A escalada da violência contra a mulher atingiu proporções alarmantes. Em todos os estados brasileiros as notícias policiais estão tomadas por casos de mortes, estupros e outras formas de violência física, moral ou psicológica contra pessoas do sexo feminino. No Brasil, nos últimos nove anos quase 10 mil mulheres foram vítimas de feminicídio ou tentativas de homicídio. Os números foram levantados pela Central de Atendimento à Mulher (o Ligue 180).
No balanço nacional, dados colocaram Mato Grosso do Sul como líder do ranking em processos de violência doméstica contra a mulher. Conforme o estudo divulgado pelo Departamento de Pesquisas Judiciárias do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), o número de denúncias corresponde a 30,8 de cada mil pessoas da população feminina. Assim, de cada 100 mulheres residentes no Estado, três ingressam na Justiça para denunciar casos de violência.
De acordo com o levantamento da Central de Atendimento à Mulher, desde 2009 foram registradas denúncias de assassinato de pelo menos 3,1 mil mulheres, ao passo que outras 6,4 mil foram alvo de tentativa de homicídio. Na última década, o pico de registros ocorreu em 2015, ano em que o feminicídio foi incluído no Código Penal brasileiro como qualificador de homicídio e no rol de crimes hediondos. Naquele ano, a central recebeu 956 registros de assassinatos de mulheres, contra 69 mortes apontadas no ano anterior.
ESCALADA
O resultado de Mato Grosso do Sul é mais que o dobro da média nacional, de 12,3. Há três anos, em virtude da frequência de casos de violência doméstica, Campo Grande foi a primeira cidade a receber uma unidade da Casa da Mulher Brasileira. A pesquisa do CNJ identificou que até o final de 2017 existia, em todo o País, um processo judicial de violência doméstica para cada 100 brasileiras. No total, são 1.273.398 processos de violência doméstica contra a mulher tramitando nas justiças estaduais em todo o País.
Entre os maiores índices, destacam-se os estados do Centro-Oeste. À exceção do Acre (22 processos de cada mil mulheres), os demais são da região. Depois do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) estão os tribunais de Mato Grosso (27,2), do Acre, de Goiás (21,8) e do Distrito Federal (20,2). Em todo o território nacional, foram registrados 388.263 novos casos de violência doméstica e familiar contra a mulher, uma alta de 16% mais na comparação com o ano anterior.
O número de denúncias, entretanto, está muito aquém das ocorrências de feminicídio. Segundo o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, só em 2016, cerca de 4.635 mulheres foram mortas por agressões, uma média de 12,6 mortes por dia. Segundo a Central, desde 2009 foram relatados quase 737 mil casos de violência doméstica – mais de 80% do total de denúncias recebidas no canal.
Das agressões denunciadas em ambiente familiar nos últimos anos, quase 60% são físicas e cerca de 30% psicológicas, tipos de violência que geralmente precedem o crime do feminicídio. A Organização Mundial de Saúde (OMS) informa que 30% das mulheres do mundo já sofreram alguma vez violência física e/ou sexual. A organização estima que mulheres expostas a violência doméstica têm duas vezes mais chance de desenvolver depressão e uso abusivo de álcool.
Um dos casos que mais chocaram a opinião pública foi o da musicista Mayara Amaral. Ela tinha 27 anos e era uma excelente violonista. Bonita, simpática, alegre e sensível, amava a música e a liberdade. Na noite de 25 de julho de 2017, ela foi brutal e covardemente assassinada a golpes de martelo e outros objetos. Os assassinos incendiaram seu corpo e o jogaram numa estrada vicinal de Campo Grande. Três jovens, um deles que se relacionava com ela, foram presos. Segundo a Polícia, o objetivo do trio era roubar o carro e outros pertences da jovem.