Uma criança de 2 anos precisou esperar por cinco dias para fazer uma cirurgia na rede pública de saúde do Distrito Federal após colar as pálpebras do olho direito em um acidente doméstico. O procedimento aconteceu na manhã de hoje no Hospital de Base de Brasília.
A madrinha da criança, a auxiliar de escritório Lia Lucena, de 54 anos, diz que o acidente doméstico aconteceu na quinta-feira (16), em Ceilândia. A menina teria sido levada cinco vezes em unidades de saúde, mas sem sucesso no atendimento cirúrgico.
De acordo com a família, a menina estava brincando e acabou pegando um tubo de supercola — também conhecida como cola instantânea —, grudando parte das mãos e o olho direito. “Ela estava brincando e pegou essa cola escondida da mãe. Não sabemos ao certo o que aconteceu. Se passou direto no olho ou se assustou ao ver a mão e passou no rosto”, disse a madrinha.
Depois de cinco dias com a cola no olho, a família agora diz sente alívio por não ter acontecido nada pior com a visão da menina.
“Você não faz ideia do alívio com a cirurgia, porque desde quinta-feira a gente não relaxa momento algum. Estávamos muito preocupados porque imaginar perder a visão com 2 anos era algo que nem consigo descrever.
Peregrinação atrás de atendimento
Segundo a família, criança foi atendida primeiramente no Hospital de Base. Lá, os parentes receberam orientação para fazer compressa de água morna e refrigerante para desgrudar o produto da pele.
Com medo de realizar o procedimento com refrigerante, os familiares decidiram apenas usar a compressa com água, mas isso acabou causando problemas na pele da menina. Em razão disso, no dia seguinte, a criança foi levada ao Hran (Hospital Regional da Asa Norte), mas por causa do regime de plantão do feriado, a cirurgia se tornou inviável.
“Voltamos para casa e não passamos o refrigerante, apenas a compressa [com água]. Só que a pele começou a irritar e retornamos no outro dia, mas no Hran. O médico que avaliou disse que era caso de cirurgia, mas que não poderia fazer por causa do plantão de feriado, fazendo um encaminhamento para o Hospital de Base”, contou a madrinha.
No sábado (18), a menina buscou um hospital particular, que receitou um antibiótico para prevenir contra eventual infecção no globo ocular. No dia seguinte, a família decidiu procurar novamente o Hran, mas a unidade teria encaminhado mais uma vez para o Hospital de Base.
Ao procurar a unidade orientada, a família alega que recebeu a informação de que não tinha sala de cirurgia disponível. Foi quando os parentes decidiram expor a situação nas redes sociais e buscar a imprensa na segunda-feira (20). Isso teria pressionado o hospital a marcar o procedimento para hoje.
“Acionamos a imprensa para não voltar para casa sem atendimento. A médica informou para aguardar até 17h para sabermos se poderíamos fazer a cirurgia em cinco dias. Nisso, pediram para irmos 22h para o procedimento, mas umas 19h ligaram dizendo que não daria para fazer, e orientaram para chegarmos hoje às 6h”, descreve a madrinha.
O que fazer em caso de acidente com cola instantânea?
Em caso de contato com os olhos, os fabricantes dessas colas, em conformidade com especialistas, orientam enxaguá-los cuidadosamente com água em abundância. Geralmente também disponibilizam no verso dos tubos esclarecimentos, orientações e contatos.
Quando atingidas, áreas sensíveis, com presença de mucosas (lábios, pálpebras), também devem ser lavadas com bastante água morna e ainda sabão neutro. Como a cola preenche e adere rugosidades, é importante uma hidratação local, mas em casos de exposição volumosa ou impossibilidade de abertura de olhos e boca, o certo é correr para o pronto-socorro.
O método mais indicado e seguro é mergulhar a área “colada”, como a mão, em água morna com sabão neutro. Após cerca de 10 minutos tente a remoção, que inclusive pode ser feita nas pontas de dedos com lixa de unha.
Também são bem-vindos para separar a cola da pele óleo, margarina e hidratante, enquanto sal rende uma leve esfoliação e ajuda a desgrudar dedos.
Já no hospital, após avaliação do médico, geralmente é empregado, para desfazer aderências superficiais difíceis, um procedimento demorado, em etapas, com pinças delicadas, lavagem abundante com soro fisiológico e pomadas.
Na parte externa dos olhos, havendo muita cola presa, o oftalmologista pode ter que fazer a retirada dos cílios (epilação), também por meio de pinças ou até mesmo no centro cirúrgico com bisturi e sedação local, a depender do quadro. Por isso, muito cuidado ao usar cola instantânea.