Alguns acontecimentos e muitas cenas que os meios de comunicação registraram documentam o caos na saúde. No dia nove deste mês a fotógrafa Evelyn Moquiuti foi à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Coronel Antonino em busca de socorro para o seu filho Caio, de um ano e meio, que estava desidratado e vomitando. A primeira espera pela consulta demorou, segundo ela, duas horas e meia. A médica, conta Evelyn, disse que a chamou e não obteve resposta, por isso determinou que voltasse ao fim da fila e esperasse de novo pela sua vez.
“Eu me senti um lixo”, disse, afirmando que a médica a maltratou, não atendeu a criança e a encaminhou para outro médico. Teve que fazer outra ficha e passar por nova triagem. Quando chegou sua vez, Caio foi atendido. O médico disse que o menino estava muito desidratado e seu estado inspirava cuidados. Teve que tomar soro. No entanto, a Secretaria de Saúde (Sesau) contestou Evelyn. Assegurou que não houve falta de atenção e que a criança recebeu os cuidados médicos que precisava. A médica deu sua versão, afiançando que Evelyn não atendera à primeira chamada e depois entrou na sala muito exaltada e insultando-a.
“PREFEITO, PREFEITO!”
O panorama caótico é estressante para quem atende e para quem procura atendimento. Longas filas, falta de vagas, ausência de plantonista, quadro de pessoal insuficiente, procura por remédios e ainda a nervosa ansiedade de doentes e familiares pressionando os servidores acirram os ânimos. Foi num contexto desses que a mãe de um paciente perdeu a cabeça e arremessou um objeto que quebrou um vidro da UPA Coronel Antonino. Na confusão, estilhaços do vidro feriram superficialmente a cabeça e um dos braços de João, o enfermeiro. Foi na noite de terça-feira passada, 12.
A mulher, presa pela Guarda Municipal, foi levada para a Delegacia de Polícia. Ela disse que se exasperou com a demora da unidade para atender seu filho, que esperou cerca de quatro horas. Assustados e movidos por uma incontida revolta, os servidores da UPA se reuniram para apoiar o colega ferido e gritar, clamando providências ao gestor da saúde em Campo Grande, responsável por aquele cenário: “Prefeito! Prefeito! Prefeito!”.
A Sesau repudiou e pediu paciência. Um pedido difícil de ser atendido. Fosse outra a realidade, o enfermeiro não teria sido agredido. Um homem de idade avançada, trabalhador dedicado, passar por um constrangimento desses, de dor física, pelo ferimento dos estilhaços, e de dor moral, pela humilhação que sofreu ao ser agredido por uma beneficiária do SUS, que também se sente desprotegida e não tem mais a quem recorrer quando precisa do serviço público e não recebe a atenção que merece.