O sociólogo e historiador Paulo Cabral, de 73 anos, foi o entrevistado desta semana do JORNAL FOLHA DE CAMPO GRANDE. Ele, que há meio século percorre as histórias de Mato Grosso do Sul, fez uma avaliação dos cenários políticos em nível federal e estadual. Analisou com um olhar criterioso cada nome posto para avaliação dos eleitores. Para Cabral, Mato Grosso do Sul é um Estado rico em história, culturas e tradições. O Estado é conhecido por ser constituído por povos migratórios como paraguaios, japoneses, libaneses e italianos que escolheram aqui como lar. Com essa mistura, ele destaca um jeito único de tratar de assuntos importantes, como são as eleições, por exemplo. Uma parcela importante não gosta de oligarquias, outra de gente que parece ser aventureira. Mas a maioria na hora de votar escolhe alguém que, de certa forma, pode resolver os problemas mais iminentes no Estado. Para o sociólogo, não existe receita pronta, mas os candidatos (alguns) podem ser lapidados no decorrer da pré-campanha e campanha.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – Como o senhor analisa os nomes postos para a disputa do governo do Estado?
PAULO CABRAL – Vejo quatro pré-candidatos com força, no páreo. André Puccinelli (MDB), Marquinhos Trad (PSD), Eduardo Riedel (PSDB) e Rose Modesto (União Brasil). A eleição em MS se decide em dois turnos com certeza, para isso não acontecer precisaríamos ter uma mudança radical no quadro de candidatos, trocas, afastamentos, coligações, mas acho que esses aí é que vão brigar pelos votos.
FCG – Como o senhor avalia cada um deles?
PC – É preciso destacar que os quatro representam a mesma ideologia, não são muito diferentes na forma de agir e pensar. André Puccinelli é conhecido, foi prefeito da Capital, governador do Estado, fez bons governos, mas carrega rejeição e o peso da idade, que para alguns é motivo para não escolhê-lo. Marquinhos Trad, que em Campo Grande tem uma boa entrada, vai sofrer no interior de MS. O partido dele não está ramificado e isso na hora do voto pesa muito. Além de que ele representa uma oligarquia, a dos Trad. Irmãos, sobrinho, primos, o pai também, que desde a década de 60 ocupou cargos públicos pode atrapalhar um pouco. Tem uma parcela grande de eleitores que rejeitam oligarquias. Eduardo Riedel, com a máquina do Estado ao seu favor, é um candidato de peso. Capitaneou duas pastas importantes do governo Reinaldo Azambuja, a Casa Civil e a infraestrutura, que nesses últimos dois anos entregou muitas coisas no Mato Grosso do Sul. Como ele é o candidato do governador, pode carregar para si alguma rejeição do Reinaldo, mas é um candidato com alto poder de fogo. Rose Modesto, em escala menor, também representa uma oligarquia, ela e o irmão [Rinaldo Modesto] são bem conhecidos. Ela talvez seja a menos experiente no executivo, apesar de já ter sido vice-governadora. Isso pesa no currículo.
FCG – A vinda do presidente Bolsonaro marcada para o dia 20, para declarar apoio a Eduardo Riedel, pode ajudar quanto o tucano?
PC – Consideravelmente. O Mato Grosso do Sul é um Estado conservador. Quando o Zeca do PT venceu a eleição em 1998 teve a ajuda fundamental do Pedro Pedrossian e seus aliados. Sem isso não teria vencido o segundo turno contra o Ricardo Bacha (PSDB). E se Pedro tivesse apoiado o tucano, Zeca teria perdido o governo. Com isso, acho que Bolsonaro agrega bom grupo de pessoas na campanha de Riedel, e tem mais, não podemos mais desconsiderar a força dos evangélicos, e o presidente carrega apoio significativo de boa parte deles e esses também podem migrar para o lado de Riedel.
FCG – O senhor afirmou que os quatro representam o mesmo campo ideológico. Como eles farão para se diferenciar?
PC- Eles até podem no discurso tentar agradar a maioria da população, mas representam a classe dominante. Eles não fazem parte dos 70% da população menos assistida. Considero que quem tiver obras, ações e trabalhos sérios para mostrar sai na frente. A Gisele Marques (PT) representa o campo da esquerda que está combalido no MS. Talvez para garantir um palanque para Lula, pois o PT está descaracterizado aqui. Como vemos, ele não agrega muitos votos. O eleitor é criterioso, não concordo com os que dizem que as pessoas não sabem votar. Os candidatos são escolhidos pelos partidos e colocados para apreciação. Se o eleito rouba, não sabe governar e comete outros crimes, a culpa não é do eleitor e sim do partido que o escolheu.
PC – Primeiro porque estamos fazendo pesquisas com os números de 2010, isso dá uma diferença boa para chegar ao número correto. Segundo, neste momento muitas pessoas ainda não definiram em quem vão votar, então é possível que hoje em dia escolha o A e amanhã o B. Mas à medida que for chegando mais perto da eleição, as pesquisas vão mostrar uma fotografia mais confiável do momento.
FCG – Na eleição para presidente da República, como o senhor vê a disputa?
PC – Polarizada. Nessa não posso afirmar que se decida no segundo turno. O presidente Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva monopolizam os holofotes, debates, discussões, opiniões. Lula está na frente muito por conta do abandono de áreas importantes deste governo federal, como a educação, a segurança da Amazônia e o Sistema Único de Saúde (SU), que resistiu porque é um organismo vivo, um projeto de Estado que, mesmo que queiram, nunca será um plano de governo. Eu, particularmente, não gosto da administração Bolsonaro, ele deixou muito a desejar em muitas frentes, não respeita a liturgia do cargo, nem os opositores. Vive num ambiente democrático, mas quer se passar por ditador. Não acho que terá golpe como o de 1964, pois desta vez os Estados Unidos da América não darão apoio.
FCG – Suas considerações finais…
PC – Muito me espanta ver pessoas pedindo a volta da ditadura, um momento deplorável da nossa história. Só na democracia, com todos os seus defeitos, vamos conseguir aprimorar a política. Sem política não existimos, não fazemos nada, não resolvemos nada. Então, reforço que a política é o meio de se conseguir uma sociedade justa e igualitária.