Após derrota para o Ituano, técnico usa expressão preconceituosa em seu rosário de desculpas
Não poderiam ser mais desastradas e infelizes as declarações que o técnico Mano Menezes deu à imprensa após a derrota do Corinthians para o Ituano, por 1 a 0, na noite de quarta-feira, 25. Sem citar seus próprios erros, entre os quais a escalação equivocada, ele alinhou vários itens para justificar o insucesso do time e ainda incluiu, entre os argumentos, uma comparação preconceituosa que feriu e revoltou principalmente os mato-grossenses.
Segundo Mano Menezes, uma das causas dos desacertos da equipe é o erro em decisões individuais dos jogadores. Para ilustrar esta avaliação, o técnico citou um lance em que o volante Raniele chutou de longa distância contra o gol adversário e a bola subiu demais, fora do alvo. Aí então surgiu a comparação preconceituosa que atingiu o seu próprio atleta e rebaixou Mato Grosso, Estado cuja capital é Cuiabá, nome do clube que Raniele defendia. Mano deu a esta resposta ao repórter que perguntou sobre os erros do time:
“A gente desperdiçou algumas bolas que poderíamos ter criado um pouco melhor. Talvez você [repórter] se referiu a uma cobrança do Raniele, porque ele tentou chutar uma bola ao gol. Achou que estava lá em Cuiabá e tentou chutar. Não dá, né? Estamos no Corinthians”. O clube cuiabano deu a resposta em nota oficial, na qual repudia “a descabida fala do técnico Mano Menezes”, que se referiu “de forma preconceituosa e inaceitável” para um técnico que já comandou a seleção brasileira, mostrando desconhecimento “ao citar o Cuiabá EC de forma pejorativa”.
IGUALDADES
É inegável a grande dimensão do clube paulista. Um dos mais antigos do País – foi fundado em 1910 -, tem o maior número de títulos estaduais, uma Taça Libertadores e dois mundiais, entre outras conquistas. É também um recordista em arrecadações, apontado como o segundo time de maior torcida no Brasil e possui um elenco dos mais caros e melhopr remunerados.
Tudo isto, porém, não serve para medir a grandeza institucional e histórica de qualquer instituição, seja uma associação de moradores, uma entidade classista ou uma organização esportiva. No futebol, cada clube tem sua própria história, com seus legados, percursos, dirigentes, torcedores e indiscutível importância, independente da quantidade de títulos, adeptos e dimensões territoriais e financeiras.
O Cuiabá é um dos caçulas entre os clubes brasileiros, com apenas 22 anos de existência. Foi fundado em 12 de dezembro de 2001 pelo ex-jogador Luís Carlos Tóffoli, o falecido atacante Gaúcho, de clubes como Flamengo e Palmeiras, um artilheiro que está na lista dos mais eficientes cabeceadores do futebol mundial. Apesar da tenra idade, o time matogrossense já acumula feitos significativos. Mas não é este seu patrimônio mais importante, e sim o que representa para seu Estado e a contribuição que dá ao esporte brasileiro.
Mano Menezes não viu nada disto. Ou, se viu, não se importou. Pela comparação que fez, humilhando o próprio atleta e ignorando a história e a afinidade do Corinthians com a democracia e a igualdade, Mano afundou na própria pequenez. É um possuidor de títulos e de prestígio, tem contratos milionários e presença garantida na mira dos holofotes. Contudo, não tem aquilo que sobra na inteligência, na alma e na consciência dos desportistas que se prezam: grandeza.