“A Caravana da Saúde poderá, sim, ser substituída. É uma enganação”.
Esta é uma das frases marcantes com as quais o juiz federal aposentado Odilon de Oliveira, candidato do PDT ao governo de Mato Grosso do Sul, vem usando para sustentar seu propósito de acabar com uma das principais iniciativas do governador Reinaldo Azambuja (PSDB), seu concorrente no segundo turno.
O juiz não considerou relevante o fato de 67 mil sul-mato-grossenses terem saído de uma fila angustiante e arrastada para receber o atendimento emergencial assegurado pelo governo. São pessoas que há anos formavam uma quilométrica fila com milhares de pacientes, a grande maioria dependente do Sistema Único de Saúde (SUS), no aguardo de intervenções médicas que poderiam salvar suas vidas ou de procedimentos simples.
A rápida e indolor cirurgia de catarata que devolveu saúde e condições de vida, estudo e trabalho a homens e mulheres de todas as idades foi uma das intervenções mais procuradas. No entanto, por desconhecimento da realidade ou por mero questionamento de interesse político-eleitoral, Odilon de Oliveira resolveu atacar a Caravana da Saúde e lançar suspeitas sobre sua execução, menosprezando seu alcance social e a motivação emergencial que a inspirou.
REAÇÕES
A atitude do candidato causou indignação e revolta, sobretudo entre as pessoas que foram atendidas e resolveram antigos problemas de saúde que se agravaram por causa da prolongada espera pelo atendimento. Em todas as regiões do Estado diversos pacientes do SUS se manifestaram para protestar contra a intenção de um postulante ao governo que pretende acabar com esse benefício.
É o que salienta a aposentada Juliana da Silva, surpreendida com a postura de um magistrado que ganhou notoriedade apresentando-se como defensor da Justiça e das pessoas oprimidas. “Juiz Odilon, não fale mal da Caravana. Eu fico tão triste. Tanta gente usufruiu, eu também. Não fosse isso, até hoje eu estaria na fila de espera”, desabafou. “Ele [o juiz] não precisou, porque ele tem dinheiro, é rico. Mas talvez lá atrás, quando ele diz que era pobre, se tivesse a Caravana ele teria sido servido também”, acrescentou.
Moradora de Três Lagoas, na divisa com o estado de São Paulo, a cozinheira Liene Antônia da Silva destacou o alívio que a Caravana proporcionou ao ser atendida e passar pela intervenção médica que eliminou de sua vida o problema das dores e do desconforto causado por causa de pedras na vesícula. “Quando eu tinha essas pedras dentro de mim eu não era nada. Chegou [a caravana] aqui em Três Lagoas e mudou a minha vida”, festeja.
A dona de casa Alcinda Marques de Oliveira fez cirurgia de catarata e voltou a estudar. Uma vitória das mais comemoradas em sua vida. E ela não tem dúvida alguma em contrapor-se à possibilidade de a Caravana acabar. “Político que vem falar que vai acabar com a Caravana da Saúde não merece nem o meu voto”, avisa Alcinda.
Muitas pessoas passaram anos numa espera absurda pelo atendimento médico. É o caso da dona Izidória de Oliveira, pensionista, que conta, emocionada, o seu drama. “Foram dez anos procurando cirurgia. Um dia surgiu essa Caravana da Saúde, né? Cheguei lá, passei por vários exames, naquela hora, naquele dia. Aí tudo melhorou”, exulta. E não economiza os argumentos para defender a iniciativa governamental. “A Caravana da Saúde traz benefício pros carentes. Os ricos não precisam. Não vamos deixar terminar essa Caravana, porque o outro lado não vai fazer”, recomenda.
DESCONHECIMENTO
O desejo de acabar com a Caravana da Saúde é um dos pontos mais vulneráveis de sua campanha, segundo avaliam os próprios aliados, que se incomodam com as reações indignadas da população. Pode ser, porém, que o juiz efetivamente não saiba o que está acontecendo e desconheça o caráter de providência emergencial que levou o governo a investir no fim das longas e injustas filas de espera.
A ideia nasceu de uma constatação: muita gente estava tendo as suas condições de saúde agravadas e até indo a óbito por causa da longa espera pelo atendimento médico-odontológico – uma cirurgia, um exame ou uma simples consulta. O argumento que define a decisão governamental frisa: “Considerando os problemas levantados pelo Governo que atinge a estrutura de atendimento de média e alta complexidade concentrada na Capital, além das filas para a realização de cirurgias, o Governo do Estado desenvolveu o projeto Caravana da Saúde”.
Assim surgiu, em 2015, o investimento extraordinário de emergência para que a atenção médica chegasse rapidamente e sem filas de espera nas 11 microrregiões. Populações dos 79 municípios foram atendidas nas cidades-polo: Coxim, Ponta Porã, Paranaíba, Nova Andradina, Aquidauana, Campo Grande, Três Lagoas, Dourados, Corumbá, Naviraí e Jardim. O projeto foi tão bem-sucedido que seu alcance ensejou outras etapas. Todos os serviços integram a rede do SUS. O programa mobiliza uma grande estrutura, formada por profissionais de saúde e veículos adaptados para a realização de consultas, diagnósticos e cirurgias. Entre as especialidades oferecidas estão: Ortopedia, Cirurgia Geral, Oftalmologia, Urologia, Otorrinolaringologia e Cirurgia Ginecológica.
Também fazem parte das atividades: consultas odontológicas, tomografia computadorizada, raios-x, mamografia, exames para aferição da pressão arterial, glicemia, HIV, capacitação, palestras e gincanas. Na área de infraestrutura foram incluídas reformas, ampliações e adequações da rede física e entrega de equipamentos. Além disso, cada Caravana oferece outros benefícios: palestras, emissão de documentos, distribuição de óculos e preservativos, vacinação, palestras educativas e de conscientização.