Se a política pública de ensino em Mato Grosso do Sul enfrenta desafios dos mais complexos, a capacidade de solucioná-los surpreende quem vê de um lado a crise impiedosa nas finanças e na economia e de outro o fôlego de um Estado que imprime, em Pasta de tantas demandas conflitantes, um ritmo singular de avanços. O crescimento do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica é um dos mais expressivos do País, assim como a faixa de remuneração dos professores e os níveis de acesso ao conhecimento das primeiras às últimas séries do aprendizado escolar.
Uma resposta pode ser dada, de imediato: a visão do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), que já em campanha acenava sua ambição em fazer da educação pública do Estado um modelo nacional. E para atingir esse objetivo ele confiou a justa ambição à educadora e correligionária Maria Cecília Amendola da Motta. Na semana passada, ela ajudou a acrescentar mais um item valioso na coleção de feitos que dão projeção ao Estado em todo território brasileiro: tornou-se presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed).
Na quarta-feira passada, a afirmação do elogiado desempenho gestor: o ministro da Educação, Rossieli Soares, recebeu Cecília da Motta. Eles se reuniram para uma conversa antes da posse dela e da reunião com todos os 27 secretários de Educação do País. “Todos sabem que a continuidade na educação é algo fundamental e temos de dar prosseguimento às políticas já instaladas e aos debates que já estão acontecendo. O ensino médio continua sendo uma grande prioridade, além da alfabetização, a formação de professores e, logicamente, a implementação do tempo integral”, salientou Rossieli Soares.
Na entrevista exclusiva à FOLHA DE CAMPO GRANDE, Cecília Motta abordou desde a sua expectativa na função de dirigente até os desafios peculiares que a Pasta enfrenta em Mato Grosso do Sul. “Vamos assumir a direção de uma instituição que tem 27 secretários, e muitos deles são novos no cargo. O nosso compromisso é ajudar esses secretários, de ir até os estados se precisar, para que a gente possa construir, ainda em 2018, o currículo fundamentado na Base que foi homologada no ano passado e trabalhar com a reforma do ensino médio, que é uma prioridade. Nosso trabalho será colaborativo com os novos secretários”.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – Quais os desafios conceituais e pontuais que assume a nova presidente do Conselho Nacional das Secretarias
CECÍLIA MOTTA – Assumi o cargo muito honrada e com uma enorme carga de responsabilidades, principalmente porque se tratando de um ano eleitoral muitos secretários de educação pediram exoneração para se candidatar a cargos proporcionais e o Conselho não sabe se haverá mudanças nos projetos de educação nesses estados. Tive uma reunião com o novo ministro de educação e ele me deu ampla liberdade de ação, mas mantendo principalmente o compromisso com a reforma do ensino e adequação à lei de Diretrizes Básicas. A Base Nacional Curricular. Todas as escolas com o mesmo currículo, sejam elas estaduais, municipais ou particulares. No ensino médio, a reforma do Currículo Nacional de Educação será meta a ser atingida até 2020. Faremos cinco audiências públicas por região do País para discutir a implantação. Atender a políticas de Estado e não de governo, para dar continuidade ao projeto. O estado de Mato Grosso do Sul tornou-se referência nacional graças ao trabalho realizado pelo governo de Azambuja e à própria Secretaria de Educação. Secretários de vários estados da federação já estiveram aqui para ver in loco como são implantadas as reformas.
FCG – Com a reforma do ensino, quais os principais pontos que atendem expectativas específicas de Mato Grosso do Sul?
CM – O principal reflexo é a flexibilização do currículo escolar. Cada matéria trabalha com sua metodologia específica. E o aluno que escolhe a forma de tratar os problemas apresentados, o professor se torna um orientador e a grande problematização do estudo, onde o aprendiz vai à raiz do tema e o desenvolve segundo seus critérios e experiências.
FCG – A democratização do ensino impõe que tipo de demandas para o poder público e como elas estão sendo respondidas?
CM – As demandas quantitativas estão sendo respondidas da melhor maneira possível, na quantidade de vagas está solucionado. Todos os alunos do estado estão em sala. Em relação às qualitativas ainda estamos aquém do desejado, mas trabalhando arduamente para atingir resultados de excelência com Cursos de Formação Continuada, com a maneira de trabalhar os estudantes. Temos na secretaria pessoal específico para dar os cursos de formação e, além disso, apoio às prefeituras nesta área. Temos muito caminho a percorrer. São políticas de Estado e não de Governo.
FCG – A Escola de Autoria trouxe para a sociedade uma compreensão melhor sobre sua presença no processo do acesso ao conhecimento?
CM – O aluno se tornou autor de seu próprio conhecimento (principalmente nas escolas de tempo integral). O aluno se tornou protagonista inclusive com atividades extracurriculares, como clubes e outro tipo de associações que, de forma coletiva, fazem parte de seu aprendizado. A evasão escolar foi contida, antigamente oscilava na faixa de 21%. Nossa meta é chegar a 10%, mas conseguimos um recorde nacional, hoje está na casa dos 2,36%. Isso é uma grande conquista de nosso governo e desta secretaria. O aluno apura suas competências e talentos. Todo mundo tem talento e são eles que vão descobrindo no caminhar da sua educação quais são.
FCG – Os pais e responsáveis estão interagindo de maneira mais efetiva no processo de construção do saber em MS?
CM – A família era sempre a grande ausente na educação escolar de seus filhos. Pouco a pouco estamos conseguindo que se aproximem da escola e participem mais ativamente da educação de seus filhos. Criamos um programa, o “Família na Escola”. Os pais ou responsáveis se reúnem um sábado por bimestre e participam de aulas, os professores geram tarefas para eles e assim, pouco a pouco, temos obtido alguns resultados positivos.
FCG – Em que pilares está assentado o compromisso da Secretaria com a valorização e a qualificação dos profissionais da educação pública, tanto em melhorias trabalhistas como na atualização?
CM – Respeito às melhorias salariais, que são uma parte importante da valorização dos profissionais da educação. Hoje o estado paga o melhor salário do Brasil. A outra parte da valorização é a formação continuada dos profissionais para o melhor desempenho de suas funções e a elevação de sua autoestima.
FCG – Já se pode afirmar com resultados que os alunos da escola pública do Estado competem nos vestibulares do País em igualdade com alunos de escolas privadas?
CM – Por enquanto, tão somente os que estudam em escolas de tempo integral.
FCG – Numa época de crise, como foi possível ao governo investir tanto na melhoria e na ampliação da rede física do ensino?
CM – O Governador decidiu dar prioridade a educação e tomou algumas medidas importantes. A primeira foi pagar os salários em dia. A segunda: priorizar a reforma de escolas que nunca tinham sido sequer pintadas. O trabalho começou pelas que estavam em pior estado, e foi investido um total de R$ 74 milhões. Estamos longe da perfeição, mas temos avançado bastante.