* Por Milena Crestani
Dignidade, cidadania, independência financeira, possibilidade de contribuir em casa e com seu tratamento. Foram os ganhos destacados pelo jornalista Pedro de Moraes Martinez, 32 anos, desde que iniciou em seu primeiro emprego, na Câmara de Vereadores de Campo Grande. Ele tem uma doença degenerativa, a Distrofia Muscular de Duchenne, que resulta em fraqueza muscular. É cadeirante desde a infância. As evoluções que vivenciou na Casa de Leis foram além de sua vida pessoal. Nestes quatro anos, acompanhou a transformação do local, o que garantiu mais acessibilidade para ele e para as demais pessoas que visitam o prédio.
Recentemente, Pedro contou sua história, suas conquistas e desafios ao projeto Internacional Social Duchenne, que compartilha informações e histórias de pessoas com a distrofia muscular de Duchenne. No relato, complementado em entrevista à Câmara, Pedro relata que ao insistir em enfrentar os obstáculos, acaba “mostrando uma realidade nova às pessoas”. E, desta forma, com sua ousadia e persistência, Pedroka, como é conhecido pelos amigos, ajuda a transformar os ambientes por onde passa. A entrevista completa ao projeto pode ser acessada clicando aqui.
Inicialmente, Pedro queria fazer faculdade de Música, pois já gostava de compor e gravar com alguns amigos que tocavam violão. Chegou a fazer aulas de teclado e algumas apresentações. “Mas acabei entendendo que, com a evolução dos sintomas da minha doença, num futuro próximo a música seria profissionalmente inviável. Então, optei por usar meu talento com a escrita no Jornalismo. Foi a melhor decisão!”, disse.
Pedro superou as dificuldades no curso, conseguiu concluir todas as disciplinas e passou, então, a enfrentar uma longa busca para conseguir uma colocação no mercado de trabalho. “Os prédios das rádios e redações não estavam preparados para me receber. Outra dificuldade é que a oferta de vagas para pessoas com deficiência ainda não contempla profissionais com qualificação técnica e superior. Você não vê vagas para advogados, professores, gerentes, contadores, ou jornalistas com deficiência”, relatou.
Foram oito anos até conseguir o trabalho na Câmara Municipal, atuando como jornalista, onde iniciou em 2017. “Trabalhar, e na minha qualificação, é importante. Faz parte da dignidade de todas as pessoas, dá independência financeira. No meu caso, é um importante suporte para manter meu tratamento e medicação que são bem dispendiosos”, afirmou.
Ele ainda mantém outras atividades. Já publicou 2 livros de poesias – Reviravolta Sentimental e A Vida com Elas – e está terminando o terceiro. O primeiro livro teve a edição esgotada. Ainda restam alguns exemplares do segundo, que ele disponibiliza gratuitamente aos interessados.
Outra paixão são os filmes e séries. Há mais ou menos 2 anos, recebeu um convite para ser colunista colaborador de um site de notícias aqui de Campo Grande, onde conquistou vários leitores. No início deste ano, esse periódico encerrou todas as colunas, ficando apenas com o noticiário. Pedro investiu num blog, mas logo surgiu outro convite, desta vez pela Folha de Campo Grande, que tem a versão impressa – distribuída aos domingos – e a versão online . Então, atualmente, a coluna “Na Poltrona do Cinema com Pedroka” traz dicas duas vezes por semana: às quartas e aos domingos.
MOTIVAÇÃO
Pedro ressalta a importância de contar sua história para motivar outros jovens, pois a doença não tem cura, mas tem tratamento capaz de melhorar a qualidade de vida dos pacientes. “Infelizmente, há pouca informação e, no Brasil, ainda temos uma triste estatística na qual 75% dos meninos afetados vai a óbito antes dos 20 anos. Eu vou completar 33 anos! Então, minha história e minhas conquistas podem ser inspiração para muitas famílias, no sentido de que com o diagnóstico e a intervenção precoce é possível ter uma vida plena, com convívio social, estudo, trabalho, enfim, tornar-se uma pessoa produtiva e participativa”, relatou.