É o primeiro mandato de Gerson Claro (PP) e já na estreia assume um dos mais complexos e operosos papéis políticos delegados por escolha superior: ser o líder do governo na Assembleia Legislativa. Para ele, trata-se de um exercício muito exigente, porém produtivo no sentido de acrescentar ganhos em maturidade, paciência, visão e capacidade de leituras para avaliar os problemas e pensar as soluções.
Natural de Itaporã e de família humilde, cedo já assumia responsabilidades para auxiliar no sustento da família. Fez de quase tudo, desde entregar marmitas preparadas pela mãe a outros serviços. Percorria quilômetros para estudar. Formou-se em História e em Direito, deu aulas para crianças na rede pública. Acumula experiências, mas afirma que continua seu aprendizado.
Nesta entrevista exclusiva à FOLHA, Gerson Claro resume sua primeira experiência com mandato eletivo na política, comenta sobre os impactos da pandemia do Covid-19 no Estado e avalia os desempenhos do presidente da República, do governador e do prefeito de Campo Grande.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – É seu primeiro cargo eletivo na política. Qual o balanço desses 18 meses de mandato? O que já conseguiu e o que ainda não conseguiu?
GERSON CLARO – Temos muitos projetos e ideias e trabalhamos para corresponder com responsabilidade e eficiência às expectativas depositadas neste mandato. Já tivemos algumas vitórias bem importantes, como a garantia de construção do ramal do gás em Sidrolândia, algo que vínhamos articulando há algum tempo. Também conseguimos “destravar” o programa de regularização fundiária, que prevê a isenção de tributos e emolumentos a beneficiários de programas da Reforma Agrária e de habitações populares em nosso Estado. Como líder do Governo, também temos trânsito para levar muitas demandas dos municípios ao governador Reinaldo Azambuja e aos secretários de Estado. Dessa forma, conseguimos ajudar os prefeitos a garantir importantes conquistas.
FCG – Por causa do coronavírus, o desempenho dos deputados pode ser prejudicado?
GC – Não. A Assembleia Legislativa não deixou de trabalhar por conta da pandemia. Temos realizado sessões remotas, tanto da CCJR (Comissão de Constituição, Justiça e Redação), da qual eu faço parte, quanto no plenário, votando matérias importantes para o Estado.
FCG – O que é mais difícil para quem está na liderança de um governo: defender medidas impopulares, como a negativa de
reajuste salarial, ou resistir à pressão de políticos, aliados e amigos que buscam os mais diversos tipos de apoio, político ou pessoal?
GC – Entendo que devemos pensar no macro. Às vezes, medidas impopulares são importantes para a maioria da população, mesmo que desagradem interesses de alguns segmentos. O importante é sempre exercer o nosso papel fundamentado na legislação. É o nosso dever ter responsabilidade em nossa função de líder, ouvindo o povo, as lideranças políticas, pesquisando, divergindo e tomando decisões que realmente atendam aos anseios da sociedade como um todo. Por outro lado, pressão sempre existiu e faz parte dessa arte tão bonita e complexa que é a política. Temos de enfrentar tudo isso com naturalidade.
FCG – As medidas de prevenção e combate ao coronavírus editadas pelo governo são suficientes ou precisam ser mais rígidas para evitar o relaxamento?
GC – O governador Reinaldo Azambuja tem feito tudo que está ao alcance para conter a pandemia do Coronavírus. Podemos citar, entre outras ações, a ampliação dos leitos do SUS e privados, a montagem do hospital de campanha, a suspensão de atividades com grandes aglomerações, o fim das aulas presenciais nas escolas públicas e particulares, o fechamento das fronteiras com países vizinhos, além da liberação de recursos e aquisição de insumos para unidades de saúde da Capital e do interior. Apesar das vidas que lamentavelmente foram perdidas, essas e outras medidas estão mantendo Mato Grosso do Sul em último lugar no ranking de mortes e número de casos entre todos os estados brasileiros.
FCG – O senhor assumiu compromissos bem definidos com diversos municípios em sua campanha. Está sendo bem atendido para poder cumpri-los ou a crise não permitiu?
GC – A crise econômica está afetando o mundo inteiro, mas vejo que Mato Grosso do Sul vem se segurando bem nesse sentido. Como líder do Governo, tenho conseguido garantir uma boa interlocução entre prefeitos, vereadores e secretários de Estado, para os quais levamos as principais demandas dos municípios. Também contamos com a liberação das emendas parlamentares, que dão essa sustentação para que nós deputados possamos dar apoio às prefeituras em vários setores, sobretudo na saúde e assistência social.
FCG – Como o senhor avalia os governos de Jair Bolsonaro, Reinaldo Azambuja e Marquinhos Trad? (se puder, dê notas de zero a 10)
GC – Como todos os presidentes, Bolsonaro tem tido erros e acertos. No primeiro ano de governo, as melhores notícias vieram da agenda econômica, com redução de taxa de juros e manutenção dos empregos formais. A reforma da Previdência, apesar de polêmica, também pode ser citada como um acerto, a partir da economia nos cofres públicos. Mas ele erra quando minimiza a gravidade da pandemia, quando promove o embate com prefeitos e governadores e também quando demonstra pouca habilidade nas tratativas políticas, o que o faz perder aliados e popularidade.
Sobre a administração da Capital, Marquinhos Trad vem desenvolvendo um bom trabalho. Assim como todos os prefeitos de nosso Estado, tem atuado da melhor forma para conter a pandemia e manter o ritmo da economia. Para isso, tem contado bastante com a ajuda do Governo do Estado, que vem destinando recursos tanto para a área de saúde quanto para a realização de obras estratégicas. Entretanto, o Progressistas tem seu próprio projeto para governar Campo Grande e nossas propostas para saúde, educação, emprego, habitação e segurança pública serão apresentadas à população pelo nosso pré-candidato, Esacheu Nascimento. A respeito do governo Reinaldo Azambuja, podemos citar inúmeras conquistas. Em cinco anos, foram mais de R$ 6 bilhões investidos em saúde, cerca de 18 mil unidades habitacionais entregues, pelo menos R$ 130 milhões aplicados em segurança pública, além de R$ 1,2 bilhão em saneamento básico e cerca de R$ 6 bilhões em obras de infraestrutura urbana e viária. Isso sem contar com investimento de R$ 45 bilhões em desenvolvimento econômico, criação de 153 novas empresas e geração de mais de 18 mil novos empregos. Esses são alguns dados que nos dão a certeza de que o Estado está trilhando bons caminhos, apesar de toda a crise enfrentada.
FCG – Por causa da crise econômica e dos impactos da pandemia, a economia sofreu forte abalo. Uma das ameaças é o desemprego. O que o Estado precisa fazer para garantir mais vagas de trabalho?
GC – A média de desocupação em Mato Grosso do Sul no primeiro trimestre deste ano, 7,6%, é a segunda menor registrada no País. Sabemos que a pandemia do Covid-19 está afetando a economia do mundo todo, e o governo do Estado está preocupado com isso e trabalhando no sentido de apoiar as cadeias produtivas, dialogando com todos os segmentos na tentativa de minimizar os impactos na economia. Para auxiliar quem gera emprego, o governador Reinaldo tomou medidas como a prorrogação do prazo de pagamento das parcelas do FCO e do Programa de Recuperação Fiscal do ICMS, além de ter criado linhas de crédito especiais para as empresas.