O dia 19 de junho deste ano está tristemente marcado no calendário nacional. Nessa data o Brasil superou a dolorosa marca de 500 mil mortes pela Covid-19. E cada uma delas representa familiares, pais e amigos que perderam um ente amado. Segundo a Universidade Johns Hopkins, o País já ocupava o segundo lugar na lista mundial de vítimas do coronavírus, ficando atrás dos Estados Unidos, líderes, com 601.717, e à frente da Índia, que registrava 385.137 óbitos.
Em agosto de 2020, quando as 100 mil mortes bateram à porta, o pesadelo parecia ter chegado ao seu limite máximo. Entretanto, menos de um ano depois a tragédia se multiplicou por cinco. Com mais de meio milhão de mortos em apenas um ano e três meses de pandemia, os brasileiros ainda são submetidos a uma cruel e implacável sequência de omissões, indiferença, decisões equivocadas, zombarias e grosserias por parte de seus maiores dirigentes políticos, entre os quais o presidente Jair Bolsonaro e seus ministros.
O presidente não teve ao menos a sensibilidade de manifestar solidariedade à Nação e palavras de conforto às famílias enlutadas no dia em que a impactante marca foi registrada. Ele só se manifestou dois dias depois, em uma visita a Guaratinguetá, e assim mesmo de forma grosseira, ao agredir verbalmente uma repórter de TV que pedia sua opinião sobre as 500 mil mortes.
DESCASO E IRONIA
Desde o início da pandemia, em março de 2020, Bolsonaro passa o tempo investindo contra as medidas de distanciamento social e o lockdown, “prescrevendo” tratamento precoce com uso de medicamentos sem eficácia médico-científica e insistindo na reabertura das atividades econômicas. Já classificou a Covid-19 como “gripezinha”, subestimou-a invocando seu perfil de atleta e até fez irônica simulação de uma pessoa com falta de ar.
A grotesca imitação foi no dia 18 de março, em uma de suas transmissões para as redes sociais, quando defendia o uso de remédios sem eficácia comprovada para
Sua equipe de trabalho dança a música que ele toca. Já teve quatro ministros da Saúde e nenhum com autonomia para adotar uma política de combate à Covid-19 baseada na Ciência. O atual, Marcelo Queiroga, e o anterior, Eduardo Pazuello, não tiveram autoridade alguma para banir do receituário governamental a cloroquina e os demais remédios do “tratamento precoce”. No Senado, a CPI da Covid-19 expôs à sociedade os vários mecanismos negacionistas do Planalto que contribuíram com o agravamento da pandemia.
SEM SOLIDARIEDADE
O ministro das Comunicações, Fábio Faria, foi às redes sociais, mas não para prestar solidariedade aos familiares e vítimas. Preferiu criticar políticos, artistas e jornalistas que lamentam pelas vidas perdidas em razão da pandemia. Ao dizer que essas pessoas “torcem pelo vírus”, o ministro fez uma espécie de cobrança pela divulgação de dados sobre doses de vacinas já aplicadas e do número de pessoas recuperadas da Covid-19.
No twitter, Faria, genro de Sílvio Santos, escreveu: “Em breve vocês verão políticos, artistas e jornalistas ‘lamentando’ o número de 500 mil mortos. Nunca os verão comemorar os 86 milhões de doses aplicadas ou os 18 milhões de curados, porque o tom é sempre o do ‘quanto pior, melhor’. Infelizmente, eles torcem pelo vírus”.
O ministro é quem negocia diretamente com a EBC (Empresa Brasil de Comunicação) a criação de um telejornal para a TV Brasil que irá exibir apenas “notícias boas”, levando ao ar apenas fatos positivos do governo e notícias “leves” sobre assuntos como saúde, comportamento e entretenimento.