A visão do empresário com atuação forte no agronegócio e no empreendedorismo tem dado o suporte necessário para o governador Reinaldo Azambuja gerenciar um Estado com graves problemas estruturais no campo administrativo-financeiro. A presença de Eduardo Corrêa Riedel, 46 anos, na antessala do gabinete do governador, como secretário de Governo e Gestão Estratégica, tem sido fundamental na reorganização da máquina administrativa e nos ajustes, a mão de ferro, para que o governo opere com equilíbrio financeiro em meio a crise.
Riedel, entrevistado desta semana da FOLHA DE CAMPO GRANDE, foi presidente da Famasul (Federação de Agricultura e Pecuária de MS), presidente do Conselho Deliberativo do Sebrae/MS e chegou à vice-presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), em 2012. Graduado em Ciências Biológicas, com bacharelado em Genética, tem MBA em gestão empresarial e mestrado em Zootecnia. Atuou também por muitos anos na iniciativa privada, nas áreas de produção de carne bovina, cana e grãos.
Agora na gestão pública, um novo desafio, seu papel é estratégico, faz mover as ações de governo e, ao mesmo tempo, controla o custeio. Sua pasta monitora toda a engrenagem dessa máquina e define as ações, metas e prioridades, em consonância com o plano de governo de Reinaldo Azambuja. “A dinâmica do setor público é gratificante, o que você constrói tem um impacto muito grande na vida das pessoas”, diz o secretário, que ganhou a confiança do governador e teve seu nome cogitado para disputar a prefeitura de Campo Grande.
Nesta entrevista, Eduardo Riedel fala dos avanços do governo tucano, em apenas um ano e meio, destacando que a solidez do plano de governo do então candidato Reinaldo Azambuja foi fundamental para implantar uma gestão de mudanças e cumprir metas onde a prioridade eram as pessoas. Também citou de programas relevantes e de grande impacto na sociedade, como a Caravana da Saúde, e da capacidade do Estado de captar investimentos privados em meio a uma crise avassaladora do País – fruto da credibilidade do governo.
FOLHA DE CAMPO GRANDE – Quais os desafios do secretário ao assumir uma posição estratégica dentro do governo depois de acumular longa experiência no setor privado?
EDUARDO RIEDEL – Olha, a dinâmica do setor público é bem diferente, mas muito gratificante. Porque as ações que você constrói tem um impacto muito grande na vida das pessoas. O primeiro grande desafio foi organizar toda a estrutura de governo, com a reforma administrativa, que reduziu as secretarias e agrupou áreas estratégicas, como o meio ambiente e o desenvolvimento econômico, por exemplo. A partir daí, construímos um modelo de definição de prioridades. Vale lembrar que o candidato Reinaldo Azambuja tinha um plano muito sólido; ele andou pelo Estado todo, se reuniu, discutiu com a sociedade e preparou um projeto de governo. Isso foi uma base para a construção, juntos, de um plano de trabalho, hoje mensurado e monitorado pela nossa secretaria (de Governo e Gestão Estratégica). Talvez este seja nosso maior desafio: definir prioridades com as secretarias, identificar os indicadores, montar um plano e monitorar isso. Junto, vem toda a parte de suporte, planejamento, para dar ferramentas e condições para as secretarias trabalharem e cumprirem suas metas.
FCG- Quais os avanços que o senhor apontaria neste ano e meio do governo tucano?
RIEDEL – Aponto essa organização administrativa; em segundo, foi a concretização das metas. Não é atoa que o Reinaldo foi apontado como o governador que mais promessas de campanha cumpriu no primeiro ano. Isso é resultado direto destas estratégias; havia um plano de governo e foi colocado em prática. Você pegar diferentes áreas, como saúde, educação, segurança pública, infraestrutura. Em todas elas foi dado início do que está contemplado no plano, um esforço monstruoso com um orçamento engessado e, de todas as agravantes, a maior crise do País, literalmente quebrado. As pessoas, as vezes, não se dão conta dessa situação. Muitos estados não estão pagando funcionários, ou parcelando, adiando, nem os aposentados. A situação é muito séria. É preciso um esforço gigante para equacionar todas as ações dentro do orçamento. Mas, fizemos muita coisa. Entregamos mais de 80% das obras não concluídas no governo passado e, até o fim do ano entregamos o restante. Criamos e estruturamos um programa de atração do capital privado. Havia, em 2015, uma carteira de R$ de 36 bilhões de investimentos, num momento em que ninguém está investindo nada nesse País. A gente conseguiu vender muito bem as potencialidades do Estado. Agora entramos com o núcleo das parcerias público-privadas, para atrair ainda mais capital para infraestrutura e fomentar o desenvolvimento. São ações estruturantes e de longo prazo, que dão diretrizes e rumo para o desenvolvimento do Estado.
FCG – A Caravana da Saúde tem sido um dos programas vitais de um governo que prometeu grandes mudanças?
