A transferência do Conselho de Controle das Atividades Financeiras (Coaf) para o Ministério da Economia não será digerida tão cedo pelos brasileiros verdadeiramente empenhados no combate à corrupção e à impunidade. A mudança ocorreu com a votação no Senado da proposta que tira o Coaf do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em resumo: foi uma acachapante derrota para o ex-superministro Sérgio Moro, com a participação de dois parlamentares sul-mato-grossenses, os senadores Nelsinho Trad (PSD) e Soraia Thronicke (PSL).
Até mesmo a base governista e os bolsonarianos reconhecem que com essa decisão Moro foi golpeado e seu ministério se esvaziou, já que o Coaf tem uma das melhores e mais afiadas estruturas de fiscalização, análise e consulta para acompanhar e radiografar todos os detalhes das movimentações financeiras. Nelsinho justificou seu voto afirmando que foi uma questão de coerência e de compreensão política, ao atender apelos do governo.
O interessante é que o senador não explicou porque se elegeu sem dizer que daria seu mandato às mãos de quem nem sempre pensa em guiar-se pela vontade do povo. Os brasileiros, de um modo geral, exigiam que o Coaf ficasse no Ministério da Justiça ou, mais precisamente, sob controle de Sérgio Moro. Mas a votação da Medida Provisória 870, que foi concluída na noite de terça-feira (28), teve como baliza um acordo entre o Governo, o Centrão, o PT e os partidos aliados para aprovar a proposta da Câmara dos Deputados sem alteração e manter a reestruturação administrativa, que reduz os ministérios de 29 para 22.
A articulação do Governo convenceu Soraya e Nelsinho a votarem pela transferência do Coaf do Ministério da Justiça para a Economia. O senador do PSD já tinha manifestado esta posição na Comissão Especial, mas prometeu mudar o voto em reunião com Moro na semana passada. “O ministro Moro me disse: ‘Você não vai errar, retificando o seu voto’. Compartilho com vocês, porque decido pela coerência e avaliação de relatórios, e não por quaisquer outros interesses”, contou Nelsinho no Twitter.