Convicto de que o esporte em Mato Grosso do Sul está passando nestes últimos oito anos por uma verdadeira transformação, Marcelo Ferreira Miranda, diretor-presidente da Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul), destaca que o fator que faz a diferença em favor dos resultados que vem alcançando é o olhar de um governo que trata o esporte, a atividade física e o lazer como política pública essencial. Na entrevista exclusiva à FOLHA DE CAMPO GRANDE, Marcelo Miranda aborda como a Fundação atravessa a pandemia, o alcance e os resultados dos programas e as intervenções voltadas aos esportes como fator de inclusão social e econômica essencial. Orgulhoso, ressalta que o desporto não é tratado apenas como elemento relacionado ao entretenimento e qualidade de vida, mas como política pública de desenvolvimento. Formado em Educação Física pela UFMS, Marcelo é pós-graduado em Treinamento Desportivo pela PUC-MG e tem mestrado em Motricidade Humana (Unicamp). Técnico vice-campeão nacional de handebol em 1989, já levou seus conceitos inovadores à UCDB, onde implantou o primeiro curso de bacharelado de Educação Física do Estado, membro efetivo do Conselho Federal de Educação Física e diretor-presidente da Fundesporte desde 2015.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – Qual a importância do esporte no “novo normal” devido à pandemia?
MARCELO MIRANDA – A Covid-19 trouxe, além da crise sanitária e econômica, inúmeras incertezas e discussões. Porém, se existe algo inquestionável, é a importância do esporte na vida de todos. A ciência provou que a prática de exercícios físicos de forma regular e moderada fortalece o sistema imunológico e ajuda a evitar o desenvolvimento de comorbidades que agravam os efeitos do coronavírus. Entretanto, muitas pessoas, devido ao momento, tiveram de abandonar sua rotina de exercícios. Além disso, tiveram sua saúde mental prejudicada, pois poucas coisas na vida são mais benéficas para a mente do que a prática esportiva. Mas é necessário olhar para frente e para todos. É preciso e estamos trabalhando o esporte a partir de três de vieses: educacional, econômico e, sobretudo, no que diz respeito à saúde. É urgente a retomada de uma rotina saudável, em especial para aqueles que venceram a Covid e precisam recuperar uma condição física plena, o que leva tempo, dedicação e condições adequadas.
MM – Sabemos, por estudos, que apenas 3% das pessoas vão se exercitar em academias. É muito pouco. A grande maioria, cerca de 70%, prefere fazer exercícios ao ar livre. Quanto a isso, me orgulho de fazer parte de um governo que intercedeu junto às prefeituras para que, mesmo no período mais difícil da pandemia, mantivessem os parques e praças abertos. Além disso, em pelo menos 72 cidades o governo investiu na reforma e manutenção destas áreas tão importantes para todos nós. Exemplos dessa ação podemos ver aqui na Capital, no Parque das Nações, com obras a todo o vapor, e no Parque dos Poderes, onde as calçadas estão sendo reformadas e uma ciclovia que sairá de lá e irá até perto do Shopping Campo Grande. É bom lembrar que estes locais originalmente eram de contemplação, mas as pessoas os escolheram para se exercitar, respirar ar puro em meio à vegetação.
FCG – No último dia 8 foi celebrado o Dia Internacional da Mulher, a Fundesporte tem alguma ação específica nesta data?
MM – Como parte das atividades desenvolvidas pelo Governo do Estado para a celebração do Mês das Mulheres, a Fundesporte e a Subsecretaria de Políticas Públicas para Mulheres organizam roda de conversa com o tema ‘O Protagonismo das Mulheres no Esporte’. Com uma dinâmica informal e descontraída, todas as participantes terão a oportunidade de apresentar, de forma organizada, suas ideias e proposições sobre o assunto, para enriquecer o debate e contribuir para o futuro do esporte feminino em Mato Grosso do Sul. O encontro terá a presença de atletas e mulheres relevantes na cena esportiva do Estado e objetiva discutir os desafios enfrentados pelas desportistas inseridas neste meio, além de pensar em políticas públicas voltadas ao segmento.
FCG – Quais as condições necessárias para consolidar uma política pública para investir em esportes de alto nível?
MM – Quando assumi a Fundesporte, em 2015, a instituição ouviu toda a comunidade esportiva para fazer o plano de ação. O Fórum Estadual estabeleceu metas em todas as dimensões. E tenho orgulho em dizer que praticamente todas foram atingidas. Foi democratizado o acesso à prática esportiva com o Programa MS Desporto Escolar (Prodesc). Hoje, são mais de 900 projetos em todo o Estado, oferecendo treinamento a crianças e jovens em mais de 22 modalidades olímpicas e paralímpicas.
FCG – Para o esporte existe a necessidade de criar uma secretaria ou a fundação é suficiente?
MM – O governo trata o esporte, a atividade física e o lazer como política pública essencial. O governador e os secretários Eduardo Riedel e Sergio de Paula sempre nos cobraram e orientaram, dando total apoio. Eles têm o esporte não só como entretenimento, mas como instrumento de transformação social e desenvolvimento econômico. Fico muito orgulhoso em participar deste projeto e espero chegar ao final dos 8 anos com muitas histórias boas para contar.
FCG – O esporte é uma ferramenta de inclusão e de opção a outros caminhos, como as drogas e a violência?
MM – Sem dúvida alguma. As dimensões do esporte são impressionantes. O esporte ensina e fomenta a dedicação, a disciplina, a educação, o respeito, conceitos de cidadania para toda a vida. Por isso, a Constituição trata o esporte como direito fundamental a todos. Por isso, neste ano ainda estamos com um projeto de levar professores de Educação Física nas aldeias e quilombos, como forma de trazer o jovem para este mundo saudável, abrindo as portas do futuro com mais oportunidades.
FCG – O governador anunciou a instalação de campos de futebol com grama sintética em todos os municípios do Estado. Qual a meta a ser atingida?
MM – Em primeiro lugar, este é um projeto audacioso e só um governo comprometido com a causa para tocá-lo. Vamos construir um campo de futebol, com as medidas do futebol soçaite, e ao lado uma quadra de basquete na modalidade de 3 x 3. O governo constrói e as prefeituras cuidam. Este convênio tem tudo para ser o maior sucesso no Estado.
FCG – O senhor tem alguma frustação nestes sete anos à frente da Fundesporte?
MM – Duas. Uma que, por mais que tentamos, insistimos, nos preparamos, não conseguimos melhorar. O futebol profissional precisa se modernizar, isto desde a federação até os possíveis investidores. Temos que seguir o exemplo de Mato Grosso, que há 15 anos começou um projeto moderno e já vem colhendo bons resultados. Mas a maior decepção aconteceu ano passado. Mesmo após muito lobby e grande expectativa, Campo Grande foi preterida por Brasília, pela Federação Internacional de Vôlei, como sede brasileira da temporada de 2022 da Liga das Nações de Vôlei. Como era previsto, o problema de goteiras no ginásio Guanandizão foi o principal motivo para que a etapa fosse disputada longe de Mato Grosso do Sul. Nem mesmo a reforma de R$ 2,7 milhões, feita pela Prefeitura de Campo Grande com recursos do governo do Estado, foi capaz de conter as goteiras que assombram os dirigentes esportivos interessados em trazer grandes eventos para a cidade. É lamentável. Espero que a prefeitura consiga resolver esta questão tão simples, que passou despercebida na última reforma.