RIEDEL – A Caravana da Saúde foi muito baseada naquilo que foi definido no programa de campanha, que é a prioridade das pessoas. A saúde era apontada, de longe, como maior deficiência que existia. A Caravana é consequência e fruto de uma necessidade da população. Quando a gente olhou a estrutura da saúde, concluímos que era preciso fazer alguma coisa rápida, eficiente e de impacto, caso contrário não conseguíamos atender esse objetivo. Ai surgiu a Caravana, muitos criticaram. O grande diferencial é você fazer, acabar com as filas com dezenas de milhares de pessoas, e o principal: reestruturar a saúde do Estado. Onde a Caravana passa a saúde fica, é resultado do projeto de modernização da rede com algumas ações paralelas, como reestruturação e investimentos em equipamentos, laudos, readequações dos hospitais regionais, um novo modelo de governança. Esse é o grande projeto da saúde. A Caravana é o primeiro passo, ela entra eliminando a fila, tirando um grande passivo; ai entra a segunda etapa, que é a reestruturação geral da saúde.
FCG – Qual a avaliação que o senhor faz hoje do governo, considerando as dificuldades iniciais de gestão, uma avalanche de obras irregulares e inacabadas e o comprometimento da receita?
RIEDEL – A gente sempre olhou muito para frente, é claro que toda essa situação amarra muito. O governador Reinaldo sempre teve uma visão de Estado, não de governo. Sempre colocou isso muito claro. Então, a gente não pode projetar as ações para estes quatro anos tão somente, mas que gere resultado a médio e longo prazos. Isso é extremamente importante. Com todos esses problemas que vieram com a transição, caímos para dentro do governo para buscarmos soluções, sejam obras, organização de estradas, de gestão mesmo. Resolve, arruma, foi a determinação, a orientação do governador. Não adianta olharmos para trás.
FCG – De que forma o governo tem criado ambientes favoráveis ao crescimento do setor produtivo e atraído investimentos, apesar da crise?
RIEDEL – Primeiro com uma mensagem muito forte de segurança em relação aos contratos, investimentos, perfil do governo. Não é um governo que enxerga o empresariado como bicho papão ou inimigo. A gente tem uma clareza muito grande que governo não gera riqueza, quem gera riqueza é a iniciativa privada. O governo transforma o que arrecada, dá condições para essa iniciativa privada chegar e expandir nossa economia. E essa condição vem com programas específicos de incentivo, vem com infraestrutura adequada, agilidade na resposta das demandas das empresas, problemas de licenças, menos burocracia, infraestrutura. A cada momento que uma empresa que tem investimento importante ou empreendedor chega e diz que seu projeto não está andando por causa disso ou daquilo, o governo tem que resolver de imediato, como a questão do licenciamento, que era um problema emperrado. Foi uma estratégia ainda na transição muito vencedora, colocarmos o desenvolvimento econômico com o meio ambiente em uma pasta só. A mesma mão que tem o objetivo ou na visão do meio ambiente de brecar, é a mesma que tem para acelerar. Quando colocamos os dois juntos o equilíbrio naturalmente vem com responsabilidade ambiental e desenvolvimento, é impressionante a agilidade que se ganhou, somada a capacidade de gestão do nosso secretário (Jaime Verruck).
FCG – Hoje o Mato Grosso do Sul é um Estado de grandes oportunidades?
RIEDEL – sem dúvidas. Temos recursos naturais extraordinários, extensão territorial, boa infraestrutura, solo fértil, energia; temos perspectiva logística excepcional para o Pacífico e Atlântico e grandes centros consumidores, uma boa política de desenvolvi mento industrial e de atração de capital. Temos gente competente, espaço para crescer e diversificar nossa economia. Temos uma Capital fantástica, uma belíssima cidade; isso ajuda, atrai gente de fora, as pessoas se encantam com o Estado. Temos potencial muito grande para crescer ainda mais, gerando emprego e renda e fortalecendo a economia.
FCG – Qual a perspectiva futura de investimentos privados, como o governo está trabalhando esse cenário?
RIEDEL – Tem alguns programas bem delineados, de incentivo ao investimento a economia primaria, com olhar muito atento para o desenvolvimento em produtividade, seja pecuária ou agricultura, irrigação, suinocultura. Um pacote de programas de investimentos também na área industrial, outro ativo importante. Estamos duplicando o polo de celulose e a capacidade de geração de usinas de combustível, biomassa. No sul, temos um complexo de carnes em expansão; próximo de Campo Grande uma cadeia industrial muito forte ligada ao agronegócio. O Estado tem uma capacidade muito grande para atrair novas indústrias e o governo precisa continuar investindo num olhar de longo prazo para outras cadeias produtivas, mesmo aquelas que não tem tradição, não existem no Estado, mas chegam conforme o ambiente que possamos criar.
FCG – O governo anterior foi muito contemplado com recursos e programas pelo governo federal. Esta instabilidade do País tem atrapalhado a vinda de recursos, programas como PAC estão paralisados. Como o Estado tem digerido essa situação?
RIEDEL – Os recursos estão totalmente contingenciados, não é só para Mato Grosso do Sul, não é apenas uma questão política pontual. Na realidade, o País quebrou, infelizmente, não tem condições de cumprir as metas que projetou. São as famosas pedaladas fiscais, você olha o quadro de déficit do País nos últimos três anos, passamos de 15 bilhões para 58 bilhões. Chegamos a isso aliando o mau planejamento com o abuso em alguns conceitos econômicos. Portanto, a gente não pode esperar muito desse governo nesse momento. É uma receita muito concentrada, mas totalmente comprometida.
