É baseada em uma grosseira armação a denúncia que levou a Polícia Federal (PF) a desencadear a ‘Operação Vostok’ e o Ministério Público Federal (MPF) a solicitar que o governador Reinaldo Azambuja (PSDB) fosse investigado pela cobrança de propinas para beneficiar o Grupo J&F em Mato Grosso do Sul. Foi o depoimento do corretor de gado José Ricardo Guitti Guimaro, o Polaco, que matou toda a charada e deu a resposta à opinião pública, interessada em saber a verdade dos fatos e até onde vai a responsabilidade do seu governador.
Com o depoimento, que durou cerca de cinco horas, ficou claro que não houve da parte de Azambuja e nem de seus assessores diretos – entre os quais o ex-chefe da Casa Civil, Sérgio de Paula – qualquer participação no esquema em que os incentivos fiscais do Estado eram concedidos a indústrias frigoríficas em troca de propinas em dinheiro. Polaco se apresentou à PF na segunda-feira passada, 17. Instruído por seu advogado, decidiu contar tudo o que sabia.
Polaco é uma das 13 pessoas que tiveram ordem de prisão decretada para a operação, juntamente com outras autoridades e ex-assessores governamentais, entre as quais o conselheiro do Tribunal de Contas e ex-secretário estadual de Fazenda, Márcio Monteiro; o deputado estadual Zé Teixeira (DEM); um dos filhos de Azambuja, advogado Rodrigo Souza e Silva; o pecuarista e coordenador político da Governadoria, Zélito Ribeiro; o ex-deputado estadual Osvane Ramos; o ex-prefeito de Porto Murtinho e ex-presidente da MSTur, Nelson Cintra; e o agropecuarista Élvio Rodrigues. Todos já foram liberados.
DESMENTIDOS
No depoimento, Polaco negou ter sofrido “qualquer tipo de ameaça” por parte do advogado Rodrigo Souza e Silva, com quem disse ter contato apenas durante a campanha eleitoral. Garantiu que nunca conversou com Reinaldo Azambuja, porém confessando ter solicitado e recebido as propinas usando o nome do governador e outros agentes públicos, usando uma conta bancária do Frigorífico Buriti. Essa conta era usada no esquema e por meio dela mantinha contrato de terceirização para movimentar pagamentos da JBS, uma das empresas da holding J&F.
A ação, deflagrada em 12 de setembro, envolveu 13 prisões temporárias, incluindo Rodrigo. Com validade de cinco dias, elas expiraram no domingo, quando todos os investigados foram liberados. Polaco, porém, alegou estar no interior do Pará, em local incomunicável, não sendo encontrado pelas autoridades. A Vostok o apontou como operador no esquema de uso de notas frias para justificar os pagamentos ilegais, denunciados pelos empresários Joesley e Wesley Batista, do Grupo J&F.
Os agentes da PF fizeram questionamentos bem detalhados para extrair o máximo possível de informações e Polaco atendeu às expectativas dos policiais nesta fase decisiva das investigações. O depoente foi minucioso ao narrar com funcionava o esquema e de que forma ele operava para manipular documentos e garantir os favores solicitados pela JBS. No entanto, ele foi enfático ao afiançar que as operações de compra e venda eram reais, sem detalhar se após a entrega o gado era abatido ou não.
Quando a operação foi deflagrada, no dia 12, havia 14 mandados de prisão e 41 de busca e apreensão autorizados pelo ministro Félix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Ele se baseou nas delações premiadas de Joesley e Wesley Batista. De acordo com os dois irmãos, os incentivos fiscais e sua contrapartida – os pagamentos por Termos de Acordo de Regime Especial (Tares) – começaram a ser feitos no governo de Zeca do PT e continuaram com André Puccinelli (MDB) e Reinaldo Azambuja. Na Operação Vostok, os delatores disseram ter pago as propinas por meio de notas frias com entrega de dinheiro em espécie nas mão dos agenciadores.
REAÇÃO
Reinaldo Azambuja disse que a confissão de Polaco só reafirma a certeza que já havia manifestado sobre sua inocência. O governador lembra que desde o primeiro momento – a delação dos irmãos Batista foi divulgada em 2017 – procurou as autoridades para colocar-se à disposição de tudo que fosse preciso na investigação. E, além disso, disponibilizou todos os seus históricos pessoais de telefone, aquisições, contas bancárias, escrituras patrimoniais e outros documentos.
Por causa disso e, sobretudo em virtude do constrangimento a que foi submetido na ‘Operação Vostok’, lamentou o vazamento seletivo da ação policial e denunciou o caso ao órgão de controle do Ministério Público. Citou ter respondido a todas as 36 perguntas feitas pela Polícia Federal e que provou não possuir qualquer movimentação financeira sob suspeição. Candidato à reeleição e liderando as pesquisas, o governador afirma estar bem tranquilo e seguro quanto às manifestações finais da Justiça e agradece o amplo apoio que vem recebendo em todo Estado. “A verdade nunca nos falta quando somos fiéis a ela”, conclui.