar um serviço de qualidade.
Este tipo de assovio é eticamente desafinado, mas é eficiente para fazer o povo dançar seu tema de agonia. Servem de pistas as ruas tristes e esburacadas, enlameadas, íngremes. Para subir ou descer de ônibus velhos e sem o tão prometido ar condicionado, o passageiro-dançarino precisa estar pronto para descer no ponto sem cobertura ou no terminal arruinado, ter vocação para sardinha e viajar como enlatado.
O pior é pagar elevados custos nas redes do IPTU e ainda fazer seu baião-de-dois para bancar o preço de viver pagando tão caro para dançar a música da própria humilhação.
A prefeita e a sua Câmara – só sua, toda sua – não se importam com esses dançarinos. Eles são gente. É o povo que paga imposto, engorda os cofres da prefeitura e do Consórcio, aguenta chuva, calor, mormaço e escuridão. Prefeita e vereadores devem achar que o povo gosta de sofrer nas filas angustiantes do posto de saúde ou que se diverte vendo seus afilhados ganhando super salários em folha secreta.
Esquecem-se, provavelmente, de uma coisa: