Carimbado por diversas e recorrentes intervenções em vídeos e entrevistas, manifestando-se como defensor e articulador da compra de vacinas e medicamentos do tratamento precoce pela iniciativa privada, o empresário Carlos Wizard foi à CPI do Senado para duas atitudes: a primeira, ocupando o microfone para recitar trechos da Bíblia, engrandecer-se pelo empreendedorismo e ações filantrópicas e negar, taxativamente, sua participação e a existência do chamado “gabinete paralelo” que atuou para Jair Bolsonaro na questão da pandemia.
A segunda atitude de Wizard na casa senatorial foi escorar-se num habeas corpus do STF para permanecer em silêncio e passar o tempo todo ignorando as perguntas dos parlamentares. Negou até mesmo os vídeos e áudios em que fazia o que negava. Isso reforçou as suspeitas sobre a existência de um colegiado não-governamental dando palpites ao governo sobre a pandemia. “Se o gabinete paralelo existiu, eu nunca participei nem tomei conhecimento”, afirmou o empresário, que foi citado diversas vezes na CPI como integrante do grupo.
“Logo, logo você vai ver que o Brasil vai ser forrado de medicamentos da fase inicial do tratamento, cloroquina, hidroxicloroquina”, disse Carlos Wizard em uma live da revista Istoé Dinheiro realizada em maio, pouco depois de o general Eduardo Pazuello assumir como ministro interino da Saúde. Na mesma entrevista o empresário afirmou que o ex-ministro Pazuello deu a ele “a missão” de acompanhar os contratos com fornecedores de insumos de saúde e participar de uma comissão para este fim.
Wizard não é médico nem possui experiência na área de saúde, mas organizou um grupo de discussões com médicos defensores de tratamentos sem comprovação para discutir a pandemia. À CPI, Wizard afirmou em sua fala inicial que jamais participou de nenhuma reunião em privado com o presidente. “Participei de eventos públicos em que o presidente estava presente”, afirmou Wizard. “Jamais tive influência sobre o pensamento do presidente”.