Crise financeira e falhas de gestão levaram empresa a buscar reestruturação.


Após meses de tentativas frustradas para equilibrar suas finanças, o Grupo Safras, sediado em Mato Grosso, entrou com pedido de recuperação judicial. Com uma dívida estimada em R$ 2 bilhões, a companhia não conseguiu negociar soluções viáveis com seus credores, tornando a medida inevitável.
O portal The Agribiz divulgou a informação em primeira mão. Segundo fontes internas, os controladores do grupo, Dilceu Rossatto e Pedro Moraes Filho, CEO e sócio da empresa, resistiram à recuperação judicial até o último momento. Nos últimos meses, tentaram cortar custos operacionais devolvendo armazéns arrendados, mas as medidas se mostraram insuficientes diante da gravidade da situação financeira.
Falhas de gestão e impacto da fusão com a Copagri
A crise da companhia foi agravada por dificuldades na integração com a Copagri. Problemas no sistema de gestão dificultaram o controle financeiro, comprometendo a capacidade da empresa de administrar seus passivos de forma eficiente.
Principais credores e impacto da dívida
Entre os credores do Grupo Safras está a financeira Flowinvest, com uma exposição superior a R$ 300 milhões via um Fundo de Investimento em Direitos Creditórios (FIDC). O Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal também figuram entre os principais credores da empresa.
O advogado Roberto Isquierdo, representante jurídico da Flowinvest, declarou ao portal AgFeed que a empresa tem interesse na reestruturação da companhia, mas descartou qualquer possibilidade de assumir o controle do grupo. “Nosso foco é liquidez. Queremos que o Grupo Safras consiga se reerguer”, afirmou.
Além disso, a empresa também herdou da Copagri um Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) no valor de R$ 150 milhões, com investidores como Vectis e Itaú Asset (fundos VCRA11 e RURA11). Até então, o grupo mantinha os pagamentos desses títulos em dia, mas a recuperação judicial pode mudar esse cenário drasticamente.
Recuperação judicial e desafios futuros
A recuperação judicial pode resultar em descontos de pelo menos 50% nas dívidas e atrasos nos pagamentos aos credores. O mercado questiona a viabilidade financeira do Grupo Safras, visto que seus ativos são avaliados em aproximadamente R$ 1 bilhão – metade do passivo total.
A crise também gera preocupação entre investidores do setor agro, com previsão de desvalorização de ativos e perdas significativas para detentores de títulos como os CRAs. Empresas ligadas ao setor precisarão acompanhar de perto o processo, pois um fracasso na reestruturação financeira pode resultar em impactos negativos no mercado.
Novo comando e estratégia para recuperação
Para liderar o processo de reestruturação, o Grupo Safras contratou Carlos Eduardo de Grossi Pereira, conhecido como “Cacá”, especialista em reestruturações empresariais. Pereira, que teve passagem de sucesso pela GTFoods, assumiu o desafio de renegociar as dívidas e reduzir passivos.
Entre as medidas adotadas, estão o fechamento de escritórios em Lucas do Rio Verde (MT) e Curitiba (PR), além da redução da capacidade de armazenagem em 150 mil toneladas. A empresa também busca parcerias estratégicas, incluindo negociações com o BTG Pactual para viabilizar operações de armazenagem e gerar caixa.
Futuro dos ativos estratégicos
Mesmo em meio à crise, os ativos do Grupo Safras no setor de bioenergia e processamento de grãos são considerados estratégicos para a recuperação. A empresa possui uma usina de etanol de milho em Sorriso (MT) com capacidade de produzir 43 milhões de litros anuais, além de unidades de processamento de grãos herdadas da Copagri.
Pereira aposta que esses ativos podem atrair investidores estrangeiros interessados no agronegócio brasileiro, criando oportunidades para o grupo se reerguer financeiramente.
A recuperação judicial marca um momento crítico para o Grupo Safras. Apesar do cenário desafiador, as ações adotadas demonstram um esforço para preservar ativos, buscar soluções viáveis para credores e manter a operação dentro do setor agroindustrial.
Com informações do Compre Rural