Soul é um grande lembrete: temos momentos preciosos na Terra.
Apesar de todas as suas animações coloridas e brilhantes gerar alegria e popularidade, a Pixar nunca se esquivou de fazer alguns mergulhos metafísicos profundos, de Divertida Mente e suas representações das emoções dentro da mente de uma menina aos personagens esqueléticos falecidos de Viva – A Vida É uma Festa ao louquinho Dois Irmãos: Uma Jornada Fantástica do ano passado, com dois irmãos lançando um feitiço que ressuscita seu pai morto – mas apenas da cintura para baixo.
Todas essas são coisas pesadas para os mais pequenos digerirem, né?
Porém, agora chega a comédia/drama entre mundos Soul (Alma), que, sem dúvida é o filme mais espiritualmente ambicioso da história da Pixar – e também um dos melhores filmes para entrar na lendária e crescente biblioteca do estúdio. Aqui está uma jornada sobrenatural incrivelmente bela, ousada, engraçada e emocionante, quase estonteante em sua complexidade em vários níveis, e ainda contendo as mensagens mais simples e duradouras sobre como não sabemos absolutamente nada a respeito do que vem depois, ou do que veio antes. Aprendemos na animação que devemos abraçar cada momento de vigília, porque tudo pode desaparecer num piscar de olhos.
Este também é um lançamento histórico, já que é o primeiro filme da Pixar com protagonistas negros e personagens predominantemente negros. Em um mundo animado antes dominado por personagens brancos, a Pixar fez grandes avanços para ser mais inclusiva nos últimos anos nesse quesito.
Dirigido pelo robusto Pete Docter da Pixar (Monstros S.A., Up – Altas Aventuras e Divertida Mente) e co-dirigido por Kemp Powers (escritor nova joia One Night in Miami desse ano doido), Soul começa em uma versão incrivelmente detalhada e renderizada da cidade de Nova York, onde o amável, mas fracassado professor de banda do ensino fundamental e aspirante a pianista de jazz, Joe Gardner (Jamie Foxx) está se complicando e vivendo sua vida não muito boa até que consegue uma grande chance: a de tocar com a icônica diva do jazz Dorothea Williams (Angela Bassett). Explodindo de entusiasmo e sem prestar atenção ao mundo à sua frente, Joe evita por pouco uma catástrofe até que sua sorte acaba quando ele cai em um bueiro.
Será que seu tempo na Terra acabou?!
Só posso dizer que ele cruzará no meio desse caminho com 22 (Tina Fey), um ser que irritou alguns dos maiores Mentores ao longo dos séculos, incluindo Lincoln, Gandhi e até mesmo Madre Teresa.
A música faz papel de parede em todos as cenas (Trent Reznor e Atticus Ross com certeza serão indicados pro Oscar).
Já os visuais são de alguma forma instantaneamente reconhecíveis como a Pixar pura e, ainda assim, diferente de tudo que já vimos antes. Os chamados Grande Antes e Grande Além são mágicos e místicos e, às vezes, até um pouco assustadores de uma forma meio Mágico de Oz. E ainda, pitadas de desenhos cubistas em movimento, até o New Age.
Soul é a lembrança das pequenas coisas sobre ser humano que constituem nossos álbuns de memória pessoais: tocar piano com seu pai, maravilhar-se com fogos de artifício enquanto veste a camisa do seu time favorito, dar aquela primeira mordida em uma fatia quente de pizza, maravilhar-se com a mudança de cores das folhas das árvores que coexistem com os arranha-céus em uma cidade grande, enfim, o filme prova que existe um Grande Antes e um Grande Além mas, também existe o Céu na Terra.
5 pipocas!
Disponível no Disney+.