Nem os mais incompetentes e mal vistos dirigentes do restante do planeta desceram a um nível tão baixo de impopularidade. Michel Temer (MDB) bate recorde sobre recorde no ranking de rejeição política e administrativa. Chega a ser um fato deprimente para seus correligionários e vergonhoso para o Brasil e os brasileiros ante as demais nações.
Em 2017, levantamento da consultoria Eurasia apontava que a aprovação ao presidente brasileiro, na casa dos 3%, era naquele momento mais baixa do que a de governantes impopulares como o venezuelano Nicolas Maduro e o sul-africano Jacob Zuma. As pesquisas daquele ano já haviam apontado Temer como o presidente mais impopular da história recente do Brasil, tendo seu governo ultrapassado até mesmo a reprovação verificada nos últimos meses do governo José Sarney (1985-1990).
Se em 2017 a situação era tão desconfortável, piorou agora, que Temer entrou em período de eleições e já completou dois anos no poder. Os números mais recentes sobre as avaliações da opinião pública foram divulgados pelo DataFolha no dia10 deste mês e confirmam que Temer conseguiu ser pior ou mais impopular até que Dilma Rousseff, a quem substituiu.
Segundo o DataFolha, o governo de Temer alcançou 82% de reprovação. O índice é ainda maior (12 pontos percentuais) que o registrado no levantamento anterior, em abril. O Datafolha ouviu 2.824 pessoas em 174 municípios entre os dias 6 e 7 de junho. Além dos 82% de ruim ou péssimo e dos 3% de ótimo ou bom, a gestão do emedebista foi considerada regular por 14% dos entrevistados. O índice de rejeição de Temer bate o de Dilma, que em agosto de 2015 atingiu 71% entre os brasileiros.
FATORES
Para os especialistas, são dois os principais motivos dessa rejeição: as medidas desastradas na economia e as péssimas escolhas dos auxiliares de primeiro e segundo escalões, notadamente no aspecto ético. Quando Temer assumiu em 2016, após contribuir com a derrubada da presidente Dilma, 80% de seu staff de ministros e de segundo escalão tinham problemas com denúncias de corrupção e outros crimes.
Além da suspeição que pesa sobre seu governo – incluídas as denúncias das quais o próprio Temer tem escapado graças à blindagem de sua base congressual -, outro item fundamental para a massacrante rejeição popular é a política econômica implementada até agora. Após divulgar uma pesquisa que aponta um índice de reprovação de 82%, o Datafolha aponta que sete a cada dez brasileiros avaliam que a situação econômica do país se deteriorou nos últimos meses.
De acordo com os dados, 72% dos entrevistados consideram que a situação do país piorou, contra apenas 6% que acreditam na melhora. O salto para um clima de perspectiva negativa generalizado só vem aumentando. Em abril eram 52% os que afirmavam que o país havia piorado. Assim como na avaliação do governo, os números sobre a perspectiva negativa dos brasileiros também bateu recorde.
Desde maio de 2016 o índice dos que avaliavam que a situação havia piorado estava na casa dos 60%, tendo caído para 52% no início de abril deste ano. Num país com mais de 13 milhões de desempregados e cujo valor do combustível aumenta quase que diariamente, com o botijão de gás custando quase R$ 100,00, quando os entrevistados eram questionados sobre a situação econômica pessoal, 49% dizem ter passado por retrocesso, sendo que esse índice era de 42% há dois meses. Apenas 10% declaram avanço.
A pesquisa ainda revela que a expectativa para o futuro também não é boa. Segundo o Datafolha, ao contrário de abril, quando os que demonstravam otimismo eram numericamente superiores aos que manifestavam pessimismo, agora os que afirmam que a situação vai piorar nos próximos meses somam 32%, contra 26% dos que acreditam em melhora da economia.
REFLEXO ELEITORAL
O desgoverno de Temer faz várias vítimas em seu círculo de apoio político eleitoral e os desgastes se refletem impiedosamente. O caso mais emblemático é do seu ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, que deixou o ministério para ser candidato à sucessão presidencial e em todas as pesquisas o seu nome não passa da média de 1,5% a 2,5%.
Temer queria ser candidato à própria sucessão, apoiando-se na certeza de que as mexidas econômicas o transformariam no “salvador da Pátria”. Errou feio. Com os equívocos das reformas trabalhista e previdenciária e barbeiragens grosseiras como a política de preços dos combustíveis – pano de fundo da maior greve de caminhoneiros da história e que paralisou o País mais de uma semana – o presidente constatou que não teria chance alguma na disputa e deixou o abacaxi para Meirelles descascar.