A campeã de votos em Mato Grosso do Sul e uma das mais votadas entre as deputadas federais eleitas no País em 2018, Rose Modesto (PSDB/MS) acrescentou no início deste mês mais um avanço significativo em sua trajetória: foi eleita a 3ª secretária da Câmara dos Deputados. Com as colegas Marília Arraes (PT/PE) e Rosângela Gomes (Republicanos/RJ) ela completa o trio que consagra um feito histórico, a presença inédita do mandato feminino na Mesa Diretora da Câmara dos Deputados, e encaixa um grande passo afirmativo que amplia a representação de gênero no centro das decisões políticas do País.
Para esta fatimassulense de 42 anos, a investidura congressual é mais um desafio dos diversos que enfrenta em sua vida pessoal e política. De berço humilde e vocações definidas – é filha de lavradores, professora e ativista social -, Rose acredita que agora poderá contribuir mais e melhor com as expectativas nacionais, fortalecer politicamente a voz reivindicatória de Mato Grosso do Sul em Brasília e aumentar o alcance das lutas pelos direitos da mulher. Por isso, considera inviável e contraditório engajar-se na onda pró-impeachment do presidente Jair Bolsonaro.
“O foco é garantir a recuperação econômica, com propostas que atendam os mais desassistidos e gerem empregos”, afirma. “Um processo de impeachment seria muito prejudicial ao Brasil. É um processo lento, que paralisa o setor econômico. Temos que gerenciar essa crise do coronavírus, ajudar o Governo Federal. Na Câmara dos Deputados, onde se inicia o processo de impeachment, esta proposta não tem força”, sustenta.
Na entrevista à FOLHA, Rose Modesto fala também sobre suas metas na Mesa Diretora, nega que o Legislativo será um “puxadinho” do Executivo após as eleições de candidatos de Bolsonaro e faz projeção otimista sobre o que poderá fazer por seu Estado.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – No Senado, Simone Tebet perdeu a disputa pela presidência. Na Câmara, três mulheres chegam à
ROSE MODESTO – O resultado na Câmara mostra que as mulheres estão conquistando mais espaços. Não só no Congresso Nacional, mas em várias esferas de decisões. Na Câmara é a primeira vez que três mulheres estão na Mesa Diretora. Em 27% das empresas brasileiras ainda não há nenhuma mulher exercendo cargo de chefia. Em 32% a presença feminina não vai além dos 10% das posições de liderança. Precisamos mudar esta realidade. E a Câmara, o espaço da representação política da sociedade, dá exemplo. A conquista é importante, mas ainda precisamos ampliar esta participação no Congresso e vamos buscar novas conquistas.
FCG – Quais as expectativas com seu papel na 3ª secretaria?
RM – Participarei de decisões da Mesa Diretora que influem no destino da Câmara dos Deputados, direcionando votações de temas importantes. Abre-se mais espaço para defender pautas que defendo nas áreas de educação, saúde, economia e contra a violência, entre outras. Por cuidar de questões administrativas, vou buscar a transparência nos gastos públicos, possibilitar que a população saiba para onde vai parte dos recursos que desembolsa com impostos. Politicamente, a 3ª secretaria vai dar mais visibilidade ao meu trabalho, me aproximar das lideranças de todos os partidos, possibilitar um canal direto de comunicação com todos os parlamentares.
FCG – Qual a avaliação sobre integrar um processo que dá o comando congressual a políticos afinados com um governante refratário a pautas como o empoderamento feminino?
RM – Existe uma máxima de que é preciso estar nos postos de decisão para mudar uma realidade. Há parlamentares que têm posicionamento contrário à maior participação feminina. Porém, é preciso considerar que de 457 deputados presentes na sessão que elegeu a Mesa, 398 votaram em mim. São quase 90%. Isso demonstra confiança. E agora são três mulheres com cargos na Mesa, eu e as deputadas Marília Arraes e Rosângela Gomes, que buscaram espaços para defender as pautas para as mulheres e ter maior peso nas decisões.
FCG – As eleições de Rodrigo Pacheco e Arthur Lira jogaram a pá de cal na tese do impeachment do presidente Jair Bolsonaro nesta legislatura?
RM – O momento impõe que tenhamos o foco na recuperação econômica, com aprovação de propostas que atendam os mais desassistidos, gerem empregos e atraiam investimentos. Um processo de impeachment seria muito prejudicial ao Brasil. É lento, prejudica o país em todas as esferas, paralisa a economia por causa das indefinições que gera, atrapalha a votação de propostas realmente importantes. O momento não é de falar em impeachment. Precisamos gerenciar a crise da pandemia e ajudar o Governo Federal. Na Câmara, onde se inicia o processo de impeachment, esta proposta não tem força. O presidente da Casa, Arthur Lira, já declarou que essa proposta não estará na pauta. E a decisão de acatar a denúncia é dele, é monocrática.
RM – Em primeiro lugar, a aprovação do Orçamento da União para que o Governo não interrompa suas atividades por falta de recursos e por tabela prejudique todo o País. A intenção é aprovar o texto até fins de março. Temos que votar as reformas estruturantes, como a administrativa e a tributária. Fazer a revisão do Pacto Federativo, que vai redefinir a distribuição da arrecadação de impostos e propostas que impulsionem o crescimento econômico com geração de empregos. Na área social vou defender nova proposta para enfrentar a pandemia, já que o Orçamento de Guerra terminou no dia 31 de dezembro. Precisamos garantir renda mínima a quem precisa. Continuo defendendo a valorização dos profissionais da Educação e por um ensino público de qualidade. Para garantir maior transparência na esfera pública e combater a corrupção, seguirei insistindo pela aprovação da PEC da Prisão em Segunda Instância. Também vou intensificar o trabalho para que projetos de defesa da mulher sejam colocados em pauta o quanto antes. Nessa área, duas propostas minhas são primordiais: uma criando o Botão do Pânico, um dispositivo eletrônico para monitorar se o agressor está próximo da mulher vítima de violência doméstica, e outra que aumenta a pena, em regime fechado, de 12 para 20 anos para quem comete feminicídio.
FCG – Concorda com a definição de que a vitória de candidatos apoiados ostensivamente pelo Planalto faz do Legislativo um “puxadinho” do Executivo?
RM – De forma alguma. O que vai ocorrer é um maior diálogo entre os poderes. Pautas importantes ao país terão mais agilidade em sua tramitação, tanto que o Governo Federal apresentou suas prioridades na semana passada, uma lista com 35 temas. Os presidentes da Câmara, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, divulgaram, em conjunto, que alguns destes itens estão como prioridade, outros não.
FCG – Há perspectivas de benefícios concretos para Mato Grosso do Sul com sua investidura na Mesa Diretora?
RM – Com toda certeza. Não é conquista tão imediata, mas vem ao longo do tempo. Na Mesa Diretora, como já disse, participo de decisões que influem na pauta de votações. Tenho mais espaço para defender propostas que atendam as demandas de Mato Grosso do Sul. Também terei mais contato com relatores do Orçamento da União para solicitar recursos às obras estruturantes no Estado e que dependem de recurso federal. Uma coisa eu sei: vou buscar ao máximo atender as demandas do Estado.