O assunto não é nenhuma novidade, mas ganhou repercussão com o discurso do vereador Marcos Tabosa (PDT), revoltado com o abandono dos bairros de Campo Grande, enquanto o setor encarregado de cuidar da imagem e da promoção pessoal do prefeito Marcos Trad (PSD) torra a vultosa quantia de R$ 60.000.000,00 – isso mesmo: sessenta milhões de reais – em publicidade e propaganda.
Durante sua fala, o vereador usou para ilustrar o desrespeito e a má utilização dos recursos públicos a ponte de acesso ao Bairro Santa Emília, que está caída faz muito tempo. “Enquanto os moradores do Santa Emília aguardam solução para o problema da ponte caída, a prefeitura gasta R$ 60 milhões em publicidade”, denunciou o vereador, que ainda registrou o fato de a travessia estar interrompida há um ano.
Citando como fonte de sua denúncia o portal Diário MS News, Marcos Tabosa afirmou que no relatório de gastos com propaganda por parte da Prefeitura de Campo Grande “parece que tem notas suspeitas” e que merecem ser analisadas à luz da Justiça.
Indignado com a farra da publicidade, o vereador questionou a administração municipal que alega falta de recursos para enviar à Câmara o projeto criando Plano de Cargos e Carreira dos servidores da Secretaria de Assistência Social.
Marcos Tabosa ainda elencou como obras necessárias para melhores condições de vida aos campo-grandenses e que não são executadas pelo município “por falta de recursos”, as reformas nos Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) e o estabelecimento de uma política de execução de pequenos serviços nos bairros da periferia da cidade que estão totalmente esquecidos pela administração municipal.
TRANSPORTE COLETIVO
No mesmo dia em que o vereador do PDT abriu a caixa de ferramenta na Câmara Municipal, para denunciar os abusos cometidos pela administração municipal no tangente aos gastos com publicidade, o jornal Correio do Estado abria manchete com o resultado de uma pesquisa mostrando que mais de 80% da população reprova os serviços de transportes coletivos oferecidos aos trabalhadores da capital.
De acordo com a reportagem, os usuários do transporte coletivo de Campo Grande não aprovam a forma com que o serviço é oferecido pelo Consórcio Guaicurus.
A pesquisa efetuada pelo Instituto de Pesquisa Resultado (IPR) constatou que nada menos do que 80,9% das pessoas ouvidas responderam desaprovar o serviço e apoiar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) na Câmara Municipal para investigar o grupo que explora os serviços em Campo Grande e a omissão do município em cobrar resolução do problema.
As entrevistas com usuários foram feitas entre os dias 3 e 4 de dezembro deste ano, sendo ouvidas 330 pessoas, de 18 anos ou mais, em estudo realizado com coleta de dados presenciais em todos os terminais de ônibus de Campo Grande.
Ao serem perguntados se aprovavam ou desaprovavam o serviço, apenas 18,79% dos usuários responderam ser favoráveis ao Consórcio Guaicurus.
Sobre a qualidade dos serviços prestados, a maioria respondeu péssimo (43,94%), enquanto outros 20% disseram que o serviço era ruim, 29,09% classificaram como regular, 4,55% como bom e apenas 2,42% como ótimo.
As reclamações sobre os transportes são diversas, desde o preço da passagem – que hoje está em R$ 4,20, mas deve ser reajustado – até o horário em que os carros circulam que, para muitos bairros, representa ficar sem o meio de transporte a partir das 18 horas.
PROMESSA NÃO CUMPRIDA
O transporte coletivo é um dos calos no sapato do prefeito Marquinhos Trad, que se empolgou com o discurso do presidente do PSD, ex-ministro do governo Dilma Rousseff (PT), Gilberto Kassab, e, picado pela mosca azul, já se vê tomando o lugar de Reinaldo Azambuja no mais cobiçado assento instalado nos altos do Parque dos Poderes.
Embora o forte esquema publicitário aponte o prefeito como um grande administrador e faz até a vice-prefeita sonhar com mais de dois anos e meio no comando do Poder Executivo Municipal, a grande verdade é que ele deixa muito a desejar quando se trata de cumprir promessas feitas durante a campanha eleitoral.
O transporte coletivo humanizado é uma das tantas promessas que o alcaide não cumpriu.
Quando em campanha, Marquinhos Trad chegou a viajar nos coletivos apinhados de trabalhadores e afirmou nos programas veiculados no horário eleitoral que uma das prioridades de sua passagem pelo Executivo Municipal seria humanizar o transporte coletivo, dotando o sistema de frota renovada, com ar-condicionado e outras melhorias.
Os anos se passaram, o prefeito caminha para entrar no segundo ano de seu segundo mandato e o que a população constata é que continua recebendo atendimento de péssima qualidade, uma vez que Campo Grande é servida na atualidade pela pior frota de ônibus coletivos dos últimos 20 anos.
Enquanto isso, o prefeito não senta com os empresários para buscar uma resposta ao desespero do trabalhador que enfrenta o trajeto de casa ao trabalho e vice-versa como um verdadeiro flagelo pelo qual é obrigado a passar diariamente, e pagando caro.
INVESTIGAÇÃO
Em outro ponto, a pesquisa do ITR também questionou a população sobre a abertura de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o Consórcio Guaicurus, grupo de empresas que exploram o transporte coletivo urbano na Capital.
Sobre isso, 86,97% da população ouvida se disseram favorável à abertura do processo na Câmara Municipal de Campo Grande. Apenas 6,67% foram contrários à investigação e outros 6,36% disseram não saber ou não quiseram responder à pergunta.
SAÚDE ABANDONADA
Outra reclamação constante da população se refere aos serviços oferecidos pela municipalidade nas UPAs e postos de saúde espalhados pelos bairros da Capital. O descontentamento é geral.
Nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), nomes que substituíram os antigos “postos de saúde”, o atendimento é precário e filas são formadas já no início da madrugada por pessoas desesperadas em busca de atendimento médico especializado.
Assim como a humanização do transporte coletivo, a oferta de serviços de saúde com um mínimo de respeito à dignidade do cidadão também foi proposta de campanha de Marquinhos Trad e Adriane Lopes (Patriota) quando buscaram a reeleição no pleito de 2020. No entanto, passada a refrega eleitoral e eleito no primeiro turno, Marcos Trad simplesmente virou as costas para o setor da saúde.