FCG – Como o governo tem conseguido equacionar diante desta situação de corte de verbas e comprometimento da receita para atender demandas, cumprir metas e atender as pessoas?
RIEDEL – É com muito ajuste. A gente faz o contingenciamento, é duro; os secretários reclamam, com razão, é corte de gasolina, diária, passagem. Um dia a dia muito regrado para podermos dar conta de atender o que é essencial. O governo corta contratos, viagens, e prioriza realmente o que é fundamental. Senão perdemos o controle e passamos apenas a administrar crises. Conseguimos o equilíbrio financeiro a mão de ferro.
FCG – E com um eventual governo de Michel Temer, podemos vislumbrar uma luz no fim do túnel?
RIEDEL – Em algumas situações, sim. Não podemos achar que mudou para o Temer e está resolvido o problema da situação financeira. A questão financeira continua, não vão rodar maquininha de fazer dinheiro. O que muda é com a perspectiva que pode ser criada, um novo governo, busca de credibilidade, uma base de apoio no Congresso. Vai depender muito da capacidade do Temer de sinalizar as mudanças necessárias. Temos que entender que chegamos nesta situação por falência de modelo. O economista Armínio Fraga (ex-presidente do Banco Central) falou, certa vez, que as instituições públicas foram sequestradas pelo corporativismo, e eu compartilho. Enfrentar esta situação é muito dura e o Brasil não o fez. Chegamos a um Estado extremamente grande, sem conseguir entregar o que a população precisa e espera e uma captação de recursos incompatível. Uma tempestade perfeita para o caos. Não podemos mais insistir com esse modelo. O que observo é que a população está ciente disso, caiu na percepção das pessoas. O Lula perdeu a chance de mudar. Ele tinha capital político, no seu segundo governo, com uma economia em alta, e poderia ter feito a reforma política, a reforma fiscal, as reformas gerais. Isso o Temer tem que analisar; são mudanças que podem fazer a macroeconomia se reanimar. Se ele emplacar de pronto uma agenda nesse sentido vamos longe.
FCG – De que forma o governo planeja o desenvolvimento sustentável e uniforme apostando nas vocações regionais?
ER – Quando a gente entende as diferenças regionais, o Estado tem essa característica. Temos três biomas, o Pantanal, o Cerrado e a Mata Atlântica, com biodiversidade muito grande. Temos climas diferentes, um Estado de transição, características de solos. Tudo isso, juntos, fizeram com que o Estado tivesse um desenvolvimento inomogêneo. Um Centro-Sul mais populoso, com IDH melhor em algumas cidades; um Bolsão mais carente, com grande extensão territorial e com maior dificuldade de investimentos; um Norte frágil em alguns aspectos, e o Pantanal com suas particularidades. Nessa política regional o Estado tem que olhar isso com muito carinho e está lá com a secretaria do Jaime Verruck (Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente) um trabalho muito específico relativo ao Plano de Desenvolvimento Regional, que atende ou busca, como objetivo estratégico, diminuir estas distancias e distorções.
FCG – Como o senhor avalia este momento político da Capital diante das turbulências com a troca de prefeitos e dificuldades administrativas?
RIEDEL – Acho ruim, num momento de crise nacional, viver esta situação em Campo Grande. Quem sofre á a população, o cidadão. Isso tira a credibilidade da classe política, tira a capacidade e interesse de investimentos. Tem que existir seriedade, credibilidade, existir foco no serviço público. As pessoas que estão hoje no poder tem que ter muita clareza de que elas estão a disposição da sociedade. Criar essa confiança é fundamental. E Campo Grande passou por momento de muita pouca confiança nos atores que estavam naquele momento. Isso tem que ser resgatado, e ai compete a todos os atores, Câmara de Vereadores, Executivo, a atuar para que seja resgatado todo esse projeto e processo de colocar novamente Campo Grande no centro da cena. Isso é fundamental para retomar os investimentos, organizar a cidade e criar o desenvolvimento.
FCG – O PSDB é a alternativa para esse resgate da administração municipal?
RIEDEL – O nosso partido PSDB apresenta quadros que possam responder a tudo isso que falei. No caso da Rose (Modesto, vice-governadora), é um quadro importante do partido, reúne todas as condições para poder puxar esse processo e promover as mudanças que a população tanto clama. Estaremos todos juntos nessa empreitada, o momento é de conversa, de aglutinação, busca de parcerias, para poder passar por uma campanha e, se eleita for, conduzir os destinos da Capital com outro viés. Ela (Rose) reúne todas as condições para isso.
FCG – Estamos falando de um projeto de reconstrução da cidade?
RIEDEL – Mais do que da Capital, reconstrução da credibilidade. Precisamos reconstruir, uma pegada firme na retomada da credibilidade, isso também no País, para que Campo Grande continue avançando. E a gente acredita que isso é possível.