Para os especialistas, uma das atuais unanimidades sobre potencial desenvolvimentista no País chama-se Mato Grosso do Sul. É uma realidade que impõe desafios de elevada complexidade, sobretudo crescer com qualidade de vida e ter infraestrutura para não ser atropelado pelo peso das transformações.
O deputado estadual Professor Rinaldo Modesto (Podemos), que se dedica a estudar as demandas sociais e econômicas sul-mato-grossenses, não hesita em afirmar: “O grande desafio é garantir que o Estado continue a se desenvolver, crescendo com segurança jurídica e justiça social, propiciando que as empresas se instalem aqui”.
Ao frisar que seu mandato caminha com esta responsabilidade, aponta prioridades da atividade parlamentar.
Rinaldo Modesto deu esta entrevista à FOLHA na quarta-feira (5), e falou também sobre impacto das eleições, projeções para 2026 e futuro partidário.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – Deputado, quais os projetos que o senhor considera prioritários para votação na Assembleia Legislativa este ano?
RINALDO MODESTO – Temos vários projetos tramitando. Há um sobre o uso do celular, em andamento. Também existe a questão da pesca, com audiência pública em breve. O desafio é garantir que o Estado continue a se desenvolver, crescendo com segurança jurídica, propiciando que as empresas se instalem aqui. O Estado já recebeu quase R$ 60 bilhões em investimentos. São indústrias de celulose e outros produtos, como a produção de suco em Sidrolândia. Porém, há carência em mão-de-obra qualificada. É um dos grandes gargalos de Mato Grosso do Sul, Estado que se destaca no ranking nacional com um dos maiores PIBs do País. É preciso garantir a infraestrutura para dar suporte a estes avanços. A Rota Bioceânica é outro tema fundamental.
RM – Infelizmente, ainda existe uma polarização política que me entristece muito. Salvas as exceções, quem é da esquerda odeia quem é da direita. E vice-versa. O ódio instalado me preocupa profundamente. Tenho formação cristã, de educador, prezo pelo diálogo. A política é a ciência e a arte de bem administrar aquilo que é de todos. Quando se sectariza e se radicaliza, não há espaço para o entendimento. O meu desejo é que seja retomada a coerência na política e que em 2026 os candidatos respeitem a opinião dos outros. Precisamos de uma política que traga tranquilidade, verdade, espírito democrático, pois o radicalismo só beneficia pequenos grupos e não a sociedade como um todo.
FCG – Em âmbito local, qual o peso desses impactos?
RM – Em Campo Grande, a atual prefeita tem um papel importante. A eleição demonstrou, de forma inequívoca, o impacto das fake news. A Rose [Modesto, sua irmã e ex-candidata], por exemplo, sofreu muito com notícias falsas. E só um terço da população escolheu a atual gestora. A Rose teve 210.123 votos, enquanto a prefeita eleita recebeu 222.000. Ou seja, de cada 10 pessoas em Campo Grande, apenas três votaram na vencedora. Isto põe sob questionamento a legitimidade do cargo que ocupa. É natural que este cenário influencie as próximas eleições. Mas, quando se está no Executivo há um grande número de cargos comissionados à disposição, mais de 11 mil. Cabe a nós levantarmos este debate e demonstrar a realidade, deixar que a população escolha o que e quem considera melhor.
FCG – É possível trabalhar bem, mesmo com essas divergências? O senhor consegue dialogar com todos?
RM – Eu tenho facilidade em conversar com todos. Quando se ama as pessoas incondicionalmente, respeitando suas crenças, filosofias e pontos de vista, isto ajuda muito. Sempre atuei assim e tenho bom relacionamento com parlamentares do PT, PL e de outros partidos. A maioria do povo não está preocupada com a disputa entre esquerda e direita. A população quer é a solução dos seus problemas. Em Campo Grande a saúde é um caos. Hoje recebemos mães que entraram na Justiça para garantir fraldas e leite aos filhos com deficiência. Vieram chorando, pedindo socorro. Tenho cinco filhos e quatro netos, então consigo me colocar no lugar delas. Mesmo com a ordem judicial, muitas não conseguem as fraldas. O site Campo Grande News mostrou as fraldas, de péssima qualidade, que têm causado assaduras e feridas nas crianças. Ora, a política precisa ser um recurso para melhorar a vida das pessoas.
FCG – Seu partido já tem definições para 2026 ou ainda busca entendimento com outras forças políticas?
RM – O Podemos é um partido de centro-direita que sabe dialogar e respeitar diferentes posicionamentos. Em Mato Grosso do Sul, estamos alinhados com o governador Eduardo Riedel. No Brasil, já temos 34 partidos organizados, mas outros tentam sua oficialização. E isto gera uma grande fragmentação política. Nos EUA, são apenas dois partidos principais, o Republicano e o Democrata. No Paraguai, são apenas dois e em outros países também. O Brasil criou a Cláusula de Barreira tentando reduzir a quantidade excessiva de agremiações. O Podemos está em tratativas com o PSDB e o Republicanos. Até abril, na abertura da “janela” para as trocas partidárias, muitos partidos devem se fundir ou formar federações.
FCG – O senhor pretende permanecer no Podemos?
RM – Em princípio, sim. Recentemente, conversei com a deputada federal Renata Abreu, presidente nacional do Podemos. Ela me afiançou que as negociações com outras siglas estão em andamento. Temos um bom relacionamento com o PSDB, MDB e União Brasil, este liderado pela Rose aqui no Estado. Mantenho um bom trânsito com todos, exceto com partidos radicais ou pessoas que usam sua posição para incentivar o sectarismo.
FCG – O senhor preside a Comissão de Educação. Quais as prioridades em 2025?
RM – Vamos continuar defendendo a valorização salarial de todos os professores e realizando audiências públicas para debater temas importantes. Um dos principais assuntos é o uso do celular nas escolas. A Lei 15.100, aprovada pelo governo federal, estabelece diretrizes para o uso de aparelhos no ambiente escolar. Faremos uma audiência pública no dia 10 de março, às 14h, aqui na Assembleia, para discutir o tema com especialistas. O celular é um recurso importante para pesquisa. Se o seu uso não for bem regulado, pode prejudicar o rendimento escolar. Hoje, quase todo mundo está viciado no celular. Pesquisas já apontam os impactos negativos do uso excessivo, especialmente entre crianças e adolescentes.
FCG – Escolas públicas e particulares estão envolvidas no debate?
RM – Exatamente. Queremos discutir regras que sirvam para todas as escolas, públicas ou privadas. O celular é uma ferramenta poderosa, mas também pode ser um fator de distração e até um risco à saúde mental dos estudantes. A audiência será essencial para acharmos um ponto de equilíbrio. Precisamos garantir que o celular seja um aliado da educação, e não um obstáculo.