Jornalista, escritor, político e pesquisador, Sérgio Cruz chega aos 80 anos dedicando-se a contar e registrar as histórias da cidade que escolheu para viver. Em visita à sede da FOLHA DE CAMPO GRANDE, ele detalha que para evitar que todo acervo com histórias sobre Campo Grande fique no esquecimento, lançou o livro ‘Campo Grande 150 anos de histórias’, contadas a partir de pesquisas jornalísticas e crônicas em 475 páginas. O livro impresso já está disponível nesse 26 de agosto, aniversário da Capital, porém o e-book pode ser comprado no site da Amazon. Em sua carreira de jornalista ácido, sempre em defesa da democracia, saltou naturalmente para a política, tendo exercido mandatos de deputado estadual, o primeiro no Mato Grosso Uno (1975 a 1978), o segundo como deputado constituinte de MS (1979 a 1982) e um de deputado federal (1983 a 1986). Nessa época, tentou colocar na base curricular da Educação a matéria Historia Regional. Não conseguiu, mas segue produzindo documentos históricos que ficarão para a posteridade. Nessa nova obra, as informações fazem parte de acervo pessoal que ele tem sobre Mato Grosso e Mato Grosso Sul. Sérgio foi juntando histórias desde 1974 até os anos de pandemia, fez uma linha do tempo e resolveu transformar em livro. Sorte nossa! Dentre as histórias está o primeiro morador de Campo Grande, a visita do Papa, a chegada da estrada de ferro, entre outras. Em maio foi lançado ‘Sangue no Oeste’, que aborda crimes violentos e de grande repercussão desde 1730 até 2020 em Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Histórias como o sequestro de Lúdio Martins Coelho, o Ludinho, aos 21 anos, em 1976, e outras mais. Em outubro está previsto mais um lançamento, dessa vez sobre o aniversário de MS. Incansável, promete que vai produzir até quando tiver forças. Não se considera um historiador, mas para seus fãs e seguidores é, sim, o mais ativo, que desnuda, como ninguém, histórias que ficariam esquecidas se esse pernambucano de Salgueiro não tivesse chegado aqui, no Estado do Pantanal.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – Esse título ‘Campo Grande 150 anos de história’ é uma provocação? Já que a cidade faz 123 neste
SÉRGIO CRUZ – De jeito nenhum. É apenas um fato. A cidade tem 150 anos de histórias e o ano 1872 aparece na bandeira oficial junto com 1899, ano em que a vila foi elevada a município. O que ocorre é que quando José Antônio Pereira chegou aqui não havia nenhum documento ou diário que comprovassem o dia. Isso foi conhecido bem depois com um neto do fundador, mas aí o 26 de agosto já era comemorado como aniversário. Acontece parecido com o Brasil e o 22 de abril. Todos sabem que Pedro Alvares Cabral desembarcou no sul da Bahia, mas não é nem feriado e sim o dia da Independência, 7 de setembro de 1822. No caso de Campo Grande, a primeira visita de José Antônio foi em 21 de junho de 1872. Este ponto é um marco e eu tento contar nesse livro a vida das pessoas que contribuíram para o desenvolvimento da nossa Capital Morena.
FCG – Como foi feita a pesquisa?
SC – As histórias fazem parte do acervo que tenho sobre Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Venho juntando histórias desde 1974 até os anos de pandemia. Fiz uma linha do tempo e resolvi transformar em livro. A partir de pesquisas jornalísticas e crônicas, lanço esse exemplar com 475 páginas. Este livro reconta a história de Campo Grande desde a notícia do primeiro morador na região até acontecimentos mais recentes, passando pela chegada do fundador, em 1872, da estrada de ferro, em 1914, da divisão, em 1977, com registro da visita do primeiro bispo e da missa campal celebrada pelo Papa João Paulo II e da passagem pela Santa Casa do cientista Albert Sabin. É resultado de amplo trabalho de jornalismo histórico, dedicado a estudiosos de nossa História, estudantes e curiosos.
FCG – Como tem sido a aceitação do público aos seus livros?
SC – Muito boa, mas meu principal objetivo, desde sempre, é que tenha na grade curricular do Estado a matéria ‘História Regional’. Não faço críticas aos professores, já que com o ENEM, em que as matérias são nacionais, ele tem que ensinar o que vai cair na prova. Acho que o exame deveria na parte de história ser regionalizado, para que os jovens estudantes pudessem conhecer mais sobre o lugar em que vivem. Quando fui deputado apresentei projetos nesse sentido, mas fui vencido.
FCG – Qual das suas obras teve mais repercussão?
SC – A receptividade desse mais novo tem sido boa. Vamos ver mais para frente se ele ultrapassa ‘Porque mataram o Dr. Ary’, que conta a história de um crime ocorrido em Cuiabá, onde o prefeito de Campo Grande foi assassinado em 1952. Acho que ‘150’ marca forte no imaginário das pessoas, e os mais antigos vão lembrar que em 1972 o prefeito Antônio Mendes Canale fez os festejos do centenário da cidade e, em 1999, André Puccinelli também comemorou com eventos. Os dois estão certos, as duas datas são importantes. Tento com esse novo trabalho contribuir para as gerações futuras. Ele é um grande livro de consultas e muitas coisas iam acabar ficando no esquecimento.
SC – Sim, tenho. Em outubro está previsto mais um lançamento, dessa vez sobre o aniversário do Estado de MS. Que inicia ainda na primeira Constituição do Brasil, outorgada por Dom Pedro I em 25 de março de 1824. Já se discutia a ideia de José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência”, a divisão territorial no Brasil e Mato Grosso seria fatiado. Surge aí a convicção que muitos anos depois se tornou realidade, o sul de Mato Grosso virou Mato Grosso do Sul. Não posso contar muito mais, tiro a surpresa, mas um fato que creio que vai dar muito burburinho é sobre Vespasiano Martins, árduo defensor da divisão de Mato Grosso, líder de movimento divisionista e que de repente nunca mais tocou no assunto.
FCG – Como político, o senhor teve posições firmes. Poderia fazer um prognóstico das eleições deste ano no MS?
SC – Raramente acerto um prognóstico. Vejo notícias e pesquisas eleitorais e formo minha opinião. Hoje vejo um cenário com André Puccinelli e Eduardo Riedel no segundo turno. Apesar de respeitar a trajetória de Marcos Trad e Rose Modesto, acho que o ex-governador está consolidado e o candidato do governador Reinaldo Azambuja está numa crescente. Riedel não é tão conhecido do eleitorado, mas com apoios de mais de 70 prefeitos, vereadores e agentes políticos creio que vai longe. Já no segundo turno, não tenho a menor ideia.
FCG – Suas considerações finais…
SC – A linguagem direta e o apelo jornalístico dos fatos narrados em ‘Campo Grande – 150 Anos de História’ proporcionam ao meu oitavo livro, um calhamaço de quase 500 páginas, um agradável sabor de almanaque. No volume, desde o primeiro aventureiro a montar acampamento nos domínios do atual território da cidade, em 1867, à primeira vítima fatal da Covid-19, todos os relatos parecem extraídos de um jornal. E muito do que se lê, de fato, foi recolhido em periódicos, mas não posso deixar de elencar o nome de memorialistas, cronistas e analistas a quem recorri como fonte bibliográfica ou como testemunha ocular da história, por meio de depoimentos colhidos diretamente ao longo de décadas. O livro não tem nenhuma revelação extraordinária. Espero que estimule historiadores, professores e demais operadores da educação e da cultura a transformarem a nossa história de simples compromisso curricular em uma permanente lição de amor a Campo Grande.