As chapas-laranja – como ficaram conhecidas as candidaturas lançadas e utilizadas pelos dirigentes apenas para “esquentar” o repasse das verbas do fundo partidário – estão sendo denunciadas e investigadas em vários estados, especialmente depois de reportagem instigante feita pela “Folha de São Paulo”. Segundo a imprensa ou por denúncia e investigação do Ministério Público e Justiça Eleitoral, informou-se que siglas atuantes em Mato Grosso do Sul – como o PRB, do pastor Wilton Acosta, e o PSD, do prefeito Marquinhos Trad – caíram na vala da suspeição patrocinando candidaturas sem representação eleitoral expressiva, mas garantindo a seus partidos consideráveis fatias do fundo.
Um dos casos que mais chamaram a atenção foi matéria de destaque do jornal diário “O Estado”. Na edição do dia 26 de fevereiro, a manchete da capa afirma: “Laranjas no PSD de Marquinhos”. E um reforço no subtítulo, igualmente explosivo: “Só a recepcionista do partido recebeu R$ 100 mil para a campanha”. Na página interna, a chamada-título dispara: “Candidatas do PSD gastaram mais de R$ 200 por voto no Estado”. Marquinhos era do MDB antes de assinar a ficha de filiação ao PSD, presidido pelo atual secretário de Governo e Relações Institucionais do prefeito, o também advogado Antonio Cezar Lacerda Alves.
BAIXO DESEMPENHO
Na matéria, o jornal relata: “O Partido Social Democrata, do prefeito Marquinhos Trad, e que recentemente passou a ser presidido pelo seu irmão, senador Nelsinho Trad (PSD-MS), está entre os que apresentaram nas últimas eleições candidatas com desempenho eleitoral baixo ou praticamente nulo, mesmo levando em conta a liberação dos recursos do fundo de campanha, o que tem levantado a suspeita sobre o verdadeiro objetivo dessas candidaturas, ensejando inclusive investigações pela Justiça Eleitoral em outros estados”.
Em seguida, a matéria destaca que “no caso do PSD de Mato Grosso do Sul, que destinou 35% para as mulheres, o desempenho delas chega a praticamente R$ 200 por voto em alguns casos, muito acima do alcançado pelo deputado federal Fábio Trad (PSD-MS) que chegou a uma média de R$ 6 por voto, considerando os R$ 550 mil que recebeu do PSD para chegar aos 89 mil votos”.
E o jornal prossegue: “A utilização desses recursos de forma suspeita e passível de melhores esclarecimentos, fez com que esse assunto passasse a ser tratado como o caso das candidatas laranjas. No PSD, uma delas inclusive trabalha como recepcionista do partido. Patrícia Ribeiro recebeu R$ 100 mil de fundo de campanha e obteve 507 votos; e o presidente regional do partido insistiu em dizer que na avaliação da legenda era uma das mais promissoras.
Apurou-se que “a advogada Micheli Saracho também recebeu o mesmo valor, para obter pouco mais que o dobro de votos de Patrícia Ribeiro. Entre elas o que difere também é que Michele aparece com o valor de despesas pagas como zerado. No ranking das que mais receberam, Marina Miranda recebeu R$ 80 mil do fundo de financiamento de campanha para 514 votos. A empresária Simona Silva recebeu R$ 30 mil com resultado de 156 votos”. Afastado da direção partidária dias antes da publicação da reportagem, Lacerda negou as irregularidades, assegurando que só uma candidata tinha recebido R$ 100 mil.
CUSTO-BENEFÍCIO
Dirigido por Wilton Acosta – um pastor evangélico que em 2018 candidatou-se a deputado federal e ficou na suplência – o PRB de Mato Grosso do Sul está na mesma canoa do PSD e outros partidos suspeitos de fazer das candidaturas femininas um duto para canalizar verbas do fundo partidário. As suspeitas recaíram nos dados da Justiça Eleitoral revelando que a servidora Gilsy Arce, inscrita como candidata a deputada estadual, recebeu do partido R$ 760 mil para obter 491 votos.
Segundo Gilsy, seus gastos incluíram mais de R$ 360 mil com pessoal (cabos eleitorais pincipalmente) e quase R$ 90 mil com materiais impressos (santinhos, botons e colinhas). As suspeitas são rebatidas por Acosta e por Edson Bobadilha, coordenador de campanha de Gilsy. O dirigente sustenta que nada existe de ilegal com a candidatura ou com a transferência de recursos, operação aprovada pela Justiça Eleitoral. Bobadilha disse que a prestação de contas demonstra a lisura e a ausência de irregularidades, além do que a candidata tinha potencial para justificar o investimento do partido. Contudo, o resultado das urnas e o tamanho do investimento contestam esta versão sobre o custo-benefício do investimento.
ANTECEDENTE
Em Setembro de 2016, na campanha sucessória de Campo Grande, o empresário Arnaldo Britto Moura Jr, dono da empresa 4 Rodas Comércio de Peças, foi à Polícia Federal para denunciar que havia sido usado como laranja e caixa 2 pelo prefeito Marquinhos Trad. O fato foi noticiado por diversos veículos, entre os quais o Blog do Nélio.
A denúncia de Britto Jr ao Ministério Público Federal dava conta que ele recebeu R$ 50 mil em depósito na conta empresarial feito por assessores de Marquinhos Trad. E ele então teve que emitir um cheque de igual valor para entregar ao candidato como doação de campanha. E ainda, segundo suas palavras, disse que o CNPJ de sua empresa foi utilizado para adquirir linhas telefônicas destinadas ao telemarketing da campanha. “Virei caixa 2 e laranja sem nunca ter sido”, reclamou. A denúncia não prosperou, Marquinhos se elegeu e Britto Jr desapareceu de cena.