O ex-governador André Puccinelli (PMDB) e integrantes de seu grupo sofreram mais uma violenta bordoada que pode transferi-los novamente das páginas políticas para as policiais. Depois da ‘Lama Asfáltica’ e da ‘Fazendas de Lama’, agora é a Operação Lava Jato a nova dinamite que vem detonar os planos para voltar à política em 2018.
O sonho de reverter as pendências judiciais e ficar livre para disputar um mandato eletivo tornou-se ainda mais distante desde que João Antonio Pacífico, um dos delatores premiados da Odebrecht, resolveu contar detalhes de propinas repassadas a Puccinelli, envolvendo também dois dos seus principais aliados da política e dos negócios: Edson Giroto, ex-secretário de Obras e ex-deputado federal, e João Alberto Amorim, um dos mais poderosos empresários da construção civil e de negócios lucrativos engordados com dinheiro de cofres públicos.
De acordo com João Pacífico, o Estado de Mato Grosso do Sul tinha uma dívida volumosa e antiga com a Odebrecht. Puccinelli foi procurado e as partes acertaram que, para facilitar a negociação, a empresa reduziria o valor a ser recebido, aceitaria repasses parcelados e, em contrapartida, agradaria pelo “favor” governamental – na verdade, uma obrigação – com doações para campanhas eleitorais. O nome real desse agrado: propina. Pacífico afirmou ter pago R$ 2,3 milhões (“auxílio de campanha”) para o ex-governador em 2010, quando Puccinelli candidatou-se à reeleição e venceu.
Esses R$ 2,3 milhões, que corresponderiam a 10% da dívida do Estado com a multinacional, foram intermediados com participação de João Amorim e Edson Giroto, que disputaria a reeleição de deputado federal e também foi aquinhoado com R$ 300 mil, entregues no dia 15 de outubro. Nos subterrâneos dessa tramoia, Giroto tinha um sugestivo codinome: Carrossel. Uma outra pessoa ainda não identificada, citada apenas pelo prenome “Pedro”, também serviu de interlocutora pelo acerto que foi fechado em pleno Parque dos Poderes, sede do Governo.
FACILITAÇÃO
O delator da Odebrecht deu nomes, datas, valores e outros detalhes para sustentar as informações. Contou que Puccinelli primeiro demonstrou resistência para pagar a dívida, mas às vésperas da eleição aceitou negociar, propondo um megadesconto de 70% e repasses em parcelas, além do auxílio para a campanha. “E mais: além de tentarmos o desconto de 70%, que seriam pagos em cinco parcelas iguais e sucessivas de R$ 4,6 milhões com a primeira parcela vencendo em agosto de 2010”.
Pacífico lembra de Puccinelli ter dito expressamente que buscava a reeleição e queria apoio financeiro. Durante a reunião, na Governadoria, Puccinelli orientou Pedro a procurar Giroto, que foi quem condicionou o acordo ao “auxílio” de campanha de 10% sobre o valor a ser recebido, o equivalente a R$ 2,3 milhões. “O certo era não pagar, mas para não deixar de receber os créditos”, observou João Pacífico, acrescentando que o valor exato da propina entregue ao grupo foi de R$ 2 milhões 340 mil. Uma planilha que o delator entregou nas investigações informa a agenda de repasses, com a primeira parcela paga em 23 de agosto de 2010 e outras entre os dias 1º e 3 de setembro, datas aliás que foram sugeridas em tom de exigência por parte do governador na época.
DELCÍDIO, O PRIMEIRO
A delação de João Pacífico não é a primeira da Lava Jato que chega a Puccinelli. Em março de 2016 o então senador Delcídio Amaral, ainda no PT, assinou com a Procuradoria-Geral da República uma delação premiada na qual revelou esquemas de propinas pelo País, uma delas envolvendo lideranças do governo federal e de Mato Grosso do Sul, como o ex-governador André Puccinelli e o ex-secretário de Obras Edson Giroto, além dos partidos políticos PMDB e PR. Delcídio citou a Operação Lama Asfáltica, aberta para investigar desvio de dinheiro em contratos públicos.