A valorização do preço do boi gordo anima os pecuaristas a voltarem a investir na atividade, aumentando a produtividade no campo e, com isso, elevando a produção de carne para atender os mercados interno e externo. Para equilibrar esta equação, os investimentos em genética serão essenciais. Segundo o vice-presidente da Associação Brasileira de Hereford e Braford (ABHB), Eduardo Eichenberg, com a depreciação de preços dos últimos anos, muitos produtores trocaram de atividade.
Porém, conforme o dirigente, diante da manutenção alta das cotações da carne, a perspectiva é de uma elevação da produtividade sem a necessidade de aumento da área de produção. “Daí a importância do trabalho genético. O cruzamento com as raças Hereford e Braford tem muito a contribuir com precocidade, tamanho de carcaça, qualidade da carne. São investimentos com incremento de produtividade que beneficiam a economia, elevando a produção para atender os mercados interno e externo”, explica.
Eichenberg salienta que o ano de 2019 contribuiu com uma série de fatores para este cenário. Nos três primeiros trimestres, já apresentou um maior volume de exportações se comparado a 2018. “Junto da demanda internacional, tivemos o aumento do dólar, o que estimulou também as vendas”, elucida.
O dirigente também destaca o trabalho do governo em abrir novos mercados para a carne brasileira. “Chegamos no fim do ano com um crescimento bastante expressivo das importações por parte da China, resultado de um problema produtivo causado pela Peste Suína. Isso os levou a buscar mais fontes de proteína, não só a carne bovina, mas também a suína e a de frango, justamente nesta época, quando temos uma demanda maior da carne em razão das festas de fim de ano”, observa.
Além disso, mesmo em ritmo lento, há uma recuperação da economia que, por sua vez, está alicerçada no consumo de carne. “No momento em que o poder aquisitivo da população aumenta, migram-se os hábitos de consumo, crescendo a procura por proteína vermelha. Em contrapartida, em um período de crise, a carne bovina é substituída por outras opções mais acessíveis”, ressalta Eichenberg.
O vice-presidente da ABHB evidencia também que os preços do boi gordo vinham depreciados, com valores similares ao período entre 2015 e 2016, momento de turbulência econômica que desencadeou uma forte diminuição do consumo, já que historicamente o Brasil absorve cerca de 80% da produção de carne. “Nós, pecuaristas, somos altamente dependentes do consumo interno. Tal alta veio no momento necessário, embora aqueles que possuem, principalmente, animais cruzados com Hereford e com Braford já conseguissem abastecer nichos de poder aquisitivo maior, e, consequentemente, serem melhor remunerados pelos seus animais”, esclarece.
De acordo com Eichenberg, o efeito vem em cascata para as demais categorias. Com a valorização do boi gordo, animais de reposição de cria também tendem a ter uma elevação. “As perspectivas para 2020 são positivas, pois mesmo que haja alguma perda nas cotações praticadas hoje, dificilmente o preço da carne recuará a patamares inferiores aos registrados em 2019 ou mesmo em anos anteriores. A demanda chinesa deve se manter por mais alguns anos até conseguirem se restabelecer”, pontua.