O cientista político Antônio José Ueno, conhecido por Tony Ueno, diretor do Instituto Ranking Brasil, comentou os resultados do 2º turno das eleições para governador de Mato Grosso do Sul e para a presidência da República. Além disso, informou que o seu instituto de pesquisa acertou tanto o resultado para o Governo do Estado quanto para presidente, bem como 21 dos 24 deputados estaduais eleitos e 6 dos 8 deputados federais do Estado. Ele reconhece que “apanhou” muito este ano, mas acredita que por conta do ambiente hostil criado com tantos candidatos com potencial na disputa para governador. O homem das pesquisas no Estado aproveitou para ressaltar que, durante o processo eleitoral deste ano, o Instituto Ranking fez 181 pesquisas, incluindo as nacionais, e cravou todos os resultados. Sobre a chegada do Capitão Contar no segundo turno, onde nenhum instituto apontava, citou que a declaração do presidente Jair Bolsonaro no debate da TV Globo na antevéspera da eleição pegou todos os institutos de surpresa, mas lembra que no dia 2 de outubro, às 16h01min, mostrou o resultado da boca de urna e sentenciou Eduardo Riedel e Capitão Contar no segundo turno.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – O senhor declarou no dia 30 de outubro que “apanhou” como nunca nestas eleições, por conta das suas pesquisas. A que se deve isso?
TONY UENO – Acho que pelo ambiente hostil que se instalou na campanha com tantos candidatos em destaque. Tínhamos o ex-governador André Puccinelli, ex-prefeito Marquinhos Trad, ex-vice-governadora e deputada federal Rose Modesto, um bolsonarista raiz, o Capitão Contar, além do candidato do governo Eduardo Riedel. Mas não me abalei. Mexo com números e estatísticas e o resultado está aí para todo mundo conferir o trabalho sério que realizei a frente do Instituto Ranking Brasil.
TU – Na antevéspera do 1º turno das eleições nós tivemos aquele imbróglio em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) fez a declaração de apoio ao Capitão Contar no debate da TV Globo, desequilibrando o jogo. O que fez ele ir para o 2° turno não foi sua capacidade de articulação e nem o seu grau de aceitação, mas o pedido pessoal do Bolsonaro. Contudo, na pesquisa boca de urna, divulgada às 16h01m do dia 2 de outubro, acertamos a ida do Capitão Contar para o 2º turno.
FCG – Dos resultados da Ranking no primeiro e segundo turno, o senhor ficou satisfeito?
TU – Muito! Durante o processo eleitoral de 2022 em Mato Grosso do Sul o Instituto Ranking fez 181 pesquisas eleitorais. No 1º turno a Ranking acertou 21 dos 24 deputados estaduais e 6 dos 8 deputados federais. Também acertamos à nível nacional. O Ranking superou institutos renomados nacionalmente, como Data Folha, Ipec, entre outros. Então, foi uma alegria muito grande. Neste 2º turno, em nível nacional, todos os institutos tiveram um acerto muito grande, mas a Ranking ficou entre os três com maior acerto.
FCG – Capitão Contar largou na frente no primeiro turno, mas no segundo ficou quase 200 mil votos atrás. A que o senhor atribui isso?
TU – O deputado estadual Capitão Contar fez escolhas erradas na questão de apoios no 2º turno que foram fundamentais para a derrota. No 1º turno Contar e Riedel ficaram com números muito próximos, todavia, quando vira para o 2º turno, o Contar recebeu apoios que a gente chama de apoio contaminado, que foram os do André, Marquinhos e Rose. O Capitão tinha um discurso de que nunca se aliaria com pessoas que representassem a velha política, mas no segundo turno repetiu que todo o apoio era de bom grado, isso confundiu muitos os eleitores. Isso jogou por terra o discurso do candidato, que no 1º turno falava que era contra a corrupção e seria a verdadeira renovação, mas no 2º turno se alia a esses nomes tradicionais da política do nosso Estado, prejudicando suas bandeiras e fazendo com que não avançasse na conquista de mais votos.
FCG – E a virada de Riedel no segundo turno, que alcançou votação mais do que expressiva?
TU – No primeiro turno em Campo Grande, o Capitão Contar teve 66% dos votos, enquanto Eduardo Riedel teve 34%. Porém, no 2º turno entraram na campanha de Riedel a prefeita Adriane Lopes (Patriota) e mais 25 vereadores aqui do município. Os prefeitos do interior intensificaram o trabalho no segundo turno, pois viram que se o Capitão Contar ganhasse teriam dificuldades com as obras de infraestrutura que já estão iniciadas, bem como com os programas das áreas de saúde, educação, segurança pública, esporte e lazer. Então, a vitória dele seria um retrocesso. Nesse sentido, os prefeitos e a própria população sul-mato-grossense enxergaram que, neste momento, a continuidade de um trabalho que estava indo muito bem era a melhor opção.
FCG – Onde Eduardo Riedel sacramentou a vitória?
TU – O debate realizado pela TV Morena na última quinta-feira (27) foi a gota d’água. Ali ficou muito nítida a falta de preparo administrativo de Contar, até porque o Capitão não estava indo aos debates realizados anteriormente, enquanto Riedel comparecia e demonstrava total conhecimento dos dados do Estado nos últimos oito anos. Enfim, com toda a certeza, os eleitores de Mato Grosso do Sul fizeram a opção certa e séria, acertando em eleger Eduardo Riedel.
FCG – Como o analista político enxerga agora o cenário com Eduardo Riedel como governador eleito?
TU – O primeiro passo para que o governador eleito Eduardo Riedel tenha sucesso é costurar boas alianças. Ele terá de, logo no início da sua gestão, se alinhar cada vez mais com a prefeita de Campo Grande e com os prefeitos das cidades do interior que lhe deram apoio. Hoje, Riedel está em uma situação muito privilegiada, porque está com uma base consolidada nos municípios e também na Assembleia Legislativa, o que deve facilitar e muito a vida e a gestão do futuro governador de Mato Grosso do Sul.
FCG – Suas considerações finais…
TU – Muitas vezes, as pessoas pensam que nós só fazemos as pesquisas que são divulgadas, porém, o nosso maior trabalho são as pesquisas internas. Nesse período, vários partidos e até mesmo os próprios candidatos e pré-candidatos nos procuraram, pedindo um trabalho de consultoria, assessoria e pesquisa. Por isso, fizemos um levantamento em todos os municípios do Estado e acabamos obtendo êxito em várias situações. Muitos criticavam a Ranking, dizendo que o instituto iria errar, mas, pelo contrário, cravou os resultados. Para presidente, cravamos, pois falamos que o resultado aqui no Estado seria de 60% para Bolsonaro e 40% para Lula e o resultado oficial foi muito próximo disso. No dia 30, na pesquisa boca de urna, nós cravamos o resultado da eleição para presidente e para governador em Mato Grosso do Sul. Quando foram anunciadas 34% das urnas, eu já cravei que o Eduardo Riedel já podia colocar o terno para a posse e isso veio realmente a acontecer. Algumas pessoas de emissoras de rádio perguntavam se ele teria coragem de divulgar isso, se ele tinha certeza que não iria passar vergonha. O trabalho que a gente faz é sério, de muita responsabilidade e com muita dedicação. Eu amo o que faço, não sou simplesmente um dono de instituto de pesquisa, a minha formação é na área de estatística e também sou cientista político, então, o trabalho que a gente faz é com amor e quando você faz aquilo que gosta realmente o resultado aparece e foi isso que aconteceu.