Olhares, experiências e técnicas das mais diversas marcam a 1ª Temporada de Exposições 2018 do Museu de Arte Contemporânea da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul. São quatro mostras – três individuais e uma coletiva – que somam diferentes aspectos das artes visuais e convidam o público para novas experiências sobre a arte brasileira. A abertura acontece na quarta-feira (9), às 19h30. E a entrada, como sempre, é franca.
Na montagem coletiva ‘Urbanicidade’, sete artistas revelam suas visões sobre o contexto urbano. Registros mentais e sentimentais dessa realidade transformados em obras de arte. As peças são janelas abertas internamente para expor esse fotograma permeado pelos mais diversos sentimentos.
Analuiza Martins, Antônio Lima, Maurício Saraiva, Bruno Sandri, Aveline Karen, Renato Alencar e Anita Cezar demonstram as plurais possibilidades que a vida urbana configura e desafiam o expectador a reconstruir sua própria cidade interna.
Uma cidade pelo avesso: mimese da realidade, transfigurando o ambiente urbano, transportando-o para o universo dos sentidos. Por conta também de nossas próprias limitações em recriar o real, construindo novas paisagens, talvez muito mais belas e interessantes. Profusão de signos, sinais e mensagens nessa megaestrutura profusa, polifônica e rica.
A mostra ‘Diário de Estudos Botânicos’ é uma iniciativa artística desenvolvida por Lu Mori em 2014, cujo processo criativo reitera a pesquisa artística da artista entre o realismo e a abstração, nesse caso, com espécies botânicas. Apesar de utilizar recursos científicos, trata-se de um processo espontâneo de mapeamento e representação de simbolismos etnobotânicos.
As espécies botânicas ilustradas são escolhas passionais, encontradas aleatoriamente pela artista no dia-a-dia, em passeios, em jardins, em frestas do calçamento, entre outros. No total foram produzidos 182 desenhos, um por dia, durante 6 meses.
Fazendo par com os desenhos botânicos, as pinturas, feitas sobre madeira de reflorestamento, incorporam de forma abstrata conhecimentos de morfologia vegetal, além de representar, também de forma abstrata, alguns usos, costumes e aplicações das espécies identificadas.
As obras da mostra ‘Opacidade’, de Lourdes Colombo, mostram figuras femininas, à princípio, com uma certa sensualidade, comuns nas mídias nos nossos dias. Num segundo momento depara-se com expressões inesperadas, quase de dor, distorções exageradas e pequenas deformações físicas. São pinturas que ativam as áreas de questionamento e obrigam o observador a se colocar num jogo lógico de significados, que dificultam a passividade. Agem nas questões da libido e ao mesmo tempo desmontam o discurso erótico colocando desnudado quem as vê.
As mulheres parecem ser familiares, pessoas que habitam as cidades e as lojas, quase todas muito jovens, mostrando um rosto que não combina com as cenas propostas nas telas. Uma sala rodeada por mulheres, olhando quem as olha, fixamente, interrogando e se colocando num lugar que é um não-lugar, sem casa, sem móveis, sem luz ou sombra, tudo armado para um momento de reflexão, que não se esquece tão facilmente.
São pinturas que representam quando se olha de longe e se abstraem quando de perto. A sensualidade aparece de longe e o drama vem quando perto.
Era quarta-feira quando Dandara dos Santos foi bestialmente assassinada. No dia 15 de fevereiro de 2018 o ato completou um ano. Doze homens (quatro deles adolescentes) decidiram que podiam transformar toda sua ignorância, preconceito e ódio em violência gratuita e dessa forma interromper sua vida, o tempo e o espaço.
A instalação ‘Templo de Dandara’, do artista Alex Nogueira, evidencia uma estrutura narrativa que possui a violência como enfoque. Nela há uma tentativa de mesclar o belo, o que ela representa, e o brutal, o que foi reservado a ela pela sociedade; a cor vermelha foi escolhida para as linhas que formam as paredes do “templo”, por ser um símbolo também ambíguo, visto que pode representar tanto a sedução, bem como o amor, como o sangue ou ainda a guerra.
A obra fala especialmente e com muita reverência sobre Dandara, mas aproveita para falar com clareza sobre a violência transfóbica e homofóbica no Brasil e indiretamente sobre como nossa sociedade desigual trata as minorias em geral. Além dessa dualidade, que busca agregar camadas interpretativas, a obra apresenta diversidade artística, ora sendo quase didática, ora se estruturando em superfícies tridimensionais complexas e abstratas, ora interativa, ora contemplativa, ora incômoda.
SERVIÇO
A Primeira Temporada de Exposições 2018 do Museu de Arte Contemporânea estará aberta à visitação de terça a sexta, das 7h30 às 17h30. Sábado, domingo e feriado das 14h às 18h. As mostras permanecem no Marco até o dia 29 de julho. Sempre com entrada franca.
Para mais informações e agendamento com escolas para a realização de visitas mediadas com as arte educadoras do Programa Educativo, basta ligar no telefone (67) 3326-7449. O Museu de Arte Contemporânea fica na Rua Antônio Maria Coelho, nº 6000, no Parque das Nações Indígenas.