A recondução de João Rocha (PSDB) à presidência da Câmara Municipal de Campo Grande foi tão pacífica e tranquila, que não seria insólito repetir a dose. No entanto, ele deixa que as coisas caminhem com naturalidade e que seus pares, democraticamente, decidam como conservar e aperfeiçoar a bem-sucedida dinâmica gerencial da Casa.
Nesta entrevista exclusiva à FOLHA, João Rocha defende o fortalecimento do legislativo, aborda os desafios da cidade, os conflitos de uma metrópole em processo constante de crescimento, o acesso da população à rotina da Câmara, o tamanho da representação legislativa com 29 vereadores e também avalia as gestões do governador Reinaldo Azambuja e do prefeito Marquinhos Trad diante das expectativas dos campo-grandenses.
FOLHA DE CAMPO GRANDE- Vereador, reeleito presidente da Câmara pela segunda vez, trânsito em todas as áreas e uma imagem sólida na sociedade. O que se pergunta na cidade é: com tantas condições favoráveis, porque não buscou um voo mais alto na política?
JOÃO ROCHA- Assumi um compromisso com as pessoas que me elegeram vereador e também com meus colegas da Câmara, que confiaram em mim e na minha trajetória, me alçando também à presidência da Casa de Leis. O projeto comum é o fortalecimento do legislativo. E sinto-me desde já com os apoios necessários para ser reconduzido a um novo mandato na presidência.
FCG- O que é mais difícil para um vereador: fiscalizar as ações do Executivo ou ser impedido de legislar em matéria financeira quando, por exemplo, há geração de despesas?
JR- É importante frisar que é aqui na Câmara que se aprova o orçamento da prefeitura, que se alocam verbas para utilização do dinheiro público de maneira criteriosa. É aqui no Legislativo do município que chegam as demandas da população. Entretanto, somos proibidos por lei de aprovar projetos que demandem despesas ao Executivo. O máximo que podemos fazer são projetos autorizativos. É uma situação um pouco frustrante, mas é a lei.
FCG- Uma cidade que cresce como Campo Grande sempre tem demandas novas, algumas insólitas. Por exemplo: muita gente está fechando bares e
JR- É verdade. O que a Câmara pode fazer é reunir as partes e de maneira consensual chegar a alguns acordos. De fato, em áreas residenciais é muito difícil chegar a algum tipo de consenso, mas a própria dinâmica da cidade tem criado corredores de bares, restaurantes etc, como o da Rua Bom Pastor. E a convivência tem sido pacífica. Esta situação se deve ao crescimento de Campo Grande, que hoje é uma metrópole.
FCG- O governo estadual viveu um problema complexo com a grande quantidade de obras inacabadas, o que motivou um desembolso que não estava previsto. Em âmbito municipal também aconteceu fato semelhante. Como foi que a Câmara agiu ou está agindo diante disso, tendo em vista o estrago da gestão anterior?
JR- O governo do Estado tem atuado com maestria nesta área, mesmo tendo que tomar medidas extremas, remédios amargos no começo do mandato. No âmbito municipal, da mesma maneira, a Câmara ajudou na captação de recursos, na busca de contrapartidas financeiras, na aprovação do Refis. E o governo do Estado também tem sido par da prefeitura com parcerias e contrapartidas.
FCG- As regras eleitorais, o novo modelo de financiamento de campanha e a matemática das eleições proporcionais ajudam ou atrapalham os candidatos?
JR- As regras são mais claras e permitem que candidatos que representam setores da população, seja no âmbito territorial ou de igrejas, profissionais ou outros, tenham mais possiblidade de se eleger. Eu mesmo sofri na pele, fui derrotado eleitoralmente em duas oportunidades – mesmo tendo um bom apoio da população, a parte financeira me derrotou.
FCG- Tem gente achando que o número de cadeiras do legislativo municipal é desnecessário ou excessivo. A Câmara com 29 vereadores está funcionando bem e é o ideal para a cidade?
JR- A cidade cresceu muito e se ampliaram os bairros e o próprio centro. É aqui que o cidadão bate à porta para solicitar solução aos seus problemas.
FCG- Quais suas avaliações, em resumo, sobre as gestões do prefeito Marquinhos Trad e do governador Reinaldo Azambuja?
JR- O Reinaldo assumiu o governo no meio de uma grande crise e decidiu fazer uma reestruturação no governo. Sabia da responsabilidade que tinha e teve que tomar decisões amargas para setores da população. Com o passar do tempo, vemos agora que ele estava certo. Faz um governo consistente e estabilizado, tendo cumprido 70% das metas estabelecidas e lançado um sem número de obras em quase todos os municípios. Sobre o prefeito, Marquinhos assumiu no meio de uma crise externa e interna da prefeitura, com a equipe desmotivada e sem capacitação. Ele conseguiu a coesão de sua equipe e tem realizado obras importantes na Capital.
FCG- O senhor está fazendo uma grande reforma na Câmara. Como isto é possível?
JR- Primeiro, preciso deixar claro que a obra é realizada com dinheiro do duodécimo. E segundo, que era necessário dar mais conforto e acessibilidade aos cidadãos que vêm até nós, além de proporcionar também melhores condições de trabalho para os funcionários da Casa.