Em uma cerimônia relâmpago, de 12 minutos de duração, Michel Temer (PMDB) assumiu oficialmente a presidência do Brasil nesta quarta-feira, 31 de agosto. Mal assinou seu termo de posse diante de um plenário do Senado abarrotado de parlamentares e outras autoridades, o peemedebista já se depara com sua primeira crise com aliados. Sua base de sustentação no Congresso, que já dava sinais de insatisfação, agora promete reavaliar o apoio a ele depois que o PMDB votou para conceder uma espécie de anistia política à presidente deposta Dilma Rousseff (PT). Foi o revés de um dia que se encerrou com Temer discursando à nação pela primeira vez na TV: ele prometeu reforma da Previdência, mudanças na lei trabalhista e colocar a economia “nos trilhos”.
Pela decisão dos parlamentares, a petista não foi inabilitada politicamente e, por essa razão, poderá ocupar um cargo público. Em princípio, todos os seus direitos políticos, inclusive o de ter algum cargo comissionado, seriam cassados por oito anos. A questão ainda deverá sofrer um questionamento jurídico no Supremo Tribunal Federal. O principal articulador dessa proposta foi Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente do Senado que se manteve em cima do muro durante o processo de impeachment o máximo de tempo que pôde.
Os primeiros a reagirem à decisão do plenário foram os representantes do PSDB e do DEM, partidos que juntos têm 15 dos 81 senadores. “Os senadores pagaram um dízimo com o Governo que já passou. Acho que isso expõe uma fratura grave na base do atual Governo”, disse o presidente do DEM, o senador José Agripino Maia. “Não é admissível que a ex-presidente tenha a liberdade até para se tornar presidente da Petrobras. Precisamos derrubar essa decisão no Judiciário”, completou Ronaldo Caiado, também do DEM.
O presidente do PSDB, o senador Aécio Neves, também reclamou: “Confesso, saímos preocupados com essa posição de setores do PMDB que não nos dá segurança em relação à parceria para o futuro”. Até representantes do PMDB seguiram na mesma linha. “Meu partido deu sinal muito ruim aos nossos aliados. Primeiro, mostramos que não estamos unidos. Depois demonstramos que temos muito a conversar para dar o suporte verdadeiro ao Governo Temer”, afirmou o senador Garibaldi Alves Filho.
Slogan positivo
Temer reagiu às reclamações de seus ainda aliados. Na sua primeira reunião ministerial após ser oficialmente empossado, na tarde desta histórica quarta-feira, o tom usado pelo peemedebista foi diferente do usual conservador, prolixo e polido. Elevou o tom de voz para negar que essa “anistia” à ex-presidenta tenha sido uma derrota de sua gestão e cobrou coesão da base: “Se é Governo, tem que ser Governo”. É um recado a uma superbase coesa contra Dilma Rousseff, mas da qual ele necessita para aprovar as reformas que prometeu.
Também falou alto quando pediu para os seus ministros reagirem quando alguém lhe chamar de golpista, a alcunha que petistas atribuíram a ele e seus apoiadores. “Golpista é você que está contra a Constituição Federal. Não estamos propondo ruptura constitucional. Nós somos de uma discrição absoluta. Jamais retrucamos [no passado] palavras em relação ao nosso governo, [críticas] à nossa conduta. Mas agora não vamos levar ofensa para casa”, orientou seus comandados. Antes de embarcar para a China, onde participará da reunião do G20 e de uma série de encontros bilaterais, Temer deixou seu fiel aliado Eliseu Padilha, ministro da Casa Civil, em Brasília para contornar eventuais defecções.
Um dos poucos que minimizou a crise foi o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira. “No Nordeste, como disse o Renan, costumamos dizer que depois da queda, o coice. A presidente Dilma não precisava sofrer mais. Por isso, votamos dessa maneira”, afirmou. “O PMDB não aceita imposição nem interna, nem externa. Sinceramente, não acredito em perda de apoio. Os partidos que fizeram o impeachment da presidente não vão se juntar ao partido dela na oposição”, acrescentou Oliveira.
No primeiro pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão que fez como chefe de Estado, Temer, ainda desconhecido para muitos segundo pesquisa Datafolha, se apresentou com um slogan positivo: “Quando o Brasil quer, o Brasil muda”. Defendeu o polêmico projeto que cria um teto de gastos para o Governo, a reforma da Previdência e apresentou o que considera ser os alicerces de sua gestão: “eficiência administrativa, retomada do crescimento econômico, geração de emprego, segurança jurídica, ampliação dos programas sociais e a pacificação do país”. “Meu único interesse, e que encaro como questão de honra, é entregar ao meu sucessor um país reconciliado, pacificado e em ritmo de crescimento”, seguiu ele, que deve governar até 31 de dezembro de 2018. (El País)