O que era impensável até poucos dias agora já faz parte do cotidiano. Se ontem era um pecado desconfiar dos compromissos de Marquinhos Trad (PSD) ou desmerecê-los, hoje não é preciso esforço algum para questioná-los ou protestar contra promessas que ele não vem cumprindo. O setor de saúde é o que mais produz manifestações de descontentamento popular com o prefeito.
Além das pessoas – maioria esmagadora da população – que dependem do Sistema Único de Saúde e vão aos postos, vários órgãos de imprensa e veículos de notícias eletrônicas resolveram conferir o funcionamento do sistema. Assim, tornou-se comum encontrar cidadãos comuns e equipes de reportagem fotografando e filmando o que acontece em locais como as Unidades de Pronto Atendimento (UPA).
Porém, os motivos da insatisfação comunitária são mais numerosos e se estendem a outras áreas e serviços sob responsabilidade da Prefeitura Municipal. As barbeiragens e as deficiências são tão visíveis que não deixam dúvidas ao povo sobre uma verdade inquestionável: o que falta é gestão. Ou, em análise ainda mais dura: não existe gestão. Se não fosse assim, as reclamações inexistiriam, contribuintes e eleitores estariam contemplados com a certeza de ter votado em quem cumpre as promessas que faz e investe a verba dos impostos no bem-estar das pessoas.
SAÚDE
Várias reportagens mostram que o caos está presente em toda rede pública, com raras e honrosas exceções pontuais. Toda semana tem problema causado pela precariedade do funcionamento do sistema. E a culpa não é dos servidores. Na semana retrasada um deles ficou ferido quando uma paciente, irritada, se descontrolou e atirou um objeto que quebrou o vidro da unidade de saúde. Um estilhaço o feriu, superficialmente. Semana passada, no posto do Tiradentes, faltou médico oftalmologista e nos dois bebedouros, mesmo com uma multidão enfileirada, não havia um copo descartável sequer para atender ao menos crianças e idosos.
COSIP E IMPOSTOS
A cobrança da Cosip (Contribuição com o Custeio do Serviço de Iluminação Pública) continua sendo feita, alimentando os caixas da Prefeitura e da Energisa. O grave nisso é que uma enorme parcela dos contribuintes não tem este serviço na rua aonde mora. Esta categoria de contribuinte paga para não ter o serviço, mas garante o serviço a outro.
Nos casos do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e taxa do lixo, o prefeito que se preparou 20 anos para governar a cidade ainda não mostrou o aprendizado. As duas formas de gerar receita com dinheiro do contribuinte foram mal conduzidas, tanto no valor aplicado quando na metodologia de cobrança. Marquinhos Trad teve que recuar, refazer e reaplicar a cobrança, num surpreendente vexame gerencial.
OBRAS
Obras que deveriam ter sido retomadas ou concluídas continuam abandonadas, como já foi amplamente divulgado em casos como o do Centro de Esportes e Lazer no Jardim Noroeste. E há obras que são mal feitas ou geram desperdício de tempo e dinheiro, como o calçamento do Projeto Reviva Centro, que teve um de seus trechos refeito porque esqueceram de implantar o piso tátil.
E se não bastassem a demora e os transtornos, as obras do centro acabam de ser infladas com um aditivo de R$ 12 milhões, o que fará seu custo saltar de R$ 50 milhões para R$ 62 milhões, aproximadamente. O aditivo já é questionado, sobretudo pela aparente desproporção entre seu elevado valor e a área física de intervenção de engenharia e urbanismo.
MORADIAS
No capítulo da política pública de habitação popular quem socorre Campo Grande é o governador Reinaldo Azambuja e os programas federais, em especial os da Caixa Econômica. Já aconteceram vários protestos por parte de famílias cadastradas há anos na Agência de Habitação (Emha) e até hoje continuam na fila de espera.
LIXO E DENGUE
No Bairro Guanandy moradores fotografaram e filmaram trechos sem manutenção do sistema de limpeza pública. Lixo amontoado, mau cheiro e raras aparições dos caminhões da Solurb, enquanto os criadouros do mosquito aedes aegypti se multiplicam e engordam os números da dengue. A moradora Maria Aparecida da Silva testemunha: “A gente sabe que o prefeito repassa uma fortuna a essa empresa Solurb, que fica só na base de fazer maquiagem no centro da cidade e na Av. Duque de Caxias, Afonso Pena e Mato Grosso. No nosso bairro não fazem nada. Por aqui tem muita gente com dengue e a culpa é do prefeito”.